Capítulo XLVIII (EXTRA)

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Na semana seguinte alternei entre ajudar Dominique, trabalhar na produção do Sr. Becker e gravar Futebol com as Estrelas.

Quanto ao primeiro item, só nesta semana consegui três figurinhas verdes, então estava muito contente. Em relação ao segundo, o Sr. Becker estava desaparecido desde o dia em que o peguei se esfregando em uma outra mulher.

Sadie avisou a todos que ele estava viajando a negócios. Uma viagem de última hora, disse.

Sinceramente, não pude deixar de pensar que o súbito sumiço tinha relação direta com sexta passada, quando descobri o seu segredinho sujo.

Provavelmente ele pensasse que eu fosse espalhar para todo mundo. Contudo, se o Sr. Becker tivesse gastado o tempo que passou me humilhando, me conhecendo, saberia que eu jamais faria isso, muito pelo contrário.

Muito embora uma parte minha realmente acreditasse que ele deveria ser ridicularizado exatamente como fazia com os outros. Eu sabia que não seria o certo, não por ele, mas pela Dominique e a sua família.

Cinco tentativas de contar a Dom sobre o que o seu pai anda fazendo quando não tem ninguém por perto. Cinco. E em todas as vezes eu não sabia nem mesmo por onde começar.

Tudo o que conseguia era gaguejar, suar frio e depois inventar uma desculpa mais ou menos convincente.

Ora, era uma situação complicada.

Dominique ficaria desolada, e poderia ficar muito brava comigo, ou ainda, era bem capaz de pensar que eu estava mentindo apenas para me aproveitar da situação.

Na melhor das hipóteses, eu perderia uma amiga. Na pior, estragaria um casamento, transformando para sempre aquelas pessoas.

E por mais que eu não quisesse uma responsabilidade como essa, o correto seria dizer a verdade mesmo assim, não é? Mesmo que isso destruísse a vida deles.

Eu já havia me decidido. Independente se fosse certo ou errado, iria contar. Não hoje, nem amanhã. Esperaria o aniversário da Dominique passar. Ela estava animada demais para jogar uma bomba dessas.

No entanto, logo após contaria o que acabei descobrindo sobre o seu pai, mesmo que isso significasse perder o meu trabalho ou até mesmo o início de uma amizade com ela.

* * *

Certa vez um li em um livro que a traição é como um nocaute súbito e preciso. Você não vê quando chega, não importa o quanto desconfie, nem mesmo quantas vezes já foi atingido.

O fato é que ninguém nunca está preparado para um golpe deste, nem na primeira ou na vigésima vez.

Ser traído por alguém que você ama é como levar uma facada diretamente no coração, um golpe que te dilacera instantaneamente e te faz sangrar tanto que por um instante realmente acredita que irá morrer.

Ninguém sobrevive a uma dor como aquela, é o que você pensa, então eu também não vou.

A dor te faz delirar, faz esquecer quem você é, e o que significa. Ela apaga o seu valor, e corrompe a sua alma. Mas bem lá no fundo você já sabia, apenas se recusou a ver.

Porque na maioria das vezes a mentira pesa bem menos do que a verdade. A ilusão em um primeiro momento é mais fácil de engolir, e depois, muito mais difícil de se afastar.

A dor do despertar é excruciante, mas também é o único caminho. É através dele que você abrirá os olhos e perceberá que na verdade nunca deveria ter se permitido ficar ali, atrás daquelas grades.

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