Capítulo XXI

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                                 Andávamos a mais de cento e cinquenta quilômetros por hora

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                                 Andávamos a mais de cento e cinquenta quilômetros por hora. Os meus cabelos esvoaçavam aos ventos, a fria brisa gelava a minha pele, e nada disso importava.

     A essa velocidade a paisagem era nada mais do que um contínuo borrão.

     Durante todo o caminho mantive o olhar fixo ao meu reflexo no porta espelho lateral. O sangue já seco do meu irmão por todo o meu corpo servia como um lembrete constante de que tudo aquilo fora de fato real.

     Damen mantinha suas mãos no volante, encarando a estrada com um olhar distante. Esteve assim por todo o caminho. O rosto pálido como papel. Não havia falando uma única palavra, e eu não tive coragem de força-lo falar, não depois do que havia acontecido.

     Não pude deixar de me sentir culpada por envolve-lo nos meus próprios problemas. Eu devia ter aceitado a sua ajuda na casa, e então o mandado embora logo em seguida. A obrigação de resgatar Tyler era única e exclusivamente minha.

     Neste momento, tudo o que queria era confortá-lo, dizer que estava tudo bem, que aquele disparo foi um movimento de autodefesa, mas a questão é que não fazia ideia por onde começar.

     Pelo retrovisor observo meu irmão no banco traseiro se inclinar para frente, ajeitando-se de uma maneira para ficar mais confortável.

     Ele também manteve-se calado desde que entrou no carro. Ainda estava um pouco grogue por causa dos fortes analgésicos que tomara no hospital. Damen e eu tivemos que inventar que Tyler havia caído da escada. E mesmo que ninguém tenha realmente acreditado, pelo menos assim, ele foi tratado pelos médicos.

     Quando nos aproximamos de casa, virei para encarar o meu irmão no banco de trás.

     - Tyler, vai na frente. Eu preciso de um momento a sós.

     Ele assentiu e desceu do carro.

     Damen e eu ficamos calados, assistindo-o atravessar a porta de casa até que um de nós dois reuníssemos coragem suficiente para ficarmos cara a cara.

     Era extremamente difícil olhar dentro dos seus olhos depois do que havia acontecido, mas acima de tudo, era preciso. 

     - Damen, eu...

     - Eu preciso ir – A voz era baixa, mas firme.

     Me virei para encara-lo.

     Ele estava com o boné cinza, porém agora o usava para esconder a maior parte do seu rosto nele.

      Damen não queria ser visto.

     Ainda assim, comigo exigindo sua atenção, ele continuou a encarar a estrada mesmo que não tivesse absolutamente nada para se olhar.

     - Por favor, eu só quero conversar com você.

     Ele olhou para mim, sem expressão.

     - Não. Eu realmente preciso ir. – Disse outra vez, displicente.

     Fiz o movimento para tirar a jaqueta que ele me oferecera no hospital, contudo sua mão tocou o meu pulso, impedindo-me.

      - Pode ficar.

     Quando subo o olhar ao seu, a sua mão se afasta do meu corpo como se de alguma forma eu fosse radioativa. O encarei por mais um segundo ou dois, esperando alguma coisa, qualquer coisa, mas Damen não me olhou mais nem uma única vez.

     Desci do carro e ele partiu. Deixando-me ali sozinha, plantada na calçada numa noite fria e nebulosa, da qual provavelmente nenhum de nós três esqueceríamos tão cedo.

    Enquanto eu o assistia desaparecer no horizonte, tentava retomar o fôlego e os meus pensamentos – ambos acelerados.

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