- MIIIIIG – Ouço a voz irritante de Dominique assim que giro a maçaneta e fecho a porta atrás de mim. Tento impedir uma virada de olhos, mas é impossível. Porque por mais que eu estivesse curtindo trabalhar com ela nos meus intervalos, não poderia negar o fato de que a sua voz era fina demais.- Megan. – Respondi baixinho.
- O que você disse? – Ela continuava a gritar. – Venha, estou aqui em cima.
Dominique tinha uma sala quase tão grande quanto a do Presidente, a diferença é que a sala dele ficava em um andar que pertencia inteiramente a ele, enquanto ela dividia o andar com outras estrelas da agência.
Inclusive, o vizinho da esquerda era um astro do rock bem gatinho, Wes Walker. Entretanto, ele não ficava muito por aqui, e por aqui quero dizer na cidade, já que ele morava em Nova York e passava a maior parte do seu tempo dividido entre lá e as turnês.
Eu conheci o produtor dele, um cara muito simpático que me prometeu que assim que o Wes viesse para cá outra vez, iria conseguir um autografo dele para mim. Esta era a forma que encontrou de me compensar pelo dia que precisou de um cappuccino desnatado sob pena de perder o seu emprego e todo desnatado já havia acabado, exceto pelo último que eu acabara de comprar para Dominique.
É claro que lhe entreguei, eu conseguiria lidar com Dominique não conseguindo algo que pediu. Então ele me prometeu o último álbum autografado, o que já foi mais do que o suficiente para que Willa surtasse com essa possibilidade – porque é claro que eu daria o álbum para ela. Apesar dele ser um gato com todas as letras em maiúsculo, não fazia muito o meu estilo musical.
- O que diabos você está fazendo que ainda não chegou aqui?
- Estou indo.
Segui pelo corredor, até que encontrei a escada de madeira que levava ao estúdio.
Encarei-a como naqueles filmes de velho oeste. Este lugar é pequeno demais para nós duas. A verdade é que eu e aquela bendita escada tínhamos uma curta, porém infeliz história. Uma história da qual não estava querendo repetir, nunca mais.
- É para eu subir? – Questionei, mas desta vez, Dominique não se importou em responder. – Peguei o café desnatado que você pediu.
De dois em dois degraus rapidamente cheguei ao topo, levemente ofegante e consideravelmente orgulhosa por não ter prendido o meu pé entre um degrau e outro exatamente como fiz nas duas primeiras vezes que passei por aqui.
Porém, ao olhar para Dominique, engasguei com a minha própria saliva, e desta vez o problema não foi eu.
Nem em um milhão de anos passou pela minha cabeça que depois que chegasse ao topo da escada encontraria uma cena destas. Algo que me levou a congelar ali mesmo, na extremidade.
Talvez devesse dar meia volta e fugir, ou fingir que ainda estava no andar de baixo, fazendo qualquer coisa que não fosse estar aqui, com os olhos arregalados, boquiaberta e levemente desajeitada.
Isto porque de todas as maneiras que esperava encontrar Dominique Becker, eu certamente não imaginava que daria de cara com uma cena dessas.
Ela estava nua. Totalmente nua.
Dominique usava apenas um lenço amarelo enrolado ao pescoço. Um lenço era o único tecido que ela trajava, nada mais, nada menos, dá para imaginar?
Ela se movia ao redor do manequim, que ao contrário dela, estava devidamente vestido. Vestia um dos modelitos que dias atrás vi o esboço. Uma espécie de vestido com macacão. Não chegava a ser feio, mas definitivamente eu nunca usaria uma peça destas.
Dominique ainda não havia notado a minha presença, pois estava a assobiar cantarolando uma canção familiar, mas que de imediato não consegui identificar.
Ainda estou ponderando se devo dar meia volta e fingir que isso tudo não aconteceu quando seu olhar escorrega até mim, me provando que a situação poderia ficar ainda mais constrangedora do que eu pensei.
- Finalmente você chegou. – Observou ela, voltando sua atenção a sua obra. – Pensei que tivesse morrido na escada, como aquela outra vez. Eu já estava quase ligando para o papai mandar alguém atrás de você. Talvez chamar o SAMU.
- Quer... hãã, que eu saia para você ficar mais à vontade? – Perguntei, sentindo o meu rosto esquentar, sabendo exatamente o que isso significava. Bochechas vermelhas. Tão vermelhas quanto a cor do meu sangue.
- Não tudo bem, pode ficar.
- M-mas você está...
- Nua? – Completou ela, e pude sentir a ironia em sua voz, como se estivesse mesmo se divertindo com a situação e com o meu visível constrangimento. – É que tenho mais inspiração quando estou assim, sem roupa. Além do mais, meu prazo está apertado para terminar tudo para o filme do papai, então estou usando o que está ao meu alcance para atingir a meta.
Ela riu e ajeitou uma mecha de cabelo de volta ao coque preso no topo da sua cabeça.
- E Megan, eu sou modelo desde quando dormia num berço, estou acostumada a ficar exposta.
É, mas eu não estou acostumada a ver pessoas tão expostas.
- Tudo bem – Concordei, ainda sem graça. Se ela não se importava, eu também não deveria. – Você parece estar tendo um momento genuíno, então vou terminar o meu trabalho hã... lá no closet.
Dei mais uma olhada para a janela, que estava aberta. Me perguntava se alguém tinha passado por ali neste meio tempo, e dado de cara com aquela cena.
Será que Dominique não temia que tirassem uma foto sua? Bem, parecia mais que ela estava se exibindo do que qualquer outra coisa, então acho que não.
Dominique suspirou alto, largou a linha e agulha que tinha em mãos sobre a mesa, e caminhou até mim.
Fiz o maior esforço para não deixar que meus olhos curiosos escorregassem pelo seu corpo, não enquanto ela tivesse me encarando também.
E foi assim que sem querer acabei descobrindo uma das questões mais comentadas aqui na NSTA na última semana, e o que todos os caras do departamento de comunicação queriam desesperadamente saber: se os peitos de Dominique Becker eram mesmo falsos ou ela era a própria Afrodite encarnada.
Eu tive certeza quando ela estendeu a mão para o alto para alcançar o seu robe e eles não se mexeram nem um milímetro, indo contra todas as leis da física. Não havia dúvida.
Tive de conter um riso ao assimilar que Ollie ganharia duzentos dólares daquele cara com quem apostou.
- Você tem muitas coisas para fazer. – Disse Dominique, enquanto enfiava os ombros para dentro do robe. – Pedi para o papai te liberar pelo resto da tarde.
- Ah, ok. – Assenti, ainda pensando em Ollie. – Ele não me avisou.
- Sim, bobinha – Disse ela, finalmente deixando que a cortina da janela executasse sua função. – Porque eu falei com ele enquanto você estava a caminho.
- Ok.
- A sua primeira tarefa... – Ela abre um sorriso presunçoso enquanto desce as escadas. Estou logo atrás dela, me segurando ao corrimão, e eliminando drasticamente as chances de sofrer outro acidente. – Preciso que você me ajude a escolher qual as cores tema da minha festa.
- Sua festa?
- Sim, Mig. – Ela riu, me encarando por cima dos ombros. – A minha festa. Contagem regressiva para os meus 24 anos. Caso você ainda não saiba, a festa vai ser no sábado da semana que vem. A maior festa do ano!
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Lua Negra
RomanceMegan Hayes é uma colegial como qualquer outra, ao menos era o que pensava. Para concluir o último ano e se ver livre da escola é preciso participar de um estágio obrigatório. Por azar ela acaba sendo enviada a NSTA - uma agencia de talentos. O pro...