[06] Ressaca

9.5K 1.1K 687
                                        

Kwon Sook's P.O.V.

Galhos de roseiras franzinos e cheios de espinhos pontiagudos engolem rostos familiares. Vozes suplicam por ajuda entre estalidos de galhos que serpenteiam ao seu redor. É alto, horrível, doloroso. Tento ajudá-las, mas meus pulsos estão presos a ramos de um salgueiro enorme. Vejo, ouço o desespero, mas as folhagens da árvore me acariciam e tampam meus ouvidos, meus olhos.

O sofrimento vira um eco distante.

Quero correr na direção dos pedidos de ajuda. Não consigo... só pode ser um sonho. Repito para mim mesma, para me acalmar. O aperto das folhagens se abranda e a imagem que vislumbro me congela. Suor, sangue e lágrimas escorrem na pele de porcelana dos rostos. A expressão de terror não combina com a beleza delas. Seus lábios pedem perdão repetidamente, mas sua prisão é cruel. Fogo se alastra pelos galhos da roseira. Reconheço-as entre as chamas que crepitam e murcham os espinhos.

Omma... Jisoo... Por favor... Não... NÃO! NÃO!

As línguas de fogo e espinhos lambem minha pele e o calor se expande. De repente é como se eu trocasse de lugar com elas, e me afogo no incêndio que me dilacera devagar. Vejo dois fantasmas ao longe. Elas me pedem para resistir, não desistir. Você não está sozinha... Não está. Não! NÃO!

NÃO!

Acordo.

Minha cabeça lateja e minha garganta arranha quando tento engolir uma saliva que não existe. Toco minha testa empapada em suor e tusso. Meus olhos estão pesados e abri-los exige um esforço que não estou disposta a fazer, é como se houvesse areia dentro das minhas pálpebras. O sabor acre de ressaca e sono amarga minha boca. Imagens do sonho me atordoam e eu tento despertar.

A pouca luz do quarto me perturba e eu me cubro da cabeça aos pés com um edredom. A sensação de tristeza bate contra meu coração e aperta meu interior. Ouço a porta ranger e os passos rápidos na minha direção são como marteladas em minha testa.

Meu crânio inteiro dói.

— Sook?! — Srta. Jeon segura meu ombro com força e puxa meu edredom. Ela fala baixo, mas é como se estivesse usando um megafone. Faço uma careta e cubro os olhos, com as marteladas insistentes na testa. — Estava gritando... Teve pesadelo de novo? — Confirmo.

— Estou passando mal...

— Querida... — Ela toca minha testa com suavidade e recolhe meus cabelos grudados no pescoço suado. Sinto o peso de seu corpo sentar-se na cama e ela me acaricia. — O que está sentindo? — Não faço qualquer esforço para me mexer ou abrir os olhos, porque não quero que ela pare. Sinto-me cuidada, como não sentia há muito tempo. — Comeu algo na festa que pode ter causado isso?

Lembranças da noite anterior surgem. O carro de Jungkook, o olhar de Taehyung, a dança com Yoongi, a garrafa de Soju... e um branco total.

— Não sei... — Sussurro rouca. Solto um gemido e me cubro com o edredom. Preciso conversar com Jungkook e saber o que aconteceu.

— Hm... Vou pedir uma sopa, você vai se sentir melhor quando comer. — Srta. Jeon sai do quarto.

Novas lembranças emergem em minha cabeça. Uma conversa com Yoongi perto da piscina. Ele estava tão bonito... Lembro-me de estar em seu colo, em algum momento. Eu fiquei com Yoongi? Não. Com certeza, não. Eu me lembraria disso. Sorrio suave e descubro minha cabeça. Pela fresta da minha porta, consigo ver a de Jungkook, fechada. Ele deve estar dormindo. Depois eu... Sento-me em um sobressalto e baixo o olhar. Não visto meu pijama, e sim uma camiseta preta e muito maior que eu.

Engulo no seco e agarro a gola, com medo. Ergo-a até o nariz e aspiro o ar, fazendo uma careta.

É o cheiro dele.

Girl Meets EvilOnde histórias criam vida. Descubra agora