Jeon Jungkook's P.O.V.
— Há quanto tempo ele está dormindo?
Minha pergunta flutua no ar denso do cômodo. As cortinas cerradas mantém a penumbra confortável que acalenta o sono de Yoongi, prostrado em uma cama que, certamente no século passado, pertenceu a uma criança. Com as mãos enfiadas nos bolsos da calça social, caminho pelo quarto de "hóspedes" do apartamento de Seokjin Hyung e esquadrinho o lugar. Já estive aqui antes. Eu mesmo passei um Rut aqui, mas não consigo me acostumar com a atmosfera. Esse quarto me lembra solidão, dor e sofrimento.
É que tudo aqui cheira a passado. Os odores são de naftalina, encadernamentos antigos e verniz. Um pouco de bolor, talvez, por causa da pequena infiltração em uma das paredes conjugadas com o banheiro social. Toda a mobília é uma herança dos antepassados de Jin Hyung e suas formas arcaicas me lembram dramas de época.
Aproximo-me de uma cômoda de mogno escuro e envernizado, com puxadores de metal conservados, e analiso tudo o que há sobre ela. Frascos de vidro com líquidos coloridos, semelhantes a perfumes. Potes com unguentos e emulsões analgésicas e anti-inflamatórias, além de um bule com água ainda quente. O vapor fumacento que sai pelo bico de louça exala à uma leve combinação de ervas frescas.
Ergo o olhar para Taehyung, à espera de uma resposta. Meu amigo lobisomem está empoleirado sobre um baú de madeira austero, que substitui o guarda-roupas neste cômodo, e tem os olhos fixos no rosto desfigurado do nosso Hyung. Distraído, como sempre. Perdido no fantástico mundo de Tae. Pigarreio para fazê-lo voltar, e ele pisca.
— Há quanto tempo ele está dormindo? — Repito. Tae volta-se para mim e toma um fôlego longo demais.
— Vim pra cá depois da aula. — Sua resposta não me satisfaz e ele percebe. Taehyung confere a hora em seu relógio de pulso. — São cinco da tarde, então ele está dormindo há quatro horas. — Seus olhos recaem sobre Yoongi. O rosto pálido exibe manchas escuras por todo o lado esquerdo, e um corte feio no canto da boca. A área de um dos olhos também tem um hematoma azulado, com bordas amareladas e disformes. — Quando cheguei, ele estava almoçando. Estava abatido, com dores pelo corpo. Você judiou muito dele, Jungkook. Aigoo, eu entendo que ele tenha tentado atacar sua irmã, mas era necessário deixá-lo nesse estado?
A culpa súbita me deprime e me sinto mal pelo estado em que o deixei, mas, no momento da raiva, não me contive.
— Eu sei que exagerei. Quando ele acordar, vou pedir desculpa.
— É bom que faça isso mesmo. Assim, acho que ele vai entender o motivo da surra, mas... Olha a cara dele. — Taehyung aponta com o queixo. — Está parecendo um maracujá murcho. Jimin falou que ia trazer maquiagem da mãe dele pra amenizar os hematomas. — Os olhos dele se voltam para mim. — Imagina a cara do Yoongi se ele acordasse maquiado pelo Jimin.
Meus lábios se franzem quando tento prender a risada.
— Ia ser engraçado.
— Ele disse que vai passar por aqui mais tarde. — Taehyung escorrega os dedos do queixo ao maxilar. Seu semblante se abstrai, torna-se distante e obscuro como o crepúsculo. É quando percebo uma linha fina e mais clara na pele do rosto. É uma nova cicatriz. Pergunto-me como ele a conseguiu, apesar de ter uma suspeita. Durante suas transformações, a violência o toma por inteiro. — Yugyeom veio também, mais cedo. Até pensei em te avisar, mas estava no estágio, ia só se chatear à toa. — Sua voz ressurge e me tira do pensamento.
Quem?
— O que ele veio fazer aqui?!
— Saber se Yoongi precisava de ajuda. — Taehyung dá de ombros. — Foi uma visita rápida. Ele trouxe um pouco do inibidor que tinha em casa, e perguntou o que tinha acontecido. Namjoon falou por cima, mas ele pareceu preocupado. Perguntou se o Yoongi tinha atacado a Sook. Depois, ele pareceu preocupado com a própria reação, quando o cio dele chegar. Namjoon disse que ainda ia ver como resolver isso, porque acha que os feromônios de Ômega intensificaram o Rut do Yoongi e por isso ele saiu de controle.
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Girl Meets Evil
Romance[Não aceito adaptações desta obra] Nasci em Juggi, uma cidadezinha perdida na Coreia do Sul, mas a deixei por não suportar a dor da perda da minha mãe e da minha irmã mais velha. Appa e eu nos mudamos para Seul, que me acolheu e me reergueu como um...