Capítulo I

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Todos os dias passava pela mesma rotina solitária e aborrecida para muitos: acordava, tomava banho, vestia-me para ir trabalhar, voltava para casa e enroscava-me debaixo das minhas mantas quentinhas e fofinhas a ver uma série Tailandesa ou Coreana. Recentemente tinha adotado uma pequena gatinha branca e felpuda chamada Kitty, de uns olhos azuis escuros intensos, depois de a ver abandonada dentro de um caixote, na rua. Nevava tanto que não fui capaz de ignorar, não quando sabia que morreria de hipotermia, fome ou sede... Bem, e eu precisava de alguma companhia, os meus pais já tinham falecido e o meu melhor amigo, o Jin hyung era quem me restava. Por incrível que parecesse, o Jin era um Beta excêntrico, carinhoso e simpático, facilmente confundível com um ómega até alguém o provocar e pisar o calo. Aí ele transformava-se por completo. Por vezes era assustador.

Como crescemos juntos, foi ele que me protegeu quando na escola os outros alfas e algumas ómegas gozavam comigo, porque ainda não sabia se era Omega, Alfa ou Beta. Muitas vezes era chamado de Lobo Solitário e a verdade é que eu chorava todos os dias acreditando no que os outros diziam... Até ao dia em que o meu cheiro antes neutro se tornou adocicado. O Jin vivia a vida a dizer que não conhecia Ómega, principalmente masculino, com um aroma tão agradável, atraente e forte como o meu. E isso era algo que me trazia muitos problemas a mim e a quem vivia à minha volta se não mascarasse o meu cheiro: os alfas praticamente atiravam-se na minha direção, dopados pelos instintos.

Claro que depois do cheiro foi a vez de o meu corpo mudar, ganhando alguns traços femininos. As minhas coxas ficaram mais grossas, o meu rabo redondo e nada discreto, a minha anca ligeiramente mais larga... Também nunca tinha passado pelo Cio ou encontrado o meu parceiro. Para culminar, o meu rosto parecia uma réplica do da minha mãe: bochechas gordinhas, olhos grandes e castanhos e uns lábios cheios e rosados.

Foi assim que, como sempre e por ser incapaz de me impor perante fosse o que fosse, antes de ir para a Jeon passei primeiro pela uma cafetaria tradicional onde o Jin hyung trabalhava para ir buscar os cafés de quem trabalhava comigo no departamento de vendas. Eu tinha de ser paciente, começara a trabalhar lá há cerca de dois meses. A Jeon era líder do mercado de publicidades e Marketing em toda a Ásia, um verdadeiro gigante da bolsa nacional e internacional. Esta era a minha oportunidade..

- Jimin! Toma, prova! - Nem tive tempo de o cumprimentar ou fazer o meu pedido, depois de correr para não chegar atrasado. Simplesmente fez-me comer um bolinho que acabara de fazer. Não havia melhor pasteleiro em toda a Seoul sem margem para dúvidas, era por isso que as pessoas faziam fila à porta da cafetaria e para levar encomendas. E parecia que eu era o degostador preferido do Jin hyung. - Que tal?

- Delicioso... - E era realmente como dizem uma festa na boca, artifícios por todo o lado de sabores tão diferentes mas tão harmoniosos. - Hyung tens os cafés prontos?

- Ai, Jimin! Já te disse que isso não é trabalho é escravidão. Sabes que é perigoso.

- Sei, mas eu preciso da minha independência. Além disso, não posso viver de graça na casa do meu hyung preferido. - Agarrei nos cafés dentro das sacolas que pousou em cima do balcão e estiquei-me sobre a superfície para dar um beijo na sua bochecha em agradecimento. Em troca, bagunçou os meus fios de cabelo com uma sorriso familiar e acolhedor. - Até mais logo!

- Cuidado!

E outra vez corri até à empresa, subi até ao andar do departamento onde trabalhava, no departamento financeiro, e mal cheguei comecei a ouvir ordens para lá e para cá enquanto distribuía os cafés. Pelo que tinha observado, ninguém funcionava no seu pleno antes de beber uma boa dose de café preto. O ambiente era tendencialmente caótico, com pessoas para trás e para a frente ao telefone, a carregar dossiers e teclarem nos computadores e portáteis como se fosse o fim do mundo. Como era o que estava há menos tempo ali, a minha função era levar o café e almoços, organizar os dossiers e tirar fotocópias. Além disso, ao final do dia era o único que ficava depois do fim do horário de trabalho para fazer o trabalho que faltava. Não era que não apreciasse a aprendizagem, porém todo o ritmo era enlouquecedor. Para não falar que estava sempre em alerta.

Command (Vminkook)Onde histórias criam vida. Descubra agora