Capítulo 120- Um novo paraíso

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Olá, pessoal. Boa leitura. espero pelos comentários. Beijos

GILBERT

De todos os sentimentos que Gilbert pensara ter naquela manhã ao acordar ainda abraçado a Anne no quarto de hospital, com certeza, impotência não era um deles, entretanto, era o único que prevalecia naquele momento em que sua felicidade estava de novo ameaçada. Talvez fosse esse tipo de situação ou mesmo emoção que fazia um moribundo ou doente terminal dar mais valor à vida, ou apreciar pequenas coisas que no dia a dia são tão pequenas que passam despercebidas. Ele não era bem uma coisa e nem outra, mas se sentia como se estivesse com um pé no paraíso e outro na danação total.

Tais pensamentos o fizeram olhar para a mulher em seus braços com um misto de amor e inconformidade. Anne estava linda e tão serena, como se não tivesse recebido nenhuma notícia que colocasse em risco sua maternidade tão desejada ou mesmo sua vida. Em momentos assim, Gilbert desejava não estar estudando medicina, e não saber os perigos contra os quais Anne teria que lutar nos próximos meses se quisesse que a vida que crescia em seu ventre tivesse uma chance de vir ao mundo, sem que ambas perecessem. Seria uma luta de vida contra a morte, e a morte contra a vida, e mesmo que o médico de Anne tivesse amenizado o problema todo, tanto ele quanto Gilbert sabiam sob qual sentença a cabeça de sua esposa estava naquele momento.

Olhar para ela enquanto em seu sono tranquilo, ela sequer podia imaginar a batalha que se travava no íntimo de Gilbert, lhe dava vontade de chorar. O rapaz sabia que deveria ser forte mais uma vez pelos três, por si mesmo, por Anne e por Rilla. Gilbert sentiu uma fisgada tão profunda em seu coração ao pensar na filha tão pequenininha que estava por nascer, que sentiu vontade de gritar como um animal que tivesse levado um tiro certeiro.

Como poderia um anjinho tão puro ter que lutar para sobreviver antes mesmo de ter visto a luz do dia? E o que ele como pai poderia fazer a não ser observar e rezar para que ela vencesse sozinha uma provação tão dura?
A lembrança da felicidade de Anne ao contar que estava grávida o fez olhar para ela novamente, e se admirar mesmo com seu coração em frangalhos com tanta beleza.

Ele desceu o dedo indicador devagarinho por cada traço do rosto como se fizesse um rascunho de cada detalhe em suas próprias digitais. Havia tanto de Anne nele, que Gilbert achava impossível conseguir viver sem ela algum dia. O sentimento corria forte em suas veias como se o mero fato de respirar fizesse seu íntimo se encher da presença dela. Ele nunca pensara na razão de tanto amor que o fazia desejar ter super poderes para livrá-la de mais um calvário que seria sua vida nos próximos meses, porque sempre aceitara aquela emoção como algo natural de acontecer quando uma alma se reconhece na outra, e a sua sempre fora o espelho da de Anne desde o princípio, embora ele fosse muito novo naquela época para entender que ambos eram como a lua e sol, a chuva e o arco íris, água e fogo, opostos tão iguais, cara e coroa da mesma moeda.

Gilbert passou seu polegar na linha do queixo de Anne, enquanto seu olhar apaixonado não perdia um milímetro que fosse dos contornos da face daquela mulher a quem ele nunca possuíra totalmente. Havia partes da personalidade de Anne, que ela mantinha só para si, e Gilbert respeitava o fato de ela desejar ser completamente livre em sua essência. Eles se pertenciam, o amor que sentiam os unia como se fossem uma só pessoa, mas eram indivíduos sem amarras em seu corações, pois quando o amor era verdadeiro, ele libertava o ser humano de qualquer prisão, sem impor, exigir, ou enganar, e seu amor por Anne o libertara de seus preconceitos e de suas mágoas pela perda da mãe, e depois a morte de seu pai, a angústia de ter concebido um outro filho, e de sua vida ter sido interrompida sem que ele soubesse de sua existência.

Mas, como ele poderia fazer uso dessa liberdade, e deixar que Anne se fosse, caso essa possibilidade lhe fosse cobrada? Como poderia criar uma filha se tivesse perdido a mãe? Após ter vencido tantas barreiras e lidado com mais sofrimento do que pudesse se lembrar, como a vida podia lhe cobrar mais essa conta? Ele se levantou da cama devagar e caminhou pelo quarto por tantas vezes que teria feito um buraco no chão de tanto nervosismo. Gilbert não queria se lembrar que fora dessa maneira que seu pai perdera a mulher que amava, e também fora assim que Bash quase perdera Mary, mas por pura sorte ou força de vontade extrema, ela conseguira se salvar, mas, mesmo com essa casualidade feliz, Gilbert sabia que tinha muito com o que se preocupar.

Anne with an e continuação da sérieOnde histórias criam vida. Descubra agora