Capítulo LVI

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                          Eu estava rodeada de rosas e margaridas, tulipas e copos de leites. Em um jardim sem fim, abaixo do céu mais azul e limpo de todos os que já vi.

     Um arco-íris guardava o horizonte, uma promessa jamais esquecida. Estou distraída ao canto das aves e o voo das borboletas, quando ouço uma voz a me chamar. Uma tão familiar quanto o som da minha própria.

E é então que a vejo.

     - Mamãe!

     Eu corro até um dos cantos do jardim, onde a sombra revela uma forma. Elizabeth Hayes não havia mudado nadinha, e eu não perco tempo para me enroscar em seus braços.

     Ela ri ao som da minha risada, e me aperta forte enquanto me rodopia do ar exatamente como fazia quando eu era menor... e ela ainda era viva.

      Uma outra forma aparece mais à frente, e simplesmente não acredito no que vejo.

      - Spike!

      Ele vem correndo atrás de mim, com a língua de fora, cercando-me. Com latidos e abanadas frenéticas de rabo, Spike começa a saltitar de um lado ao outro como sempre fez quando estava animado ou queria atenção.

       Esfrego a mão em sua cabeça, recordando-me de quando eu completei meus cinco anos, e ganhei o meu primeiro e último cachorro.

       Spike parece tão animado em me ver quanto eu, e me dá um banho de lambidas antes de pular mais um par de vezes, e seguir de volta para trás das pernas da minha mãe.

       Mamãe usava a mesma fragrância doce da qual eu me recordava. Na realidade, ela não havia mudado absolutamente nada desde a última vez que a vi. Era a mesma mulher das minhas lembranças. Spike também, só que na forma de filhote atrapalhão.

      Ele até usava um laço no pescoço da mesma cor que o vestido que mamãe usava, amarelo.

       Eles estavam combinando.

       Estou distraída quando a minha mãe me surpreende, se abaixando para ficar à minha altura. Tudo o que eu faço é permitir, e com movimentos tão graciosos quanto a bailarina que um dia foi, ela se aproxima para sussurrar.

Eu aguardo, mas não ouço nada.

       Até que ela afasta.

       O sorriso se alargando quando seus olhos encontram aos meus. Eu não consegui ouvir nada do que disse, e por isso permaneço ali, lançando-lhe apenas com um olhar confuso.

       Mamãe se aproxima do meu ouvido novamente, repetindo mais uma única vez.

      - Não me deixe morrer. – É o que diz, antes de soltar uma risada apressada.

      Um trovão ensurdecedor faz com que eu olhe para o céu, e um clarão me tira a visão momentaneamente. Nuvens negras começam a surgir, e o sol em meio a elas, desaparece.

Quando olho novamente para a minha mãe, ela não está mais lá. Spike não está mais lá. Eu estava sozinha de novo, mesmo que eu ainda conseguisse ouvir à sua risada horripilante.

      Eu me viro.

      Não há ninguém.

      Ela está chamando o meu nome, mas não consigo encontrá-la. De repente, um raio cai no chão bem a minha frente, por pouco não sou atingida por ele.

      Ouço um chamuscar, e quando me viro, avisto o rastro onde o raio atingiu em chamas. O fogo avançando descontroladamente por todas as direções. Como se estivesse vivo, consciente do que estava fazendo.

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