[15] Verdades.

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Kwon Sook's P.O.V.

— Eu acho que é meu inimigo. — Provoco.

Minha intenção é ver algum lampejo de irritação em Jungkook, mas encontro uma indiferença cínica.

Ele saboreia cada segundo de tensão entre nós. Assente, tamborila os dedos no peito nu e musculoso. Cerca-me como se eu fosse uma presa indefesa. Recordo-me que vampiros estão mortos e, segundo o livro, são frios como cadáveres. Jungkook, por sua vez, tem o corpo tão quente e vivo quanto o meu. Ou seja, segui um instinto falso. Errei em minha dedução e me precipitei em confrontá-lo.

Se não é um vampiro, não sei o que ele é.

Tento não fraquejar ou soar vulnerável, mas lágrimas formam muralhas em meus olhos, embaçam a visão. Lembro. Lembro que Jisoo me pedia para não ler certos livros da biblioteca, Omma desligava a TV em determinados programas e filmes. As memórias giram e convergem para que eu nunca tenha nenhum contato com o sobrenatural. E, depois da morte das duas, tudo ligado ao misticismo me causou aversão.

Nunca questionei esse sentimento e talvez esse seja meu pecado. Agora estou diante do desconhecido e não sei me defender, tola e desarmada. Baixo a cabeça, envergonhada. Ergo minha mão, fito o anel de ouro branco cravejado com rubis que pertencia a Omma, vermelhos como os olhos de Jungkook. Outra lembrança reprimida pelo trauma, muito mais devastadora, sopra meus olhos.

Derruba as lágrimas que aprisionei.

Lembro-me dos olhos vermelhos que vi entre os arbustos do jardim, na noite infernal do último aniversário de Jisoo.

— Monstrinha...?

Os reflexos rubros me assombram. A sensação de impotência me encurrala como naquela noite em que fugi do ser estranho. Eu devia ter contado o que vi, dizer a Jisoo que havia algo errado e pedir a Omma e Appa para chamar a segurança. Não fiz por medo e me convenci de que era apenas minha imaginação. Só me dei conta do erro quando desci a escadaria da varanda e vi a água da fonte tomada pelo sangue. Encontrei os corpos dilacerados de Omma e Jisoo e corri. Mergulhei na água vermelha e manchei meu vestido branco.

Toquei seus rostos, elas não sorriram.

Gritei, elas não ouviram.

Chorei, elas não me abraçaram.

Naquele dia eu conheci o mal.

Gritos reverberaram por trás do meu desespero e a música da festa parou. Alguém tentou me afastar da fonte, mas empurrei, me abraçando aos corpos, chacoalhando-os. Supliquei para que elas não me abandonassem, me afundei na água para ir com elas. Eu era apenas uma criança com medo. Alguém me retirou do fundo da fonte e depois... não lembro de mais nada. Nos funerais lotados de curiosos senti-me exposta como um animal digno de pena, ou um criminoso recebendo sua condenação.

Culpei-me pela morte delas.

Por mais que me dissessem que eu era apenas uma criança, que não poderia fazer nada, eu sabia. Poderia evitar o que aconteceu. As consequências daquela fuga foram nefastas. Despedi-me delas cedo demais, para sempre. Quis morrer também, para não me sentir tão solitária. Odiei o ato de respirar sem elas e os pesadelos começaram. O remorso quase me engoliu.

Lágrimas vertem por meus cílios e queimam meus olhos.

— Não está com medo de mim, né? — Ouço o murmúrio muito longe. — Para de chorar... — Algo sacoleja meu corpo, permaneço inerte. Sou má, um estorvo que, por medo, permitiu que a mãe e a irmã morressem. — O que você tem, Monstrinha? — Sinto-me suspensa, e uma superfície macia me acolhe logo depois. — Se acalma. Eu não sou a porra de um vampiro, tá? Aish, não queria te assustar... tanto. Era brincadeira. — Queria que elas me perdoassem. Encolho-me e abraço meus joelhos. — Ei... Olha pra mim. O que você tem?

Girl Meets EvilOnde histórias criam vida. Descubra agora