Atravesso a porta da frente, e ouço Olive e Tyler conversando. Eu sabia que era tarde, já que acabei tendo que tomar café da manhã na casa de James.A Sra. Ronald, sua mãe, não permitiu que eu fosse embora sem que participasse com eles do típico café da manhã da família Ronald.
E James me fez prometer que se eu tivesse com problemas de novo não hesitaria em ligar. Antes do seu pai sair ao trabalho, e eu pegar carona com ele, nós dois tivemos bastante tempo para colocarmos a conversa em dia.
É claro que não cheguei a contar exatamente o que vem acontecendo nestes últimos meses, pelo menos, não os detalhes. Mas contei a ele que não disse ao papai sobre a agência, e que noite passada, Tyler havia descoberto.
Atravessei pela porta de casa, Olive e Tyler ainda não haviam notado a minha presença.
Eu teria subido direto para o meu quarto, mas pude jurar ter ouvido o meu nome, e francamente, não consegui ignorar este fato. Não quando parecia que todo mundo parecia guardar segredos.
Permaneço onde estou, em silêncio.
- ... acabo sempre dizendo. – Era o meu irmão falando. Eles estavam na cozinha, e Tyler parecia estar mastigando. – Você sabe, Olive. Eu me preocupo com a Megan, não quero que ela tenha o mesmo destino da minha mãe. Ou que o meu, e acabe tão miserável.
- Eu sei que se preocupa. Mas você precisa acreditar nela. – Respondeu ela, me passando a impressão de que sabia exatamente o que estava falando, como se soubesse de algo que eu ainda não sei. E de repente, não consigo mais evitar de pensar quando é que meu irmão acabou tão próximo da minha amiga? – O que aconteceu com sua mãe foi um acidente...
- Não. – Disse ele de modo firme, mas seu tom de voz logo voltou ao normal. – Ela não sabe que a nossa mãe trabalhou na NSTA. A Megan era muito pequena para lembrar, mas eu me lembro de tudo, me lembro de cada canto daquele maldito lugar. – Ele pausa por um instante. – No início, assim que ela nasceu, a minha mãe não tinha com quem nos deixar, então nos levava junto ao trabalho.
- E por isso te machuca ver a sua irmã lá. – Disse Ollie, baixinho. Tão baixo que quase não pude ouvir as últimas palavras – ... trabalhou no mesmo lugar.
- Não é só por isso. – Tyler se levanta, sei disso porque ouço o pé da cadeira arrastar, e em seguida, passadas na cozinha. – É aquele maldito homem. – Eu podia sentir o peso da sua voz carregada de ódio e rancor. – Ele roubou tudo da minha família.
- Você está falando do Sr. Hunter?
- Eu o odeio mais do que tudo no mundo.
- Mesmo não sabendo o motivo, eu te entendo. Mas também entendo a Megan. Ela não fez por mal, ela nunca teria ido para lá se soubesse da história toda. E você, Ty, precisa admitir isso.
- Eu não suporto olhá-la agora. Porque saber que ela esteve lá nestes últimos meses me faz querer morrer. Ao mesmo tempo que saber que esteve na NSTA me faz lembrar da minha mãe, do quanto ela amava o que fazia até que ele roubou tudo, a fazendo infeliz nos últimos momentos de vida. Mas o pior de tudo é que aquele lugar, aquele homem, me faz lembrar da última vez que vi a minha mãe viva. Lembro que como se tivesse sido ontem, às vezes ainda tenho pesadelos com isso. Como se ela ainda estivesse aprisionada naquele lugar, perdida naquelas paredes, queimando sem parar por todos esses anos. – Tyler começou a arfar. – Naquele dia eu e meu pai as deixamos na frente da agência, voltamos apenas para buscar a droga do meu celular que deixei em casa. A última vez que a vi, a minha mãe estava sorrindo para nós, acenando enquanto segurava a mão da Megan.
De onde eu estava não conseguia ver Tyler, mas sabia que ele chorava. Porque eu chorava. Desesperadamente.
Meus ombros chacoalhavam, inclinando o meu corpo dolorosamente para frente. As lágrimas quentes e urgentes escorregavam pelas minhas bochechas, levando com elas tudo o que eu guardava dentro de mim.
A raiva.
A dor.
- Nestes últimos anos a Megan achou que eu a culpei, que a odiei, e a excluí. Mas a verdade é que eu me excluí, e a única pessoa que culpei foi eu. Porque... – Seu choro agora está mais alto, quase tão incontrolável quanto o meu. Tyler continuou a falar, e entre arfadas pesadas, continuei ouvindo. – Penso que se eu estivesse lá no lugar dela, da Megan, eu poderia ter feito algo e ajudado a mamãe. Talvez não teria deixado que a morte a levasse, e agora a nossa família não estaria se despedaçando se eu tivesse sido um pouquinho mais forte. E talvez, só talvez, por um segundo eu não me sentiria assim tão morto por dentro.
Sou obrigada a levar as mãos à boca, para não deixar escapar os soluços que se formaram dentro de mim, e que naquele momento eu não era mais capaz de segurar.Eu fecho os olhos.
E respiro.
- Não diga isso, Ty. Não foi sua culpa. Você era só um garoto, não se culpe por isso. Não faça isso. – Olive também estava chorando, eu podia perceber pela sua voz. – Só não faça isso.
- Agora Megan acha que sou o vilão. Eu só quero protegê-la e proteger meu pai. Agradeço muito por ter sido eu a ter a descoberto naquele lugar, e não o pai, porque ele ficaria arrasado. Não sei o que seria de nós se ele voltasse a se perder de novo.
- Como assim?
- Você não sabe, mas isso não importa mais. – Eu o ouço dizer. – Só o que importa é que eu tive que ir embora quando a Megan mais precisou de mim, e meu coração quase se partiu por isso. Mas o que fiz, eu fiz por nós, mesmo que papai não consiga entender, mesmo que Megan jamais entenda.
- Ty, eu sinto muito que você tenha passado por tudo sozinho.
- Mas agora você entende, não entende? Eu amo aquela garota mais do que a mim mesmo, e sempre vou amar. Mas existem coisas que ela não entende, coisas que talvez ela nunca entenderá.
- E você não pode contar para ela?
Tyler suspira.
- Não posso, porque é melhor assim.
- Eu não sei sobre isso. Não acho que guardar segredo das pessoas que amamos ajude de alguma forma, mas isso é entre você e sua família. Mas eu te digo que você não deveria ter a tratado daquela forma ontem.
- Como não? A Megan mentiu para mim, sou o irmão dela, quem ela devia confiar acima de qualquer coisa.
- Bem, talvez ela só precise ver mais desse irmão em você.
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Lua Negra
RomanceMegan Hayes é uma colegial como qualquer outra, ao menos era o que pensava. Para concluir o último ano e se ver livre da escola é preciso participar de um estágio obrigatório. Por azar ela acaba sendo enviada a NSTA - uma agencia de talentos. O pro...