[98] Jisoo.

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Min Yoongi's P.O.V.

Sinto-me como Alice caindo no buraco por onde o coelho desapareceu no momento em que a porta branca pintada com flores de cerejeira se abre e revela o interior deteriorado do quarto de Jisoo. Bastam alguns passos para dentro do cômodo e minha saudade súbita se transforma em algo sinistro. É que esse quarto se parece com o de anos atrás, mas é abandonado, escuro, sujo e sem vida.

O odor no ar frio mistura bolor e decadência.

Exala como podridão.

Há algo de sombrio aqui e isso me causa uma má sensação.

Tusso, cubro o nariz e a boca, e olho ao redor. Não consigo enxergar quase nada por causa do escuro, mas Lisa saca o celular e acende a lanterna. A luz bate e eu vejo os grãos de poeira flutuarem lentamente no raio que ilumina as cortinas pesadas que escondem as janelas e a porta da varanda. Então, descubro o que me causa o mal estar. O quarto se parece com uma ferida podre e infectada.

— Yoongi... — Lisa sussurra, aturdida. — Devia ser tão sujo...? Isso não é o tipo de coisa que passa despercebida em casa. — Assinto para concordar, porque ela tem razão. — Olha o tanto de infiltração... E tem is...

Paro de escutá-la para analisar o estado do cômodo.

É como se nós entrássemos em um portal para um mundo paralelo.

Uma versão macabra e real do país das maravilhas em que Alice se enfiou.

O papel de parede que decora o quarto já foi branco e pintado com as mesmas flores de cerejeira que adornam a porta. Agora ele está destruído nas partes em que o musgo não se desenvolve. Lodo e umidade mancham o teto e provocam infiltrações na estrutura, com inchaços e rachaduras por onde gotas de uma água lodosa pingam e formam poças no chão pantanoso, coberto por uma névoa sobrenatural.

Lençóis encardidos cobrem a mobília, exceto uma penteadeira antiquada que jaz no centro do quarto. O pano que deveria cobri-la está no piso frio abaixo da névoa e deixa o móvel à mercê do desleixo, cheio de teias de aranha. Só que, a despeito do aspecto de abandono do quarto, a penteadeira parece ter sido usada nos últimos tempos. O balcão empoeirado, ladeado por duas gavetas em cantos opostos, abriga um vidro de perfume rosado e uma escova de cabelos com cabo de prata. E eu sei a quem isso pertence. Jisoo.

Então, fito o espelho com moldura de madeira entalhada em arabescos discretos. Ele passaria despercebido, mas a imagem no reflexo chama minha atenção. A superfície suja e manchada reflete apenas a imagem de Sook. Isso poderia ser insuspeito, mas eu e Lisa também estamos no raio que o espelho deveria capturar. Ou seja, há magia. E meu instinto se inflama.

Há uma coisa estranha, para não dizer errada, aqui.

Contudo, quando abro a boca para alertar, um sopro aterrorizante corta minha nuca.

Um calafrio me atravessa e eu ergo o olhar do espelho negro para os fundos do cômodo, que Lisa ainda ilumina com a lanterna. As cortinas balançam, mesmo que não haja vento. Nenhum de nós se mexe e eu sinto a tensão crescente. A lanterna tremeluz e uma gota de água lodosa pinga em uma poça no canto do quarto, ressoando no silêncio sepulcral.

E esse é o momento em que eu sinto seu perfume.

Fios de poeira e fumaça sobrenatural se desprendem das cortinas e espiralam pelo ar embolorado. A luz da lanterna falha e se apaga, mas o escuro dura só um segundo, porque frestas de uma luz azulada desabrocham em cada partícula dos fios de poeira, se refletem nas espirais etéreas de fumaça e espalham auras brilhantes que explodem e reverberam nos lençóis, nas paredes embotadas de musgo e mofo.

Girl Meets EvilOnde histórias criam vida. Descubra agora