Era madrugada quando cheguei em casa, estava tão cansada que a última coisa do qual me lembro é que sentei no sofá para tirar o salto que estava me matando, e ao que tudo indica acabei caindo no sono por aqui mesmo.
Neste exato momento, dormir estava acima de todas as minhas prioridades. E estou certa que se não fosse pela pessoa teimosa na porta da frente de casa, o meu desejo teria se realizado.
No entanto, eu estava tão decidida quanto a pessoa e por um momento, realmente acreditei ter vencido a batalha de fingir não ter ouvido.
Sorri presunçosamente, ainda com os olhos fechados, comemorando a vitória. Até que de repente, sou atingida em cheio por um peteleco.
Minha testa arde, e abro os olhos apenas o suficiente para descobrir de qual direção o ataque havia vindo.
Tyler estava sem camiseta, dormindo sobre uma coberta estendida ao lado do sofá, no carpete. Pacotes de salgadinhos e latas de refrigerantes vazias atiradas ao seu redor.
Sinto um odor peculiar que não consigo de imediato identificar o que era. Até que avisto um prato na poltrona do papai com o resto do que parecia ser queijo gorgonzola borrachudo e semiderretido. Se papai estivesse em casa e visse aquele prato, o meu irmão certamente seria um homem morto.
Mais outra série de batidas na porta, e Tyler, sem abrir os olhos, me xinga de idiota e promete que se eu não levantasse em dois segundos para ver quem nos importunava tão cedo, iria me derrubar do sofá e me arrastar pelo pé até a porta para me prender para fora.
Palavras dele, não minhas.
Eu não duvidava do potencial do meu irmão para fazer maldades comigo. Então quando ele terminou de me ameaçar, eu já estava a meio passo da porta.
Ainda sonolenta, girei a maçaneta. E tudo o que pude ver foram grandes olhos azuis, rímel borrado, e lágrimas para todos os lados.
Olive não me deu oportunidade de falar uma única sílaba, antes mesmo que eu pudesse processar o que estava acontecendo, seus braços já estavam ao meu redor, me agarrando enquanto suas lágrimas escorriam pelo meu ombro.
- Me desculpe – Era o que ela repetia sem parar. – Me desculpe. Eu deveria ter ido atrás de você. Mas tanta coisa aconteceu com a minha família, que não pude te ajudar.
Abracei-a mais forte, e por um momento precisei refletir sobre o que ela falava.
Acontece que o resto da minha noite de ontem havia sido tão mágica que parecia nada mais do que um sonho distante. Desde que entrei no carro com o Damen para sair da festa da Dominique, me esqueci completamente dos problemas... até agora.
Então eu soube exatamente ao que Olive se referia, e meu coração se quebrou por isso.
Ela sabia.Ficamos alguns minutos paradas em frente a porta exatamente assim. Com ela em meus braços chorando tudo o que seu corpo conseguia produzir de lágrimas.
Era triste demais vê-la tão perdida.
Pela visão periférica avisto Tyler em pé, em frente ao sofá, nos encarando sem saber muito o que fazer. É, nós dois estávamos na mesma situação aqui.
- Minha mãe pediu o divórcio. – Disse ela, ao se afastar o suficiente para me encarar. – E eu não soube o que fazer.
Limpo uma lágrima solitária que surgiu no canto do seu olho.
- Ollie, eu...
- Eu já desconfiava que a minha mãe estava aprontando algo, então quando a Dominique começou a gritar lá na festa, eu vi os dois saindo do jardim, e aí soube exatamente o que estava acontecendo. A princípio não quis acreditar, meu cérebro ficou tentando encontrar uma explicação plausível para o que vi, até que entendi que não havia nenhuma.
Ela soluçou, mas deu o seu máximo para segurar a vontade de chorar.
- Quando chegamos em casa, minha mãe nem esperou eu subir para o meu quarto, e disse que queria o divórcio. Papai quase caiu para trás, seus olhos logo me procuraram. Era como se ele já esperasse que ela pediria isso, mas se preocupava comigo acima de tudo. Enquanto minha mãe não teve nem a decência de esperar eu sair dali. Sei que ela começou a berrar e gritar, dizer que odiava a vida dela, odiava aquela casa e o papai. Depois ela simplesmente abriu a porta de casa e foi embora, sem nem olhar para trás, sem nem se lembrar de mim, a sua própria filha.

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Lua Negra
RomanceMegan Hayes é uma colegial como qualquer outra, ao menos era o que pensava. Para concluir o último ano e se ver livre da escola é preciso participar de um estágio obrigatório. Por azar ela acaba sendo enviada a NSTA - uma agencia de talentos. O pro...