Kwon Sook's P.O.V.
O céu funde tons de laranja, róseo e lilás. O azul pálido da noite que surge no oriente. O sol rasteja no horizonte e colore as nuvens em dourado. O ar bafeja correntes mornas e orvalhadas, ondula as cortinas. Os cristais do lustre tilintam e as folhas dos cadernos farfalham. A penumbra dificulta a visão da página do exercício de trigonometria. Levanto-me e acendo as luzes. Volto a me sentar ao lado de Lisa e a observo resolver mais uma questão. Ela fas operações mentalmente, tão rápido que precisa refazer no papel, para que eu acompanhe.
— Posso resolver isso com uma regra de três?
— Sim! E leve isso pra sempre. Na dúvida, faça uma regra de três. — Lisa aponta para o caderno. — "Meios pelos extremos" pode salvar vidas. — Ela ri.
— Olha essa piada... — Encaro-a e nós rimos. — Você é muito nerd.
— Monstrinha, vim conser... — A porta se abre brusca e temos um sobressalto. O que vislumbramos a seguir é uma imagem arrebatadora. Os olhos predadores percorrem o cômodo e pairam sobre nós. As palavras rareiam em seus lábios úmidos e desaparecem incompletas. — Ah. Oi, de novo, Lisa.
— Oi, Jungkook.
Uma das mãos segura a maçaneta, a outra segura a alça de uma caixa grande de metal. As veias saltam e serpenteiam nos braços robustos. Uma camisa branca e molhada pende em seu ombro desnudo. Os músculos salientes se vincam e esculpem suas espáduas, o tórax e o abdome por baixo da pele parda, que transpira brilhante e exposta. O cós frouxo da bermuda de treino deixa uma faixa discreta de sua roupa íntima à mostra. Há suor em suas têmporas, que gruda algumas mechas escuras de cabelo na testa.
As maçãs do rosto têm um rubor quente e eu me pergunto que esforço ele fez para chegar aqui assim.
Jungkook está sujo, suado, parece exausto, mas é espantosamente bonito.
Então abre a boca de novo e é o mesmo idiota de sempre.
— Quem te vê assim, pensa que gosta de estudar, Monstrinha.
— Nunca disse que gostava. — Retruco de mau humor. — O que tá fazendo aqui?
— Vim arrumar sua porta, mal agradecida. — Ele ergue a caixa de metal sem dificuldade, apesar de ela ser pesada. Arqueio a sobrancelha e cruzo os braços. Jungkook ri. — Essa é a hora que você diz: Obrigada, Kook-ah, acelga do meu kimchi. — Rio.
— Não faz mais do que sua obrigação, imbecil. — Entoo com descaso ensaiado e Jungkook me mostra seu dedo do meio, com um sorriso. Ele deixa a caixa de ferramentas aos seus pés e a empurra para dentro do quarto. — Estou estudando, agora.
— E eu não posso fazer isso depois. — Ele retorque.
— Aish.
— Quer ficar com a porta quebrada? — Ele rebate e eu suspiro. — Foi o que pensei.
Jungkook nos dá as costas e começa seu exibicionismo. Estica os ombros e contrai os músculos dos braços. As costas são largas e bem desenhadas, com linhas que descem rijas até a região lombar. Ele se agacha e analisa o estrago na fechadura, gira a maçaneta e bate com os dedos no mecanismo de trava. Meu "irmão" abre a caixa de ferramentas e pega uma chave de fenda, soltando os parafusos.
Faz seu trabalho atento, com mãos habilidosas.
Reparo que prolongo demais o olhar absorto sobre suas ações e pestanejo. Pigarreio baixinho e me volto para Lisa que, assim como eu, acompanha os movimentos de Jungkook, abobada. Quero rir, porque o imbecil conseguiu tirar nossa concentração. Dou-lhe uma cotovelada e ela se assusta, me olhando aturdida. Aponto para o caderno com uma caneta e ela sorri desconcertada.
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Girl Meets Evil
Romance[Não aceito adaptações desta obra] Nasci em Juggi, uma cidadezinha perdida na Coreia do Sul, mas a deixei por não suportar a dor da perda da minha mãe e da minha irmã mais velha. Appa e eu nos mudamos para Seul, que me acolheu e me reergueu como um...