[62] Culpa.

5.2K 520 569
                                    

Jeon Jungkook's P.O.V.

A luz do sol penetra as janelas quebradas por entre as cortinas rasgadas e molda as silhuetas do casal cercado por fragmentos de vidro brilhante. Eles trocam confidências, conversam perigosamente próximos, compartilham o mesmo oxigênio. Se unem em uma atenção que despreza o mundo exterior, numa sintonia que os afasta de tudo o que o ar consegue tocar. É poético, exceto pelo fato de que os protagonistas são minha namorada e o cara que ela gostava antes de ficar comigo.

Meus dedos se arrastam pelo tapete áspero e o sentimento de ofensa me invade. Mal consigo ouvir as palavras que ambos trocam, porque a proximidade de suas bocas me desconcerta. Meus ouvidos zumbem, pulsam e vibram em uma agitação que não se abranda e só me torna mais furioso. Engulo, mas a saliva não é suficiente para lubrificar minha garganta arranhada. Travo o maxilar e me levanto em um impulso de separá-los. Jin Hyung me segura e me impede de avançar pela sala para apartá-los.

— Bebê... Eles precisam falar. Deixe.

A fúria pulsa em meu peito, comicha em minha pele.

— Precisa ser tão perto? — Retruco, ríspido.

— Deixe. — Jin Hyung insiste.

Não respondo.

Fico quieto e me concentro em ignorar a imagem à frente para não enlouquecer. Inalo o ar denso e tento sossegar minha pulsação, mas identifico uma ameaça silenciosa e entro em estado de alerta. Meus sentidos se sensibilizam. Enxergo cada detalhe da sala e sou capaz de ouvir até mesmo os movimentos de Hobi Hyung no andar inferior. Meu olfato se aguça e as notas tóxicas golpeiam minha cabeça.

O ar é infestado pelos odores dos feromônios ativos do Alfa. Conheço essa essência. Não é a fragrância natural de um A.B.O., é mais poderoso e hipnótico. Não para mim, mas para Ômegas. E tudo se esclarece. Os sinais que Min Yoongi expôs desde que invadiu o apartamento são cristalinos. Nada disso pertence a ele. O suor excessivo, a pulsação acelerada, a respiração descompassada, a agressividade descabida, a atitude inconsequente e impulsiva.

Ele jamais brigaria comigo, ou responderia às minhas provocações. Riria de mim, me chamaria de imprudente, infantil, e teria algum ensinamento sobre autocontrole na ponta da língua para dizer. Ele pode ser qualquer coisa, menos insensato. Yoongi está visivelmente alterado, em seu pior momento de embriaguez, o cio do Alfa, o Rut. E inala o mais poderoso alucinógeno para seus genes, os feromônios adocicados de uma Ômega sensível em contagem regressiva para atingir seu cio, o Heat.

Não posso permitir que ele se aproxime assim da Monstrinha.

Minhas pupilas se dilatam ao ponto de ferir a visão.

Minha adrenalina nasce do medo.

— Jin... Jin Hyung... — Minha frequência cardíaca atinge o limite. Vibro, inquieto, e tento avançar. Jin me detém com o auxílio de alguma magia. Tento me soltar com um grunhido. É inútil. Entro em desespero. Ninguém parece perceber o que há, e eu busco os rostos de Namjoon e Jin. — JIN HYUNG, O YOONGI ENTROU NO CIO, NO RUT! ME DEIXA IR! — Vocifero.

Os olhares de terror súbito se voltam para mim.

Namjoon corre para fora da sala e Jin me solta, impactado.

Do outro lado da sala, Yoongi segura o rosto da Monstrinha com as duas mãos e roça o nariz no dela.

Sei que a atração que os conecta é irracional e irresistível, mas vê-los assim aciona uma fúria que jamais senti. O caos predomina em mim. Sou feito de ciúme e mágoa. Minhas mãos tremem tão intensamente que os ossos estalejam e as garras crescem. O calor que se alastra em meu interior flui como uma música nervosa e barulhenta, com arrepios que eriçam os poros. Não quero só gritar, bater, ofender. Quero acabar com essa merda de uma vez.

Girl Meets EvilOnde histórias criam vida. Descubra agora