Capítulo XXV

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      Toc, toc.

     Abro os olhos, assustada.

    Percebo que havia passado um considerável período de tempo entre o momento que deitei na cama até agora. A porta se abre, e Damen estica a cabeça para dentro enquanto instintivamente cubro-me até o pescoço.

     - Desculpe te incomodar, mas descobri que o único banheiro está dentro do seu quarto, e preciso tomar um banho. Posso entrar?

      Precisei raciocinar as suas palavras por um instante; o cansaço estava me vencendo. E vendo que Damen não estava com um daqueles sorrisos perigosos, assenti.

     - Claro, fique à vontade.

     A porta se abriu por completo, e ele seguiu ao banheiro tão rápido quanto um raio.

     E sem me dar conta, caí no sono outra vez.

* * *

     Tenho a sensação de que algo está errado. Puxo uma respiração assustada e de repente, meus olhos se abrem. Eu estou acordada.

     Todo o quarto está escuro, mas há formas que não reconheço. Demoro alguns segundos para me dar conta que não estou em casa e que aquele não é o meu quarto.

     Olhos azuis, que agora parecem mais puxados para o cinza, estão focados no meu rosto, fazendo uma minuciosa inspeção.

     Damen está curvado sobre mim, sua mão parada no ar como se estivesse prestes me tocar. E assustada, as palavras saem dos meus lábios antes que eu tivesse qualquer controle sobre elas.

      - O que você está fazendo?

     Ele corre os dedos sobre pelo cabelo.

     - Acabei de sair do banho, juro que nem olhei para a sua direção. Eu ia sair tão rápido quanto entrei. – Ele dá alguns passos para trás, parecendo tão desconfortável com a situação quanto eu. – Mas ouvi seus dentes rangendo.

      Quando a palavra "banho" sai de seus lábios, evito ao máximo não deixar os meus olhos escorregarem pelo o seu corpo, mas simplesmente não consigo.

     E pela primeira vez percebo que ele não está completamente vestido. Usava apenas uma calça moletom cinza que ressaltava perfeitamente o caimento do seu quadril.

     - Você estava tremendo de frio... – Continuou, enquanto seus olhos também percorriam pelo meu corpo, repousando na minha camisola. – E você vestia apenas isso.

     - Hãã...

     Ah, céus.
     A camisola!

     Puxo os cobertores.

     Um rubor esquenta o meu rosto e agradeço aos céus que esteja escuro demais para que ele repare em qualquer coisa. Ergo-me para sentar, ainda agarrada aos lençóis.

     A única fonte de iluminação que atravessa o quarto nos resgatando da escuridão total, é a que passava pela brecha que Damen havia deixado ao passar antes pela porta.

     A luz era fraca, clareava apenas o suficiente para não nos transformar em meras sombras, mal sendo possível entrever algo além das suas curvas ou o contorno de sua silhueta. Ainda assim, não consegui evitar correr os olhos pelo seu corpo, não quando reparei o quão bem Damen ficava vestindo apenas e unicamente aquela maldita calça moletom.

     O seu cabelo úmido pingava sobre o seu tórax totalmente nu, e devo acrescentar, surpreendentemente malhado também.

     A cada movimento, seus músculos se comprimiam, fazendo com que eu saísse subitamente da serenidade do sono e o meu coração decretasse estado de calamidade.

      Eu sabia que ele malhava com certa frequência porque li em um dos seus contratos que deveria que estar em forma para gravar os filmes. E qualquer um que poderia vê-lo, diria que Damen Coleman era sexy, mas não tanto assim.

     Céus, certamente não tanto assim!

     Eu me pergunto como poderia existir alguém como ele? Sabe, confesso que era meio que injusto com todas as outras pessoas que não tiveram tanta sorte. Contudo, a pergunta que realmente me atormentava era como eu, Megan Hayes, poderia resistir a tudo isso?

     Esta não seria uma cena fácil de esquecer, de maneira alguma. Mesmo depois dos meus trinta anos, estou certa que continuarei com ela gravada na memória. Era como se Damen tivesse ganhado na loteria da aparência e o pior é que ele sabia disso, tinha total ciência do poder que exercia sob as pessoas.

     Ele me olhava atentamente com apenas uma sobrancelha erguida. Seu olhar intenso e seu maxilar rígido fazia com que as batidas do meu coração ficassem descompassadas.

     E quando pensei que as chamas fossem explodir dentro do meu estômago tomado de borboletas, pisco algumas vezes, a fim de que conseguisse deixar de encará-lo tão descaradamente.

     - Obrigada. Digo, por se preocupar comigo.

     - Não por isso.

     O cheiro de sabonete de erva doce bem como o frescor que acusava banho recente emanava de sua pele, invadindo não só o quarto, mas sobretudo os meus mais profundos pensamentos. Cada segundo a mais ao seu lado servia como combustível para inflamar o fogo que se acendia dentro de mim toda vez que ele estava perto.

     Em um determinado momento pensei que Damen diria algo. Seus olhos pareciam querer dizer, e por um segundo, seus lábios também, mas por fim ele pareceu desistir, dando as costas e seguindo rumo à porta.

     Eu poderia insistir no que quer que ele fosse falar, no entanto, não faria isso, não agora que Damen me deixara completamente livre para observá-lo.

     À medida que se afastava, eu me peguei observando cada centímetro dele. Meus olhos subiam e desciam fervorosamente, querendo devorar cada parte do seu corpo, que parecia ter sido esculpido pelos artistas mais trapaceiros de toda a história.

     O maldito era adornado com músculos na medida ideal, costas largas, braços fortes e tinha o abdômen mais impecável que qualquer homem poderia querer. Era impossível não encará-lo.

     Lábios carnudos, dentes brancos, sorriso perfeito, maxilar marcado, olhos azuis, cílios escuros, braços fortes, abdômen malhado. Todas características que isoladas não fariam tanto estrago, mas quando reunidas, não era de se admirar que Damen provocava um certo colapso por onde quer que passava.

     Atributos estes que foram minuciosamente posicionados com um único propósito, e o resultado era certo, e explícito. Damen Coleman era assustadoramente irresistível.

     Ele era o tipo de predador que seduzia a presa sem se quer precisar sujar as garras. E mesmo quando ela se desse conta, já seria tarde demais, pois agora se encontrava loucamente envolvida, perdidamente atraída.

     E foi ali, deitada na cama enquanto Damen se afastava, que tive certeza que deveria tomar cuidado com o que cobiçava, porque nem mesmo o coração feito do metal mais resistente de todo o mundo poderia sobreviver a ele. Damen Coleman era como um vórtice, e eu temia ser sugada tanto quanto desejava.

      - Megan. – Ele murmurou antes de fechar a porta. Meus olhos sobem do seu corpo para o rosto. Pelo canto da sua boca, avisto o que me parece ser um sorriso. – Espero que tenha colhido material suficiente para usar mais tarde nos seus sonhos.

     Damen fechou a porta, me deixando boquiaberta. Respirei fundo e me acomodei entre os lençóis. E aquela fora a primeira vez que adormeci pensando nele. E eu mal sabia que o meu tormento só estava começando...

Lua NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora