Capítulo 90- Duas partes de um coração partido

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Olá, queridos leitores. O que posso dizer desse capítulo é que o escrevi inteiro com um nó na garganta. Quero que apenas pensem em uma coisa, ninguém é totalmente bom ou totalmente mau. Todos nós nos sentimos vulneráveis em algum momento de nossa vida, e duvidamos de nós mesmo, mesmo quando não temos motivos para isso. O ser humano é complicado, e nossas mentes nos pregam peças que muitas vezes não sabemos explicar, o que sentir, mas, é isso que torna tudo incrível, porque a cada dia que renasce nos dá a chance de recomeçar, perdoar, corrigir erros, e tentar encontrarmos a melhor versão de nós mesmos Eu sinceramente não sei o que vão achar desse capítulo, espero que comentem e que tenham a certeza que o escrevi com toda verdade do meu coração, e se ficou bom somente vocês poderão me dizer. Beijos, e muito obrigada.

ANNE

Era um daqueles dias de inverno em que o sol aparecia preguiçosamente no céu, mas ainda assim o efeito era incrível depois de dias de chuva intensa. As árvores pareciam risonhas por receberem a carícia tímida dos raios, e as nuvens que carregaram a alma das pessoas com sua cor cinzenta abriam espaço para o azul claro ainda sem ser intenso, mas que alegrava os olhos de quem perdia um minuto do seu tempo para observar a alegria calma que aquele dia parecia proporcionar.

Anne Shirley Cuthbert ainda não tinha voltado seus belos olhos para aquela manhã em questão, porque ela sentia uma inquietação estranha dentro de si, enquanto tentava trançar os cabelos que de forma nenhuma parecia obedecer- lhe os dedos habilidosos, acostumados a fazerem aquele tipo de penteado por anos a fio. Sua imagem no espelho a desafiava a melhorar a aparência dos fios que teimavam em escapar caindo sobre seus olhos, enquanto ela bufava cada vez mais impaciente, seu peito subindo e descendo em uma mostra clara de seu estado de humor nada favorável naquele dia.

Ela acabou se cansando de brigar com os cabelos e foi para a cozinha tomar seu café, pois dali a alguns minutos ela e Gilbert teriam que deixar o apartamento e irem para a Faculdade. Gilbert estava no banho, por isso, ela estava sentada na mesa da cozinha brincando com a colherzinha que usava para adoçar o café com leite que tomava todas a as manhãs, girando-a dentro da xícara como se fosse um cata vento, desenhando formas estranhas no líquido marrom que se movimentava de um lado para outro. A torrada amanteigada jazia intacta em seu prato assim como o cereal que ela sequer tocara. Não sentia animação nenhuma para comer, e não conseguia entender exatamente porque. Acordara naquele humor azedo, como se nada fosse bom o bastante para alegrá-la, ou fazê-la se sentir melhor.

Era verdade que tinha passado por maus bocados a alguns dias, quando encontrará Ruby na rua e o trauma da perda do seu bebê a pegara de surpresa, jogando-a no abismo fundo da depressão, mas, como sempre, seu matador de dragões a resgatara da dor, da auto piedade, arrastando-a da escuridão para a luz, e assim, Anne recobrara seu equilíbrio e tiveram um fim de semana incrível juntos, e Anne conseguira finalmente conversar com Gilbert sobre todos os seus sentimentos relacionados ao seu aborto espontâneo, e os dias terríveis que se seguiram aquele fato, enquanto ele permanecia em coma, alheio a qualquer coisa que não fosse sua inconsciência., porque todas as vezes que falaram sobre sido, Anne mantivera parte de seu sofrimento nas sombras, por ser-lhe insuportável lembrar, sentir sem chorar, e também confessará a ele o quanto sentira falta do abraço dele naquela época, de suas palavras consoladoras e de seu perdão por ele ter se ferido para salvá-la. Essas eram coisas que ela falava na terapia, mas nunca as confessara de maneira tão crua e sincera a Gilbert. Ela tinha aberto finalmente todas as portas de seu martírio interno, e Gilbert acolheu-a em seus braços sem julgamento, sem mágoa, sem vacilar um segundo sequer em suas palavras carinhosas. Eles precisavam disso para colocar um ponto final nas pontas soltas que ainda a incomodavam daqueles dias infelizes, daquele luto infindável por seu filho perdido, e todas as consequências negativas as quais ela sentira na pele em seu exílio solitário de sentimentos, e dessa forma ela desnudara sua alma, jogara para fora o horror, o desespero, Anne se desfizera de seus esqueletos no armário, dos seus demônios atrás da porta que ela alimentara durante tanto tempo pelo medo de que se os encarasse de frente, não seria forte o bastante e seria engolida pela sua fragilidade, sua covardia em seguir em frente, e pela sua solidão interior.

Anne with an e continuação da sérieOnde histórias criam vida. Descubra agora