Capítulo 10- Sentimentos à deriva

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ANNE

O domingo era um dia sagrado para o Cuthberts. Levantavam-se ao raiar do dia, colocavam suas melhores roupas e partiam logo após o café da manhã em direção à igreja da cidade. E aquela manhã não seria diferente, pois exatamente às sete horas da manhã Marilla entrou no quarto de Anne, tentando acordá-la a tempo de se arrumar para sair com eles.

- Vamos Anne, acorde. Precisa se vestir para irmos à igreja.

Anne abriu os olhos ainda sonolentos e perguntou à Marilla:

- Que horas são?- bocejando esperou pela resposta.

- São sete da manhã.

- O que? Sete da manhã? Ah, não, me deixe dormir, Marilla, é cedo demais. - e então cobriu a cabeça na esperança de que pudesse ficar mais um pouco na cama.

- Anne, levante-se de uma vez. Não temos tempo a perder. Não posso ficar o dia inteiro esperando por você. - disse Marilla impaciente.

-- Tenha piedade de mim, Marilla. Preciso dormir ou vou ter uma síncope no chão deste quarto. - disse Anne ainda de olhos fechados.

- Não seja dramática, menina. Ninguém morre de sono, agora vamos logo com isso. Te espero lá embaixo em cinco minutos

Assim que Marilla saiu, Anne se levantou devagar resmungando. Não era justo ter que acordar tão cedo em pleno domingo. Será que Marilla não sabia que adolescentes precisam de mais horas de sono, pois gastavam muita energia estudando e fazendo outras atividades próprias da idade? Poxa vida, era domingo, o dia perfeito para dormir até tarde e não fazer nada. Ainda mais porque estava exausta pelas emoções do dia anterior, e não tinha se recuperado totalmente de tudo o que havia ocorrido entre ela e Gilbert.

Pensar nele fazia-a suspirar sonhadora. Jamais pensara que pudessem se dar tão bem, se divertir juntos e conversar sem brigar, curtindo a companhia um do outro. Ela descobrira que Gilbert era alguém muito agradável de se ter por perto, ele sabia como agradar uma garota, fazendo-a se sentir realmente especial. E o jeito como ele costumava olhar para ela causava estranhos calafrios em sua pele, como se fosse fogo sobre gelo,. Não podia esquecer-se daqueles beijos divinamente perfeitos que eram mais doces que o néctar dos deuses, pois se havia uma coisa que Gilbert sabia fazer bem além de encantá-la com seu sorriso era beijar, e Anne esperava desfrutar daquele talento de Gilbert ainda muitas vezes. Ele jogara sobre ela seu feitiço e agora a ruivinha não conseguia se imaginar estar com aquele garoto sem saborear seus beijos deliciosos.

A voz de Marilla interrompeu seus pensamentos, fazendo-a dar um salto assustada.

- Anne, quanto tempo você vai demorar ai em cima? Não quero chegar atrasada para o culto.

- Já estou indo, Marilla. - e rapidamente colocou um vestido branco, sapatos azuis e nos cabelos colocou uma tiara também azul combinando com os sapatos. Cinco minutos depois já tomava seu copo de leite e saía com Matthew e Marilla.

Quando entraram na igreja, Anne observou que nada tinha mudado muito desde o dia em que estivera ali pela primeira vez, e assim que o pastor começou a falar, ela percebeu que o culto estava mais solene e cada vez mais longo. Anne sempre imaginara que os cultos de uma igreja deveriam ser alegres, com canções que exaltassem o espírito e atraíssem pessoas de todos os lados causando boas vibrações. Mas ali na penumbra daquela igreja tudo era sério demais, principalmente pela presença do Pastor Jackson, vestido em roupas pretas e exibindo um semblante taciturno que não causava uma impressão muito favorável na opinião de Anne.

Ela nunca apreciara muito os sermões do Pastor Jackson, pois ao invés de aconselhar seus fiéis, ele mais parecia uma ave de rapina, fitando a todos com aqueles olhos pequeninos e ferozes, como se esperasse encontrar os piores pecados do mundo nas pessoas ali presentes,o que tornava o ambiente ainda mais pesado, fazendo Anne pensar que o Pastor mais parecia estar conduzindo um funeral do que uma cerimônia dominical. E como seriam os batismos? Ela não queria nem pensar.

Anne with an e continuação da sérieOnde histórias criam vida. Descubra agora