Jeon Jungkook's P.O.V.
Escoro os cotovelos nos joelhos, curvo as costas para frente e junto os punhos fechados na testa, entre os cabelos. Aperto os olhos fechados, enrugando a pele ao redor, e solto o ar pela boca. As memórias recentes ainda me atormentam e eu me concentro para não parecer abatido. Se demonstrar fraqueza agora, não serei capaz de apoiá-la e ser seu porto seguro.
É que as sombras dos meus pesadelos e as ameaças que ela sofreu martelam minha cabeça com um instinto, um pressentimento de que algo está, definitivamente, errado. Esse sentimento se alastra por minhas entranhas, causa um vazio incômodo e eu não consigo relaxar. Não consigo. Arfo, angustiado, e me levanto da cama. Enfio as mãos nos bolsos da calça jeans e giro em círculos pelo cômodo branco.
Esquadrinho as estantes organizadas com livros e álbuns de K-pop, cadernos na escrivaninha e quadros com rotinas. Caminho até uma das portas que leva à varanda e observo o céu fechado, lá fora. Nuvens pesadas e escuras avançam no céu branco. A brisa tremula os galhos das árvores no pomar. Um corvo pousa no parapeito da varanda, balança as asas e crocita com o bico afiado e entreaberto.
Migalhas de alpiste voam ao seu redor.
— Vai chover, né? — A voz da Monstrinha me desperta e eu me viro. Ela ainda tem o semblante abatido, como se estivesse enjoada, mas traz um estojo de maquiagem em uma das mãos. Caminha até seu espelho e começa a pintar o rosto pálido com cuidado. — Você viu quantas crianças são? Aish... Eu não levo o menor jeito, mas vou tentar. — A Monstrinha despeja um creme na pele, deixando-a uniforme, sem as olheiras discretas. — Vou só fazer uma maquiagem, vestir a fantasia e nós podemos descer.
— De jeito nenhum. — Retiro as mãos dos bolsos e me sento, aparentemente tranquilo, na poltrona perto da porta da varanda.
— Como assim, de jeito nenhum? — Ela me olha por cima do ombro, com um pincel na mão.
— De jeito nenhum. — Dou de ombros e me espreguiço. — Eu já chamei o Tae e o Jimin pra me ajudar. A gente dá conta. — Sorrio com o canto da boca, mas ela ainda me olha em protesto. — Monstrinha, você não está bem pra cuidar de crianças. Acredite em mim, precisa de muita energia pra lidar com aquela tropa de mini-demônios. Você tem que descansar. E precisa assistir o Tae com crianças de camarote.
Sook estreita o olhar.
— Eu prometi pra sua mãe e... Bem, eu sei que atrasou, mas ainda é o pagamento de um castigo.
— Que se foda esse castigo, Monstrinha. — Rio, ainda que o incômodo revire minhas entranhas. — Você vai ficar sentadinha lá no jardim, embaixo de um guarda-sol, tomando uma brisa e comendo o lámen que a Cho-ah está preparando. Sem fazer esforço, pra melhorar logo. E se chover, vai entrar pra não pegar um resfriado. E sem reclamar, porque você ainda não está bem. — É a vez de ela rir.
— Certo, Appa. — Ela fala debochada e se vira para o espelho.
— Appa? — Ela fala poucas palavras, mas eu sorrio. Elas indicam que o humor da Monstrinha se refaz aos poucos. É quase um alívio em meu desconforto, porque ela está melhorando. Assim, tomo a liberdade de brincar com ela também. — Quando estiver melhor eu te mostro quem é o Appa. — Alfineto e me levanto da poltrona.
— Vai me mostrar? — Ela ri e passa um pincel pela bochecha. Atravesso o quarto e busco minha fantasia na cama, um macacão amarelo com capuz e orelhas de coelho. — Esqueceu da greve? Porque eu não esqueci. — Ergo a cabeça e a miro pelo reflexo no espelho. Ela arqueia a sobrancelha e eu estalo os lábios, com um muxoxo.
— Aish. Pensei que tinha desistido dessa bobagem. — Jogo o macacão por cima do ombro e paro atrás dela. Passo as mãos por seus ombros e volto a fitar seu reflexo. Aos poucos, a maquiagem a reaviva suas cores e a deixa com um aspecto mais saudável. — Não pode fazer uma greve de sexo por causa do Yugyeom. Por favor. É ridículo e é exatamente o que ele quer. Aigoo, Monstrinha. Nós já conversamos sobre isso. Não pode me punir por querer te proteger. Não faço isso porque não confio no seu poder, eu...
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Girl Meets Evil
Romance[Não aceito adaptações desta obra] Nasci em Juggi, uma cidadezinha perdida na Coreia do Sul, mas a deixei por não suportar a dor da perda da minha mãe e da minha irmã mais velha. Appa e eu nos mudamos para Seul, que me acolheu e me reergueu como um...