Lua Negra

Capítulo LXXXV

                      Não lembro exatamente há quanto tempo estou aqui, mas me mantenho dentro do quarto desde que cheguei.

     Não tenho mais forças para chorar, nem mais uma única lágrima para cair, tudo o que eu faço é continuar encostada contra a parede gelada, prostrada no chão, agarrando minhas pernas e mantendo-as próximas ao meu peito.

     Tudo o que faço é ficar paralisada, por muito tempo. Tempo o bastante para as lágrimas secarem e virarem sal sob a minha pele, tempo o bastante para minha garganta queimar, meus lábios secar, e meu coração se partir em cacos ainda menor.

     Acho que tudo o que eu tinha para chorar, chorei na volta para casa. Quando recebi alta papai disse que queria levar eu e meu irmão em uma viagem rápida. Eu pensei que ele queria apenas, sei lá, refrescar a mente com seus filhos. Como se de alguma forma quisesse mostrar para mamãe que apesar de tudo estávamos bem, e que havíamos sobrevivido.

     Não sei exatamente quando anoiteceu, mas o meu quarto estava tomado pela escuridão. Nem mesmo a luz da lua era capaz de tornar a iluminar, mas pior do que a escuridão de fora, era a escuridão que eu sentia aqui dentro. A escuridão que se alastrou aqui dentro do meu peito, que pouco a pouco estava reivindicando a minha vida, querendo se apoderar da minha alma.

      Uma batida ecoou pelo quarto.

     - Megan, está aí? – Era papai, do outro lado.

     Minha voz para.

     Meu coração falha.

     Não tenho força para responder, ou sequer me levantar. Então tudo o que continuo a fazer é ficar ali, encarando a sombra embaixo da minha porta.

     Torcendo desesperadamente para isso ser um pesadelo, um pesadelo mais longo do que o normal, mas só um pesadelo.

      Eu não conhecia ninguém deles.

      Nem papai, nem meu irmão.

      Muito menos eu mesma.

     - Acho que ela está dormindo, pai. – É a voz da Tyler.

     Então as sombras vão embora.

     Minha cabeça latejava. Eu estava tremendo, e pouco a pouco ruindo.

     Por muito tempo fui enganada não só por eles, mas por mim mesma. Porque me recusava ver aquilo que estava bem diante dos meus olhos. Porque os nossos olhos são traiçoeiros e enxergam apenas aquilo que desejam ver.

     O meu cérebro fez todo o trabalho sujo por mim, e os meus olhos foram os instrumentos perfeitos para a mentira perfeita, se cegando quando presenciavam algo que não entendiam. Enquanto a minha mente foi a parceira ideal para a elaboração dessa grande mentira, ela era obediente, e se auto sabotava ofuscando e dissimulando informações que eu jamais entenderia.

      Porque às vezes, a verdade nos é tão insuportável que tudo o que queremos, o que mais desejamos, é que nos entreguem uma mentira fácil de engolir.

     E por mais que passei meses tentado descobrir a verdade que todos pareciam saber, quando a descobri por inteira, quando não havia mais nada a ser descoberto, mesmo assim, tudo o que eu queria era que me entregassem uma nova mentira.

       Uma mentira melhor.

      Ou pelo menos uma que não estilhaçasse o meu coração de maneiras que não achava possível.

      Você não conhece sua família, a voz não parava de ecoar na minha cabeça.

     Você nunca conheceu nem a si mesma.