[88] Invisível.

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Jeon Jungkook's P.O.V.

Conto os detalhes do que aconteceu acomodado em uma poltrona na sala de estar do apartamento, com uma caneca de chá na mão. Sinto o peso da história ao ver os olhares perplexos sobre mim. Há um misto de preocupação e assombro nos rostos dos Hyungs, e eu tento manter o foco para falar com coerência. À medida que avanço, as emoções se desenham nas expressões deles.

Hoseok tem a boca aberta e suja por bagaços de batatas chips. Yoongi mantém um vinco entre as sobrancelhas.

A tensão percorre a sala e se instala em nós.

— Ela realmente desafiou o pai assim? — Yoongi parece apreensivo.

Aceno que sim.

Encosto os cotovelos nos joelhos e baixo a cabeça. Minhas têmporas doem. Fito o conteúdo fumegante do chá. Meu corpo inteiro dói, mas não é físico. É como se tivessem arrancado uma parte de mim e a sensação que fica é de vazio. Aperto a porcelana entre os dedos e faço uma careta. Tudo volta. As vozes, a atmosfera de agonia. As lembranças martelam minha mente. Solto um suspiro cansado e o vapor que espirala da caneca dá voltas no ar. Ouço uma risada nervosa e levanto os olhos.

— Cacete. É muita coragem. Gandalf que me livre. Mano... Ela peitou o cara que ela achava que era um caçador? No lugar dela eu teria ficado todo cagado. Descobri outra espécie que eu não fecho. Morto, barata, robô e caçador. Já imaginou se...

— Ele entrou em casa, Jungkook? — Yoongi interrompe Hobi Hyung com urgência.

Aceno que sim outra vez.

— Entrou. — Digo. — Mas, isso não quer dizer que eu confie nele. — Bebo um gole do chá e o sabor agridoce se acumula na minha língua. — Desde que o Sr. Kwon abriu a porta de casa, eu percebi que tinha algo muito estranho. — Fecho os olhos por um instante e vejo toda a cena outra vez. O escuro, o vento frio e impiedoso entre nós. O zumbido estressante de todas as luzes da casa se acendendo e se apagando. O olhar magnético de Sook, seu corpo cheio de poder. A tensão de Kwon Ji Yong.

Seus passos hesitantes para dentro do casarão.

O alívio em seu rosto quando os pés tocaram o vestíbulo, ilesos.

Tudo o que veio depois.

— Tá, mas, pelo menos, ele não é um caçador. — Yoongi relaxa no sofá, com um suspiro fundo e pesado. — Então por que está aqui, e com esse corte no rosto? — Ele aponta para a própria bochecha.

Pigarreio.

— Depois que o Sr. Kwon entrou em casa, deixou claro que queria que nós nos separássemos. Ele disse que a gente precisava se afastar pra ter alguma chance de salvação no final. Disse que a gente era um alvo fácil de abater e que nós tínhamos que ficar longe um do outro. — Passo a língua pelos lábios e solto a caneca. — Aí, eu decidi fazer o que seria melhor nesse momento. E fiz.

— Você terminou com a Sook? — Yoongi pressiona, quase me repreende.

Meneio a cabeça.

— Claro que não, tá ficando maluco?

— Então o que você fez? — Ele franze o cenho. — Aish. Diz logo, Jungkook.

— Eu...

***

Mais cedo, nessa mesma madrugada...

— Caralho. — Praguejo pela enésima vez. — Caralho...

Minha cabeça gira e gira e gira sem parar.

A dor se instala nas têmporas, cria uma tensão no pescoço, nos ombros e nas costas. Mesmo assim, não paro. Divido meu tempo curto entre arrumar a bagagem, olhar a porta fechada do quarto de vez em quando e conferir as notificações de mensagens no celular. Jogo algumas roupas na mochila, uma bolsa pequena com produtos de higiene pessoal e separo um carregador de celular, meu notebook e alguns livros da escola. Faço uma lista mental de tudo o que preciso e avalio.

Girl Meets EvilOnde histórias criam vida. Descubra agora