Capítulo XLII

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                  Estava a caminho da agência quando recebi uma ligação do Sr. Becker, ou melhor, da secretária dele. E quinze minutos antes do horário combinado, cheguei ao local.

- Olá – Uma mulher vestida de vermelho dos pés à cabeça apareceu com uma prancheta nas mãos. Sua voz era simpática, mas ela não sorria. – Você é a Megan Hayes?

- Sim.

- Me acompanhe, por favor.

E começou a andar rapidamente entre as pessoas que trabalhavam no estúdio. Por onde ela passava, todos lançavam-lhe olhares.

Ela era absurdamente linda, não havia o que contestar. Também era nítido que já passara há muito dos trinta anos, ainda assim a sua beleza destacava-se mais do que qualquer outra jovem daqui. A roupa contornava a sua silhueta curvilínea, revelando um corpo quase atlético.

- Isto é o que você precisa saber antes de se encontrar com o Sr. Becker – Ela me entregou uma caderneta, e em seguida um cordão azul. – E este é o seu crachá.

Assenti.

- Obrigada.

- Seja bem-vinda à equipe. – Disse, antes de sair acompanhada por uma outra mulher que nos seguia. – À propósito, me chamo Sadie.

* * *

O trabalho em si era fácil, e todos da equipe eram gentis comigo. O mais difícil era quando o Sr. Becker estava por perto, ele fazia questão de deixar claro o seu descontentamento com a minha presença.

No mínimo, eu diria que ele me detestava. Então, quando acabava meus afazeres, ficava observando de longe até dar o meu horário.

Sadie me ajudava com o que eu precisava para me sentir mais acolhida, contudo, no fundo ela sabia assim como todo mundo que na verdade eu não merecia estar ali com eles, que eu não passava de uma exigência que o Presidente simplesmente impôs goela abaixo.

Depois que as gravações chegavam ao fim, o trabalho de recolher as vestimentas utilizadas no decorrer do dia era meu, e depois de recolhidas, as jogava dentro de um carinho.

Infelizmente, por esse mesmo motivo eu sempre passava pela sala do Sr. Becker. Tanto no início das gravações para pegar as roupas limpas e passadas, quanto no final, para deixar as sujas. E toda vez que eu passava por ali, podia vê-lo dirigir um olhar odioso em minha direção, resmungar um xingamento ou rir sarcasticamente.

Alguns dias de trabalho, e conheci Dominique Becker – a filha do meu mais novo chefe. Ela tinha vinte e poucos anos, e apesar de ter uma personalidade não muito louvável, comecei a passar mais tempo ao seu lado.

Dominique conseguia ser tão sozinha quanto eu, mas por um motivo completamente diferente.

As pessoas pareciam temê-la de uma forma que eu não conseguia entender. E por mais que todos do elenco fossem extremamente gentis comigo, ninguém além dela tinha coragem o suficiente para ficar ao meu lado quando o Sr. Becker estava mal-humorado, o que era praticamente todos os santos dias.

- Mig! – Ouço ela me chamar. – Mig!

- Meg – Corrigi novamente, mesmo sabendo que assim como as tentativas anteriores, essa também seria em vão. – Acho que você quis dizer Meg.

Dominique Becker é filha de Franz Kell Becker, um diretor francês e Juliana Santos, uma modelo brasileira. Além de modelo como a mãe, ela também é estilista.

Olive uma vez disse que ela era horrível como estilista, e por esse mesmo motivo é que os únicos trabalhos que conseguiu até hoje eram nos filmes que o seu próprio pai dirigia. Eu não poderia opinar muito sobre o assunto, não quando não entendia absolutamente nada.

Lua NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora