Kwon Sook's P.O.V.
Tamborilo os dedos no granito escuro e frio do balcão da cozinha. Encosto-me ao banco, balançando os pés pendurados por não alcançar o chão. Ainda tento assimilar toda a história que Jackson me contou mais cedo.
Sinto-me conectada com cada passo em falso que ela deu e quase posso sentir sua dor. Acho que é isso o que chamam de empatia. Wang Juran foi uma mulher forte, que lutou contra tudo o que a afastava de sua liberdade. Lutou até exaurir suas forças, até não suportar mais sua própria existência. Até mesmo ao se entregar aos caçadores, manteve sua dignidade. Ela nunca baixou a cabeça para ninguém.
Eu só queria que ela não tivesse desistido.
Queria que ela tivesse uma mão para segurar, como eu tive em meus piores momentos. Queria que ela soubesse que não estava sozinha, que não era o fim, que a morte nunca seria capaz de acabar com sua dor, só a impediria de ter uma chance de ser feliz. Contudo, eu a entendo. Meu coração se aperta ao pensar que ela poderia ter sobrevivido se não estivesse tão... Sozinha. Tão isolada, abandonada por todos os que conhecia. É quando não penso mais no que eu queria, mas no que ela queria...
Juran só queria que alguém se importasse com ela. Que a visse como ela era. Que a amparasse e lhe estendesse a mão. Ela só queria alguém que lhe desse um cobertor quando ela sentia frio, alguém que a amasse e a respeitasse como ela merecia. Que dissesse que tudo ficaria bem. Porque, quando alguém se importa, a dor e o medo não se vão, os pesadelos não se acabam, o sofrimento persiste, mas...
...A vida torna-se mais fácil quando há um abraço.
Ninguém nunca o fez.
— Você quer cebolinha?
— Hm?
Jungkook está à frente do cooktop, onde há duas panelas cheias de água fervente. Uma cozinha ovos e a outra macarrão.
Ele ainda veste as roupas úmidas pela chuva que tomamos mais cedo, antes de entrar em casa. Seus cabelos, jogados para trás, deixam a testa e as sobrancelhas à mostra, em uma versão mais severa de seu rosto jovial. Seus óculos de grau estão parcialmente embaçados por causa do vapor das panelas. O sinal que ele possui logo abaixo do lábio inferior está em evidência por causa do leve bico que se forma na boca. Sua camisa grudada nos ombros revela as espáduas robustas e o peito rígido, em uma imagem contemplativa.
Jungkook segura uma faca em uma mão e um ramo de cebolinhas verdes na outra.
— Terra chamando Monstrinha. — Ele balança o ramo na minha frente e eu pisco. — Aish, é muito difícil ser irresistível. Você olha pra mim e perde até a voz.
— Você precisa renovar esse seu repertório de imbecilidades. — Arqueio a sobrancelha e Jungkook ri.
— Eu te vi olhando pra mim. Você quer tanto me beijar. — Ele assenta o ramo sobre uma tábua no balcão, ao lado do cooktop, e observa o fio de corte da faca. — Aish. Eu sou muito bonito.
— Você é muito idiota, isso sim. — Falo com um meio sorriso. — O que está fazendo? — Pergunto para mudar de assunto.
— Rámen? — Responde como se fosse óbvio, apontando para as panelas com a faca. — Você vai querer cebolinha?
— Eu sei que está fazendo rámen, eu estava perguntando... — Fito a água borbulhante nas panelas. — Aish, deixa pra lá. Eu quero cebolinha, mas duvido que isso que essa sua comida vai ficar boa.
— Monstrinha, se eu fosse você, não duvidaria de mim. — Ele inclina a cabeça, em um tique que possui quando é desafiado. Jungkook posiciona o ramo na tábua de madeira e o retalha precisamente com a faca.
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Girl Meets Evil
Romance[Não aceito adaptações desta obra] Nasci em Juggi, uma cidadezinha perdida na Coreia do Sul, mas a deixei por não suportar a dor da perda da minha mãe e da minha irmã mais velha. Appa e eu nos mudamos para Seul, que me acolheu e me reergueu como um...