[40] Amnésia.

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轉 - Tear

Jeon Jungkook's P.O.V.

Abro os olhos e respiro fundo. Estremeço, apavorado. Meu corpo inteiro dói. Sacudo a cabeça, tusso e engulo em seco. Minha garganta estala e eu passo a língua pelos lábios rachados. Exploro os vincos úmidos do lençol, que se estendem pelas laterais do meu corpo febril e cobrem meu rosto empapado em suor frio, salgado. Esfrego as pontas na pele escorregadia e quente das bochechas.

Sento-me e olho ao meu redor.

Meu despertador toca, desligo-o. Arrasto-me para fora da cama e me dirijo ao banheiro. Tiro a roupa e entro no box. Já debaixo do chuveiro, fecho os olhos e reflito sobre meus pesadelos embaixo da água morna. Ergo a cabeça. As gotas quentes colidem contra minha pele e a massageiam. Não é a primeira vez em que tenho pesadelos tão reais. Sei que nenhum desses sonhos é fantasia. Cada cena, sensação, ruído... Tudo parece ser um grande presságio que me assombra como se fantasmas tentassem se comunicar comigo.

E eles clamam, vociferam.

Apontam-me um perigo iminente, mas não consigo distingui-lo entre as sombras metafóricas.

Tudo o que sei é que, se há um perigo e seu alvo final é ela.

Não são apenas sonhos, são avisos.

Por isso, anoto-os no bloco de notas do celular. Sou seu protetor, ou sinto-me assim, inflamado pelo sentimento que nutro por ela. E é isso que eu faço depois de sair do chuveiro. Enxugo-me, me visto e me sento à escrivaninha. Saco o celular e abro uma página vazia no bloco de notas, para preencher antes de ir ao quarto da Monstrinha para acordá-la. Digito todas as lembranças que afligem minha mente.

화양연화 - As Notas (adaptado)
Por Jeon Jungkook

Suponho-me flutuar, no entanto é sobre o chão sólido que descanso. Entorpecido, não sinto nada por um tempo. Simplesmente não consigo abrir as pálpebras, meu corpo é tão pesado... Não consigo ao menos engolir ou respirar. Nada. Ao meu entorno tudo gradualmente escurece e eu perco a consciência. Então, de repente, meus músculos espasmam e eu estremeço. Desconheço a força que causou meu despertar, mas tudo volta.

Tudo.

Sinto sede e dor. Algo cintila além da minha visão embaçada por grãos de areia. Suspeito ser uma luz, mas não é. É brilhante, grande, reverbera além da escuridão ao seu redor. Flutua no ar sem nunca se mover. Admiro por um tempo. Lentamente, a aura leitosa torna-se mais consistente, até desvelar sua nitidez e se mostrar em seu esplendor.

É a lua.

Então o mundo vira de cabeça para baixo, ou sou apenas eu que me viro pelo avesso. Neste mundo, a lua também se pendura ao avesso, ou é um espelho. Apenas um reflexo. Tento tossir para respirar, sinto-me preso, não consigo me mexer. Então surgem os arrepios. Assusto-me, tento falar, mas minha voz não sai. Antes de perder a consciência outra vez, névoas de fantasmas vaporosos segredam-me ao pé do ouvido.

"A vida pode ser mais dolorosa do que morrer... Mas, você quer viver?"

Não fecho os olhos e, mesmo assim, a realidade se apaga, até sobrar as trevas, o mais profundo breu.

Contemplo a porta do quarto e largo o celular sobre um caderno. Respiro por entre os dentes, revivendo o horror do pesadelo. Esfrego o rosto na tentativa de afastar as memórias, a sonolência e o medo. Bocejo, dilato as narinas e cubro minha cabeça com o capuz. Tiro um embrulho com balas de menta e uma barra de Snickers da gaveta da escrivaninha, enfio no bolso do agasalho e vou até a porta.

Girl Meets EvilOnde histórias criam vida. Descubra agora