Jeon Jungkook's P.O.V.
Gotas de chuva chicoteiam as paredes envidraçadas da sala de estar do apartamento e enevoam os parapeitos das sacadas, o chão das varandas. O céu de Seul está encoberto por nuvens carregadas, entrecortadas por relâmpagos. Os sons da água batendo nos telhados e dos trovões intermitentes zunem alto nos ouvidos, com seu chiado constante e pacífico.
Atravessamos o corredor central do apartamento depois de ultrapassar as portas.
Eu, a Monstrinha e Jackson tiramos os sapatos encharcados no vestíbulo e seguimos em direção à sala. Deixamos as caixas que trouxemos da loja sobre um dos sofás que ornamentam a sala de estar. Acabamos de chegar da loja de decoração de festas para buscar as encomendas do Chá que Omma quer fazer antes de seu casamento com o Sr. Kwon.
— É muita coisa, não vai caber na mala minúscula do seu carro. Você deveria pensar à respeito. — Jackson fala pela enésima vez, ao deixar uma das caixas no chão. Ele passa os dedos pela testa para retirar o excesso de água. — É um conselho de amigo, Jungkookie.
— Eu vou ver o que faço. Qualquer coisa, peço ao Hong pra levar na caminhonete dele. Ele sempre viaja de Seul pra Juggi nas segundas-feiras. — Retiro o casaco preto e úmido e o deixo sobre o balcão da cozinha. Fito Sook, que retira o excesso de água dos cabelos encharcados, e me aproximo dela. Não deixei de notar que ela não tocou no almoço. — Quer um chocolate quente?
— Não, obrigada. — Ela responde. O nervosismo latente em seu rosto quase me desconcerta, mas me lembro que sua inquietação é fruto da presença de Jackson aqui. — É melhor você trocar de roupa... Vive gripado, com alergia, fungando e coçando esse nariz sensível. — Ela aponta para o corredor dos quartos e eu rio.
— Você vai mesmo fazer o papel de minha mãe?
— Ei, vocês podem parar com o namoro aí? — Jackson abana as mãos no ar. — É muito bonitinho, mas eu estou aqui.
— Vai logo trocar de roupa, Jungkook. — Ela estapeia meu peito e se vira para o primo, com um olhar ressabiado. — Jack, eu tenho um assunto pra tratar com você e não posso esperar mais. Precisamos conversar e acho que é urgente. — Há um ar de gravidade na voz. — Não sei se você sabe, mas...
— Se vocês querem me comunicar que estão mesmo namorando, fizeram tarde demais. Está evidente nas caras de vocês dois. — Jackson sorri e tira o próprio casaco. Ele procura uma poltrona de couro para se sentar e o faz. Cruza a perna, apoiando o tornozelo direito no joelho esquerdo. — Não fizeram muita questão de esconder de mim, e não adianta me olharem com essas caras de inocência. Vocês são muito fofos juntos. Aigoo!
— Quê?! Não! — A Monstrinha se exaspera e dá alguns passos na direção da sala, conjugada com a cozinha pelo longo balcão ao qual quase nos encostamos. — Quer dizer... Pra você eu posso contar que, sim, estamos namorando, mas não é esse o assunto que quero tratar com você. É outra coisa. — Suspiro e caminho para a sala, para apoiá-la. Sento-me em uma outra poltrona de couro, puxo um pouco a calça úmida e afasto os joelhos em uma posição mais confortável. — É bem delicado, na real.
— Ah... Tudo bem. Mas, tomem mais cuidado em Juggi. Não podem agir como dois idiotas apaixonados na frente dos seus pais e dos seus colegas na escola. Olha a cara do Jungkook, amor. — Jackson aponta para mim e eu recebo todos os olhares da sala. Ergo a cabeça para ela, que me entrega um sorriso carinhoso. Sorrio em resposta. Nosso momento é cortado pela risada de Jackson. — Vocês querem me matar com tanta fofura. — Ele junta as mãos no rosto e nós o encaramos. — Então, amora, qual é o assunto?
— Ah... Aish, sim. É sobre Jisoo. Ela escreveu uma carta pra mim no dia em que... — A Monstrinha caminha lentamente até minha poltrona, com o olhar vago. Sua voz torna-se hesitante. — No dia de seu último aniversário.
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Girl Meets Evil
Romance[Não aceito adaptações desta obra] Nasci em Juggi, uma cidadezinha perdida na Coreia do Sul, mas a deixei por não suportar a dor da perda da minha mãe e da minha irmã mais velha. Appa e eu nos mudamos para Seul, que me acolheu e me reergueu como um...