Jeon Jungkook's P.O.V.
O Lamborghini Urus branco desliza depressa na estrada coberta pela chuva.
Concentro-me para segui-lo, porque Kwon Ji Yong dirige cada vez mais rápido, à medida que se aproxima do casarão. Isso aumenta minha tensão. Pressiono o volante do Porsche com força desnecessária, até os nós dos dedos ficarem brancos. Gotículas de suor se formam na testa, escorrem pelas têmporas. Miro o retrovisor e minhas íris tem sombras rubras. O ar denso no interior do veículo me sufoca.
Não sei porque ele me pediu para arrumar uma mala. Não sei se ele descobriu que namoro sua filha, quer me matar ou me expulsar de casa por isso, ou se simplesmente quer que eu o acompanhe em alguma de suas frequentes viagens a trabalho. Não sei nem ao menos identificar se ele está nervoso, triste, ansioso, enfurecido ou feliz. É impossível distinguir emoções no rosto de Kwon Ji Yong.
Ele sempre é sereno e controlado.
E isso é o que mais me tortura.
Porque sou uma bomba atômica em eterna contagem regressiva.
Em algum momento, a velocidade diminui. Os portões se abrem. Gotas de um temporal empossam a estradinha de terra, banham os campos gramados e se acumulam no interior da fonte à frente do casarão. Desço do carro debaixo de chuva e espero que os pingos gelados lavem meu desespero. Em poucos segundos estou encharcado da cabeça aos pés e o frio se enraíza em meus ossos.
As gotas chicoteiam as superfícies dos automóveis de luxo, criam uma fina camada de névoa borrifada, unem os sons metálicos à melodia desarmônica da tempestade. Um relâmpado corta o céu monótono e cinzento e eu mal consigo ver um palmo a frente do nariz. Então o vejo. Kwon Ji Yong desce do carro e afrouxa a gravata, retirando-a. Um trovão ressoa durante seu percurso até mim.
É um homem altivo, mais velho. Impõe mais que respeito em sua figura. Ele transpira poder. Seus olhos são fendas perspicazes e me percebem através da grossa camada de chuva. Seus lábios, encerrados como se escondessem segredos insondáveis, sorriem. Ele se aproxima com a ambição desmedida de um homem que já acumulou riqueza o bastante para dez gerações de Kwons.
Para de frente para mim, bate a mão em meu ombro ensopado, por cima da camisa grudada na pele.
— Não temos tanto tempo, então é melhor me escutar. — Diz à voz profissional, acima dos ruídos da chuva.
Engulo em seco.
O que ele quer de mim?
***
Kwon Sook's P.O.V.
As íris castanhas se acendem em contraste com a maquiagem discreta. Os cílios alongados desenham curvas, abrem o olhar. O batom vermelho colore minha boca e eu o fecho com um clique entre os dedos. Solto o coque que prendia meu cabelo e ele cai em ondas ao redor dos ombros, por cima do roupão de seda, espalhando o perfume de baunilha do leave-in que usei nos fios.
Perpasso os dedos pela gargantilha delicada, desenhada nas linhas da clavícula. O pingente solitário é um ponto de luz na pele.
Encaro meu reflexo. Analiso-me, como fiz mais cedo.
Vejo uma boa aparência, mas uma nova compreensão me faz notar que não sou apenas uma casca maquiada e ornamentada para seduzir alguém. Esse não é meu papel na história. Não sou a namorada de um cara. Sou alguém. Diferente de como me sentia mais cedo, antes me embebedar na magia fumacenta que me encorajou... Agora sinto segurança. Uma certeza que me faz fluir confiança de dentro para fora.
Não sinto medo. Não estou me entregando em uma bandeja de prata como uma Ômega submissa e amaldiçoada que precisa da piedade de um homem. Não quero ser marcada para que Jungkook me proteja de uma horda de Alfas. Eles que se ferrem. Se vierem até mim, enfrentarão as consequências, porque eu posso me defender sozinha. Wang Juran me disse isso.
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Girl Meets Evil
Romance[Não aceito adaptações desta obra] Nasci em Juggi, uma cidadezinha perdida na Coreia do Sul, mas a deixei por não suportar a dor da perda da minha mãe e da minha irmã mais velha. Appa e eu nos mudamos para Seul, que me acolheu e me reergueu como um...