No dia seguinte, o nosso voo foi logo cedo. Eu não havia pregado os olhos a noite inteira, ainda mais depois do que aconteceu.Não conseguia parar de pensar do porque ele se afastara e foi embora tão abruptamente, jurava que por alguns segundos pude sentir a paixão de seus lábios.
Damen e eu não conversamos mais sobre isso, na verdade, não havíamos conversado sobre nada, nada que não fôssemos obrigados a falar, como: "o motorista está esperando" ou "está na hora de embarcar".
Ele não me olhou nem por um segundo, e no voo fez questão de ficar de costas. Damen não fez piadinhas idiotas, não me lançara sorrisos perfeitos, seu olhar agora gélido era tão diferente daquela vivacidade que seus olhos sempre ostentavam.
Não havia sido uma boa ideia tê-lo beijado, queria poder dizer que não sei o que aconteceu comigo, mas o fato é que eu sei. Sempre acabo destruindo tudo o que tinha com os meus impulsos, aconteceu isso com James e agora aconteceria com Damen.
A viagem seria longa, e constatei que eu precisava de uma distração para sobreviver a ela. Estico a mão para alcançar a minha bolsa, e neste exato momento passamos por uma pequena turbulência, que me sacode para cima.
Damen, que estava na poltrona da frente, se remexe com o barulho do diário da minha mãe caindo no chão.
Ele tira o cinto de segurança e estica seu braço até onde o diário foi parar, nos seus pés. Seus olhos deslizam ligeiramente pela capa, e sem mais, o estende em minha direção, sem sequer olhar em meus olhos.
Depois de inúmeras passadas pelo mesmo parágrafo pelo menos umas vinte vezes, percebo que não conseguiria ler nada, nem mesmo este diário que tanto amo.
Simplesmente não consigo me concentrar e absorver as palavras. Mas o que eu realmente não conseguia entender, era como o piloto conseguiu decolar o avião com o clima tão pesado que pairava entre Damen e eu. Isto sim era de desafiar as leis da gravidade.
Damen continuava inerte em sua poltrona. Meu coração sempre lunático, bate mais forte quando os dedos dele sobem até a cabeça. O movimento dura apenas dois segundos, mas tem força suficiente para fazer todo o meu organismo se revirar.
Fecho os olhos, desejando com toda as minhas forças que tudo isso apenas terminasse tão rápido quanto começou.
* * *
Desembarcamos no final da tarde, uma linha no horizonte coloria o céu em um espetáculo de tons rosa, laranja e amarelo. O sol já estava se ponto, e os pássaros inquietos se preparando para voltar para as suas casas exatamente como eu.
A agente do Damen já nos aguardava no desembarque, ela parecia ter se recuperado totalmente. Ótimo, pelo menos alguém de nós estava de bom humor.
- Megan, olá. – Ela apertou a minha mão e me lançou um sorriso simpático. – Muito obrigada por ter cuidado do meu garotão. – E virou-se para o Damen – Espero que você não tenha dado tanto trabalho.
Caminhávamos para fora da pista de pouso enquanto ela me pressionava para contar as minhas experiências da viagem. Damen mantinha-se afastado, nos acompanhando a alguns passos de distância, de maneira cautelosa. Como se eu fosse tentar agarrá-lo ali mesmo e obrigá-lo a me beijar outra vez!!!
Que completo idiota!
Assim que a Savannah soltou o meu braço, me despedi rapidamente e corri até o outro lado da rua para esperar o táxi que chamei. Cerca de três minutos depois, não mais que isso, uma BMW preta parou na minha frente.
O vidro da porta do passageiro abaixou.
- Você quer uma carona, querida?
Savannah já estava com os seus óculos de sol no rosto, e pelo visto havia encontrado tempo para retocar o batom nesse meio tempo, visto que seus lábios estavam bem mais cor de âmbar do que eu me lembrava.
Damen, ao seu lado, olhava para a direção oposta, ainda sem se dignar a olhar.
Ok, posso até ter me jogado nele – apesar de que, quem passou dias se atirando para cima de mim foi ele com suas cantadas idiotas e sorrisinhos provocantes – além de que, Damen poderia muito bem ter se afastado no segundo em que meus lábios tocaram os deles, ao invés disso me envolveu forte e me beijou como se o seu corpo precisasse de mim tanto quanto eu precisava.
- Não, obrigada. A minha carona está chegando.
- Ok, até mais, querida. E mais uma vez obrigada, você é um amor.
Sorri e acenei de volta.
* * *
Como qualquer criança que sofre um grande trauma, desejei que eu tivesse ido ao invés dela, pensei que se fosse eu, pelo menos mamãe poderia estar aqui, cuidando para que o papai e o Tyler não fizessem besteiras.
Fui acordada no meio da noite, ouvindo a sua voz me chamar. Desde então não consigo voltar a dormir, estou agitada demais.
Ultimamente tenho pensando muito nela, digo, na minha mãe. Também tenho sonhado com ela mais frequente do que o habitual. Nada concreto ou que faça o menor sentido. Apenas lampejos de seu rosto, de seus sorrisos e do som da sua voz.
Às vezes os sonhos me deixam felizes, mas na maioria das vezes não. Porque as chamas sempre apareciam, não importava o quanto eu tentava evitar, não importa o que eu fazia, nunca conseguia êxito, o resultado era sempre o mesmo.
Brutal e cruel.
E no fim, todos nós era consumidos por elas.
Não sei se é porque faltavam alguns dias para o seu aniversário de morte ou se é porque faltavam um pouco menos de dias para o meu próprio aniversário. A questão é que sentia falta dela em todos os aspectos, em todas as situações. Sentia saudade do seu abraço caloroso me desejando um feliz aniversário, dos seus conselhos, do seu ombro amigo.
Não a ter aqui comigo era um desastre, o ato de mais pura agressão contra o meu coração.
Todos sabem que perder alguém que você ama trata-se de um tipo de equação em que independente das variáveis o resultado é o mesmo, uma dor agonizante que te acompanhará por toda a sua vida.
Pelo menos, era assim que eu me sentia.
O pior de tudo era que não soube como lhe dizer adeus, nem antes, nem agora. Me agarrava a ela, a todas as suas memórias. Não sofria mais como nos primeiros anos, no entanto, o corte era profundo demais para continuar vivendo como se nunca tivesse existido.
Todos aqueles que eu amo tornam-se uma parte de mim, e quando perdi a primeira pessoa que amei, aquela que mais amei, inevitavelmente uma parte minha morreu junto. Talvez seja assim para todo mundo. Ou quem sabe, mesmo depois de tantas perdas, eu ainda não aprendi a lidar com nenhuma delas.

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Lua Negra
RomanceMegan Hayes é uma colegial como qualquer outra, ao menos era o que pensava. Para concluir o último ano e se ver livre da escola é preciso participar de um estágio obrigatório. Por azar ela acaba sendo enviada a NSTA - uma agencia de talentos. O pro...