Kwon Sook's P.O.V.
Lá fora, relâmpagos cortam o céu cinéreo e revelam o mal que repousa na parte mais sombria da tempestade diante de nós. Uma ameaça que ronda meu passado, presente e futuro. Agora que Jackson está prestes a me contar porque fui tão amaldiçoada, me preocupo.
É que eu sei que ele apontará cada rastro da depressão que nunca curei totalmente e que me apanha com suas garras obscuras de vez em quando, para me esquecer em um canto escuro... Sozinha. Desamparada. E é nessa tristeza crônica que eu só sei que existo porque sinto as lágrimas molharem meu rosto. Isso me aflige. Temo por me entristecer ao ouvir Jackson e abrir feridas antigas.
Porque minha tristeza é uma doença e, quando ela vem, a sensação é de um vazio que nunca cessará.
É como se uma guerra se desenrolasse em minha consciência para me consumir, como parasitas que roubam minha energia, vitalidade, alegria. Dói. Dói muito. Dói tanto quanto é possível doer. Me faz pensar que morrer seria mais fácil que aguentar. Dói como se alguém me surrasse todos os dias. Só que não há marcas visíveis. Hematomas, escoriações ou feridas purulentas para provar aos olhos o quanto dói. Nenhuma de minhas cicatrizes está à vista, por isso há quem não acredite nelas.
Somente eu sei o quanto são reais.
— Ei, Monstrinha. — Jungkook chama minha atenção. — Você está com aquela cara de quando a Cho-ah quer te obrigar a comer um prato inteiro de comida. — Ergo a cabeça para encará-lo. —Aigoo, parece que tem uma bacia de Kimchi na sua frente e você tem que comer tudo. — Estreito os olhos e bato em sua perna com um estalo sonoro. — Ai! Parece que tem escrito na minha testa: Saco de pancadas da Monstrinha!
— E na minha tem: Saco de piadas do Jungkook. — Empurro-o sem força e ele se senta ao meu lado, enfiando o dedo indicador em meu ouvido. Estapeio seu braço para que ele se afaste. — Para, imbecil. O Jackson tem que falar. — Jungkook assente, mas não se afasta. Ele retira os cabelos que escondem meu pescoço e se aproxima para inalar o ar perto de mim. Deixa um beijo na pele próxima ao meu ouvido, e eu tento empurrá-lo. — Jungkook... — Sussurro.
— Quer que eu pare de te beijar...? Aigoo... Isso vai ser tão difícil. — Murmura em resposta e eu resisto ao impulso de sorrir.
— Depois a gente se beija... O Jack tem que...
— Vocês continuam me atacando com esse amorzinho. — A frase de Jackson faz com que ambos ergamos a cabeça para fitá-lo. — Aigoo... São muito bonitinhos. É muito difícil não shippar vocês dois. — Minhas bochechas esquentam. — Mas, definitivamente, eu não nasci pra segurar vela pra ninguém. E você tem razão, prima. Eu tenho coisas pra falar. — Ele sorri enviesado.
Hesito em encará-lo e um peso invisível faz meus ombros cederem.
Engulo em seco e tento me blindar contra qualquer ameaça, em uma tentativa falha de parecer mais forte do que sou, mas sinto uma mão acarinhar meu braço e fito Jungkook de soslaio. Ele exibe um de seus sorrisos mais bonitos, longe daquela ironia ácida e do ar de descaso. Seus cabelos molhados se dividem em mechas e deixam pedaços de sua testa à mostra.
Os olhos se apertam com o sorriso e vincos se formam nas pálpebras inferiores, como marcas de expressão.
Seu olhar me cativa e me dá um aviso silencioso de que estamos bem, de que não estou sozinha. Eu sei que não. Tenho um companheiro, muito mais que um amigo que me ampara e não me deixa ser mágoa e angústia. Com a ajuda de pessoas queridas, ergo-me. Tomo uma dose de coragem para lutar por mim mesma e, com sorte, não mais chorar por feridas que não se fecham, que não se curam.

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Girl Meets Evil
Romansa[Não aceito adaptações desta obra] Nasci em Juggi, uma cidadezinha perdida na Coreia do Sul, mas a deixei por não suportar a dor da perda da minha mãe e da minha irmã mais velha. Appa e eu nos mudamos para Seul, que me acolheu e me reergueu como um...