Jeon Jungkook's P.O.V.
Então é verdade que o vazio é feito de medo?
Se for, há lógica em sentir medo do que é desconhecido.
É que há momentos na vida em que sinto que os caminhos que se abrem diante das minhas escolhas são incertos como passos sem direção, no vazio. Ou como tiros sem um alvo no escuro, no vazio. E o resultado de avançar nesse terreno desabitado é o medo de fazer a escolha errada. Nesses momentos, a única certeza que tenho é a de que, eventualmente, escolhas são inevitáveis e fazê-las me tornam mais experiente. Ainda sinto medo de errar e ter que lidar com as consequências de uma escolha errada, mas preciso enfrentar isso para viver.
A verdade é que pensar sobre isso me maltrata agora, porque nunca refleti ou quis lidar com os efeitos de um mal feito. Isso nunca foi uma preocupação para mim. Sempre fui agressivo nas minhas investidas, impulsivo demais para pensar. Beirei a masculinidade tóxica em várias ocasiões, como se ser um macho Alfa babaca fosse o único jeito de me afirmar, até que uma garota teimosa e inteligente me mostrou que eu não posso controlar tudo o que acontece ao meu redor, que preciso pensar antes de agir.
Ser inconsequente e agressivo destrói mais que constrói.
Assim, aprendi a pensar antes de agir e escolher.
E, por isso, comecei a sentir medo do que escolhi.
Contudo, à medida que Yoongi Hyung, Lisa e a Monstrinha partem para o casarão sem mim, me acalmo. Observo-os desaparecer por um corredor largo e extenso, contra a luz cegante na recepção, ao longe. Meu olhar se perde entre as pessoas que vem e vão em torno deles e eu me seguro a um pensamento como alguém se segura em uma boia no alto mar. À contragosto, preciso admitir que eles sabem se cuidar sem mim. Entre todos os Alfas que conheço, Yoongi é o mais frio e perspicaz. Lisa tem uma inteligência impressionante.
E Kwon Sook é a pessoa mais forte que eu conheço.
E eu... Eu tenho meus deveres a cumprir aqui.
Eles podem se virar sem mim.
É a essa frase que me agarro. Repito-a em silêncio e desvio o olhar do corredor para a claraboia de vidro no teto do jardim de inverno entre os prédios do Hospital Geral de Juggi, espaço que os pacientes em recuperação usam para fazer pequenas caminhadas "ao ar livre", e os funcionários usam para descontrair a cabeça nos dias de trabalho mais complicados. Admiro os reflexos melancólicos e cinzentos que atravessam as placas de vidro entreabertas e ouço os silvos do vento que entra pelas frestas.
Lembro-me que o sol intenso que queimou a cidade com seus tons de ouro no amanhecer se abrandou e rastros de nuvens pesadas mancham o levante, encobrindo a manhã ensolarada, aquietando o dia que prometia ser de calor. Está nublado. E eu ainda sinto esse leve desconforto que sobrecarrega meus ombros, mas tento aliviar a tensão de não ter mais a Monstrinha sob minha vigilância, de não sentir mais o perfume de caramelo e baunilha por perto. Enfio as mãos nos bolsos do jeans e contemplo o jardim à frente.
Respiro o ar orvalhado entre árvores, arbustos que ladeiam as trilhas de pedra e trepadeiras com rosas vermelhas que se erguem pelas paredes nas laterais do jardim. Há um corvo pequeno pousado em um galho com poucas folhas. O bicho move a cabeça para os lados e balança as penas, abrindo as asas negras como se estivesse se espreguiçando. Ele abre o bico longo e preto e crocita algo parecido com uma voz feminina. Quase sorrio. Já vi corvos treinados imitarem qualquer timbre, qualquer voz, qualquer barulho de outro animal.
Baixo o olhar para as pedras da trilha que se estende por caminhos no jardim. A imagem da Monstrinha passa por minha memória de novo, e eu tento não pensar nela com preocupação. Lembro-me de tudo o que fizemos na noite anterior e meu coração palpita, mudando a frequência. Lembro-me das palavras que trocamos, dos toques e olhares, de tudo o que compartilhamos, da promessa que fiz a ela quando a marquei. É amor que você lê em meus lábios quando sorrio, é minha alma que você vê quando te olho e canto pra você.

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Girl Meets Evil
Romance[Não aceito adaptações desta obra] Nasci em Juggi, uma cidadezinha perdida na Coreia do Sul, mas a deixei por não suportar a dor da perda da minha mãe e da minha irmã mais velha. Appa e eu nos mudamos para Seul, que me acolheu e me reergueu como um...