Girl Meets Evil

[75] Acabou.

Kwon Sook's P.O.V.

Destaco a pílula anticoncepcional da cartela e a jogo na boca. Bebo o resto de água no copo que deixei na mesinha de cabeceira, para ajudar a engolir o comprimido, e conto quantos dias faltam para acabar o ciclo na cartela. É minha rotina religiosa e mecânica. Tornou-se um hábito tão familiar, que nem preciso do alarme do celular para me lembrar.

Guardo a cartela e fito o reflexo no espelho. Ajusto o broche de jade que prende meus cabelos em um coque. Tiro uma fotografia com a câmera frontal do celular e posto no Instagram, para movimentar a rede social esquecida. Guardo o aparelho no bolso da mochila, respiro fundo e tento abstrair a ansiedade com a prova de história. Tenho consciência de que estudei e fiz tudo ao meu alcance.

"Vou conseguir". É o mantra que repito ao sair do quarto. Avanço pelo corredor escuro, com paredes carmesins e quadros emoldurados em arabescos. Medito sobre tudo o que aconteceu comigo desde que voltei a essa maldita casa, e como isso me roubou da normalidade. Há tantos problemas na minha vida, que o menor deles é meu namoro escondido com meu futuro-meio-irmão.

Sou Bruxa e uma Ômega amaldiçoada. Sou descendente de bruxos poderosos e minha antepassada, Wang Juran, foi a ruína misteriosa de caçadores de bruxas terríveis, que passaram a perseguir seus descendentes em busca de vingança e libertação. Esses caçadores mataram Omma e Jisoo, e me perseguem silenciosamente. Não sei quem são, ou quão perto estão de mim. Fantasmas se abrigam em cômodos trancafiados da minha casa e sussurram segredos que preciso descobrir para acabar com meu sofrimento.

Todos esses problemas tentam me derrubar, mas vou vencer essa guerra. Para isso, preciso de força e equilíbrio. Pratico luta, magia e concentração. Faço exercícios de resistência e estudo sobre A.B.O. e feitiçaria. Além disso, me dedico para recuperar as médias na escola. Para me distrair, encho meu diário com notas e poemas, leio os livros em minha estante e na biblioteca, além das Fanfics nos aplicativos de celular. Mas, a melhor parte do meu dia ainda é Jungkook.

É a mais curta também.

— Filha? — Ouço a voz de Appa quando abro a porta da frente e viro a cabeça para encontrá-lo no corredor. — Bom dia, querida.

— Bom dia, Appa. Está bonitão com esse terno. — Curvo os lábios para baixo e ele ri, formando discretas marcas de expressão nos cantos dos olhos.

— Tem um tempinho? Preciso falar com você.

— Sim, minha aula é no segundo horário. Prova de história. — Dou de ombros, e me lembro de que vou com Sehun, porque Jungkook teve que sair com a mãe antes de ir à escola, para resolver algo do Chá de Lingerie que acontecerá mais tarde. — Sobre o que quer falar?

— Sobre você. — Sua testa se franze e ele ergue a abotoadura do paletó e da camisa, olhando a hora em seu Rolex prateado. — É sobre o que me pediu. Morar em Seul outra vez. — Ele pigarreia e coloca as mãos nos bolsos da calça alinhada em seu talhe elegante.

Minhas entranhas se reviram.

— Ah... Ah sim. E o que...

— Eu pensei sobre o assunto.

— E...?

— Acho que é muito nova pra morar sozinha, mas também sei o quanto odeia essa casa, a cidade, as memórias. — Ele torce os lábios. — Acredite, eu também odeio. Inclusive, as obras de reforma na casa nova já estão quase concluídas, pra que possamos nos mudar logo depois do casamento. — Appa mexe as mãos no ar. — Mas, eu sei que você quer voltar pra Seul. É lá que estão seus amigos, certo? O Jackson, o Mark, seus colegas antigos. Eu sei. E fico feliz de saber que está se preocupando com seu bem-estar e com o futuro.