[61] Rut.

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Kwon Sook's P.O.V.

Estou diante do monstro de olhos vermelhos. É ele. Eu sei. Reconheceria esses olhos em qualquer lugar. Eles me perseguiram por anos em que me culpei pelas mortes de Omma e Jisoo, um fardo pesado demais para uma criança carregar sozinha. Naquele tempo, meu coração não batia, só se partia. Esses olhos me assombraram, julgaram, feriram. Eu nunca os esqueceria.

E agora que sei a quem eles pertencem, não acredito. Ódio, medo e confusão se misturam, reviram meu estômago. Sinto gosto de bile, estou prestes a vomitar. Sou incapaz de conceber que Yoongi é um assassino. Não pode ser. Ele é meu amigo, alguém em quem confio. Ele brincava comigo, me ajudava com os deveres, me dava doces quando nos visitava. Ele me protegia.

Não pode ser um assassino. Ele nos amava. Amava Jisoo.

E eu o amo como um irmão.

Memórias de quando tudo desmoronou ressurgem. A melancolia me atinge como um tiro. Uma dor que não cessa e que sangra. Algo me diz que meu tormento está longe de terminar.

***

Flashback: Capítulo 32.

— Aconteceu no meio da festa. Eu brincava no salão com outras crianças e me escondi em uma das varandas, com o parapeito de frente pro jardim. Fechei a porta e fiquei atrás da cortina. Aí eu vi... Eram olhos... Vermelhos. Os arbustos entre as árvores estavam escuros, mas eu vi. Lá estavam aqueles olhos. Acho que ele percebeu que eu o vi e sumiu no escuro. [...] Pensei que o tivesse afugentado. Eu era tão inocente. Pensei que talvez fosse coisa da minha cabeça, um reflexo nos olhos de um animal... Um cachorro, um gato. Não me faria mal.

Flashback: Capítulo 32.

Vi Yoongi Oppa parado à porta do salão. Ele vestia um smoking alinhado e preto, com uma gravata borboleta. Seus cabelos escuros estavam penteados para trás. Ergueu o pulso da manga da camisa e do paletó, conferiu a hora em seu relógio prateado. Escondeu as mãos nos bolsos da calça e esticou o corpo para ver o corredor além das portas do salão.

Não havia expressão em seu rosto, mas eu sabia que ele estava angustiado.

Flashback: Capítulo 32.

Corri pelo salão. Passei por Yoongi com rapidez e avancei pelo corredor. Fitei as escadas quando me aproximei do vestíbulo, mas as portas escancaradas me atraíram. Ultrapassei a varanda e encostei os dedos no parapeito. Ergui-me nas pontas dos pés para conseguir enxergar o jardim da propriedade. [...] Lembrei-me dos olhos vermelhos do monstro que vi mais cedo. Foi quando percebi. Já ouvi falar sobre a morte.

Dizem que ela leva as pessoas embora para nunca mais devolver.

Flashback: Capítulo 15.

Lembrei-me dos olhos vermelhos que vi entre os arbustos do jardim na noite infernal do último aniversário de Jisoo.

Eu devia ter contado o que vi, dizer a Jisoo que havia algo errado e pedir a Omma e Appa para chamar a segurança. Não fiz por medo e me convenci de que era apenas minha imaginação. Só me dei conta do erro quando desci a escadaria e vi a água da fonte tomada pelo sangue. Encontrei os corpos de Omma e Jisoo e corri. Mergulhei na água vermelha e manchei meu vestido branco.

Toquei seus rostos, elas não sorriram. Gritei, elas não ouviram. Chorei, elas não me abraçaram.

Naquele dia eu conheci o mal.

Flashback: Capítulo 32.

De repente, doeu. Doeu muito. Meus olhos se encheram e transbordaram, minha cabeça latejava numa dor sem nome. Não havia chance de trazê-las de volta. Era tarde demais. Senti saudade, ainda que elas estivessem bem aqui, porque sabia que a morte as havia levado e era para sempre. A eternidade dura tempo demais.

Girl Meets EvilOnde histórias criam vida. Descubra agora