Capítulo 16- Amor em quatro estações

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ANNE

Era o primeiro dia de férias, e Anne encontrava-se sentada embaixo de sua cerejeira, lendo um livro. Olhou para cima e admirou os ramos cheios de flores, embora a primavera já tivesse acabado, e o sol impiedoso do verão já começasse a tornar os dias cada vez mais quentes, sua cerejeira se mantinha majestosa e perfumada.

Adorava passar horas ali, sem fazer nada, deitar a cabeça nas folhagens que se amontoavam junto ao tronco, olhando o céu azul e observar as nuvens que formavam figuras engraçadas como se contassem uma história cheia de personagens incomuns. Perdia-se no tempo, enquanto sua mente vagava pelo mundo da imaginação e dos sonhos, não existiam limites para onde iam seus pensamentos, o mundo que via diante de seus olhos era só seu, e ninguém se atreveria a incomodá-la nesses seus momentos de paz interior.

Via algumas vezes Marilla a observá-la de longe, abanando a cabeça consternada, depois se afastava voltando aos seus afazeres. A menina sabia o que ela deveria pensar, pois vezes sem conta, ouvira-a resmungar, que já era tempo de Anne se comportar como uma mocinha, pois sua infância já tinha sido deixada para trás há algum tempo, e ela precisava crescer e esquecer suas fantasias de menina.

Anne não se importava com o que Marilla dizia, sempre sorria, e guardava para si seus doces pensamentos. Se pudesse não cresceria nunca, manteria dentro de seu coração seu espírito de Peter Pan, e viveria em um estado de felicidade infinita. Mas a menina sabia que a máquina do tempo não perdoava, e mais alguns anos estaria vivendo no mundo dos adultos e teria que aprender a guardar aqueles momentos em uma caixinha de lembranças, e abri-la somente uma vez ou outra quando se sentisse cansada de tentar entender a insensatez do ser humano.

Um barulho de asas tirou-a de seus pensamentos, e viu que um beija flor colorido se aproximara de uma das flores da cerejeira, sugando-lhe o pólen com seu bico imenso, depois voou para longe, deixando Anne encantada com sua beleza. Fechou o livro que estava lendo e pensou na última semana que passara. As provas finais tinham sido aplicadas naqueles dias, por isso tivera que estudar muito, e quase não tivera tempo para outras coisas que não fossem os livros, embora certas lembranças insistissem em desviar sua atenção dos estudos, e a menina tivesse que fazer um esforço enorme para não se deixar levar por elas.

A imagem de Gilbert e o dia da peça vieram-lhe a cabeça, deixando-a inquieta, ela então pegou uma mecha do próprio cabelo e começou a trançá-lo nervosamente, em seguida levantou-se do chão e se sentou em um banco embaixo da janela de seu quarto.

Estaria mentindo se dissesse que não adorara encenar Romeu e Julieta com Gilbert. Embora, tivesse sido pega de surpresa pela situação, sentira-se maravilhada por interpretar uma personagem tão incrível como Julieta. Fizera-o com seu coração, e a segurança que Gilbert tinha lhe transmitido em cena, fora responsável por sua falta de inibição. Sabia que tinha certo talento para papéis dramáticos, afinal, sua vida sempre girara em torno de livros de romance dramático, então colocar em prática essas fantasias não era tão difícil para ela. Só que sempre o fizera na segurança de seu quarto, ou quando contava para Diana e Ruby algumas dessas histórias.

Nunca tivera um público tão grande observando-a, e quando pisara no palco, o medo a invadiu momentaneamente, mas assim que seus olhos pousaram em Gilbert, seu receio se fora, e conseguira dar a cada ato o tom de emoção exato, e o resultado fora a chuva de aplausos e elogios que recebera. È claro que Gilbert tinha sua parcela de responsabilidade no sucesso da peça. Ele fora um Romeu perfeito, o tom que dera a cada fala de seu personagem fez Anne acreditar que estavam mesmo em Verona, vivendo um amor impossível.

Porém, quando tudo acabara, a ruivinha tivera que descer das nuvens e voltar a realidade dos fatos. Tinha se afastado do menino, deixando o caminho aberto para Ruby, e de nada adiantava fantasiar sobre coisas que não mais aconteceriam. Fez uma careta ao pensar nisso, e nem mesmo a lembrança do beijo que ela e Gilbert trocaram quando ele a seguira após a peça conseguia alegrar seu coração. Fora o calor do momento, por estarem tão envolvidos pela magia da história que encenaram juntos, que fizera com que se jogassem um nos braços do outro.

Anne with an e continuação da sérieOnde histórias criam vida. Descubra agora