Capítulo XLIV

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                                 - Não repetirei novamente. – Ouço os gritos do Sr. Wellington no corredor, antes mesmo de adentrar ao estúdio. Engulo em seco e tiro meu celular do bolso.

              Hoje era dia de gravar Futebol das Estrelas, portanto, sei que eu estaria bastante atarefada e a julgar pelo tom de voz dele, creio que não sairia daqui tão cedo. Assim, tratei de ligar para Dominique e avisar que só poderia ajudá-la depois das 16h.

- O programa já vai começar e vocês estão de bobeira. – Ouvi ele completar.

      Desliguei rapidamente o celular ao ouvir a voz do chefe, não que ele estivesse falando para mim especificadamente, mas não quis arriscar.

      No instante que atravesso a porta, passando pela frente do Sr. Wellington, os seus olhos me seguem. Finjo não ter percebido, seguindo até o guarda-volumes para deixar minha mochila.

       - Megan? – Ele me chama.

Limpo a garganta uma porção de vezes e caminho cautelosamente a sua direção. Eu não havia mais arranjado encrenca depois daquele meu primeiro dia no palco, e queria continuar mantendo assim.

Já bastava o Sr. Becker que me detestava abertamente, não precisaria de outro para me torturar com ódio gratuito também. Além de que o Sr. Wellington era intimidador demais.

- O senhor me chamou?

Me aproximo o suficiente para reparar nas rugas de expressão que formavam ao redor dos seus olhos e lábios.

- Preciso que vá até o camarim daqueles dois palermas e mande-os imediatamente para cá. – A sua voz era áspera como sempre, porém havia algo mais hoje. Um tom diferente do qual não consegui identificar.

Percorro rapidamente o corredor em direção aos camarins, antes que Wellington decidisse me dar broncas como dava ao resto da equipe. No corredor passo direto pela porta que dava acesso ao meu próprio camarim.

MEGAN HAYES, dizia a plaquinha em letras caixa alta acima da porta.

Alguns dias atrás, só o fato de ler o meu nome ali me fazia feliz. Sei que é bobo, porém aquelas mesmas letras me fizeram sentir quase como se eu realmente pertencesse a todo esse mundo, como se tivesse encontrado uma chance de trilhar meu próprio caminho.

Mas agora tudo o que sentia era vergonha.

Vergonha porque algum dia valorizei tudo isso, admirei o trabalho que o Presidente fazia. Ainda mais humilhante que isso, era admitir que já acreditei que em algum dia, de alguma forma, eu poderia ser feliz na empresa do homem que roubou a minha família.

Tudo o que queria era gritar ao mundo sobre a farsa que o Sr. Hunter é. Queria que cada ser humano a face da Terra soubesse que o presidente da NSTA não tinha o caráter que todos achavam que tinha. Que na verdade ele tirou da minha família tudo o que podia, e ainda queria nos tirar mais.

No entanto, não poderia fazer nada disso. Não enquanto Damen não me mostrasse o que encontrou. Não enquanto não pudesse provar que o que dizia era verdade. Afinal, sem prova alguma, a minha palavra contra a sua não teria a menor chance. Então eu deveria ser paciente, e aguardar até que tivesse munição o suficiente para usar.

Para em frente a uma porta vermelha.

Observando uma placa ainda maior que a minha, com o nome dos irmãos fixa na parede. Jake e Josh, os gêmeos mais queridos da televisão. Ou pelo menos, era isso o anunciado no programa toda vez que entrávamos ao vivo.

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