[44] Singularidade.

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轉 - Tear

Jeon Jungkook's P.O.V.

As nuvens rajam o céu nublado.

Pássaros negros cortam o branco com o bater de asas ensaiado, sumindo na linha irregular do horizonte marcado pelos bosques de folhagens sepiáceas que se desprendem das árvores e se aglomeram às margens das rodovias que levam à Seul. Em meu estado contemplativo, conduzo o Porsche pela estrada e espalho as folhas secas que insistem em invadi-lo, faço-as flutuar por entre as brumas fumacentas, para retornar ao chão.

O cheiro de almíscar, baunilha e caramelo flui ao meu redor e me transporta para o limite da racionalidade. Minhas reações são instantâneas. Minhas entranhas se reviram, aquecem, borbulham em uma sensação leve como as folhas que caem das árvores. Embriago-me dela em um amor incontido e praguejo.

Pensei que o namoro escondido seria fácil, mas não é. Porque eu queria segurar sua mão para andar na rua, dividir meu lanche com ela, na escola. Queria levá-la para jantar em algum lugar legal e comprar-lhe chocolates no dia branco. Queria poder apresentá-la a minha mãe e conhecer seu pai sem ser chamado de filho. Queria abraçá-la ou beijar seu rosto em público, sem ser condenado.

Ter o direito de não esconder que a amo, agora que sinto que ela me ama também.

Contudo, tenho que fingir que ela não é minha namorada para todos.

É um fardo cansativo, mais uma verdade que escondo.

— Jungkook.

Pestanejo no momento em que a ouço me chamar e olho-a de soslaio. Devaneei. Oh-oh...

— Hm? — Espero por sua fúria.

— Aigoo! EU SABIA! Você não estava me ouvindo de novo!

— Aish, Monstrinha. Eu estou olhando a estrada!

— Você está preocupado com alguma coisa e não quer me dizer. E se for algo que eu possa ajudar?! — Aperto os lábios fechados. Não quero discutir. — Não quer dizer?! Tudo bem. — Ela cruza os braços e fita a paisagem através do vidro. Volto-me para frente, na esperança de que ela mude de assunto. — Você é um idiota.

— Mas, que diabos! — Bato a mão direita no volante.

— Vai ficar bravo, agora?! Resolveu falar?

— Sook, você pode me deixar em paz por um segundo?! Eu só estou pensando! Pensando!

— Te deixar em paz? — Fita-me de esguelha, visivelmente magoada, e inclina a cabeça. — Certo.

Sook se abaixa e toma a bolsa que jazia aos seus pés. Ela retira o iPod e os fones de ouvido de um dos bolsos e os conecta, isolando sua audição. Puxa o diário do bolso e o abre, folheia algumas páginas como se procurasse um outro detalhe que lhe tenha escapado de alguma forma, desde a primeira vez em que leu sobre Wang Juran.

Vinte minutos escorrem em silêncio absoluto e a Monstrinha é inflexível. Ela lê mais uma página do diário. Os únicos ruídos que ela produz são o folhear, os estalos do encadernamento antigo e o zunido da música nos fones. Minha cabeça lateja e eu regrido a velocidade, às portas da zona metropolitana de Seul. Solto a mão do volante e puxo um de seus fones, deixando-o pender em seu colo.

Volto-me para a estrada. Confiro as placas para tomar o rumo correto e me encaminhar para a faixa que nos levará ao distrito de Gangnam. Olho de relance para ela, que me observa com os lábios selados. Sua boca se curva para baixo e eu reviro os olhos. Deslizo as mãos pelo volante e solto uma para esfregar os dedos nos cabelos da nuca.

Girl Meets EvilOnde histórias criam vida. Descubra agora