Capítulo LXXI

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Papai me ligou de manhã cedo para dizer que voltaria para casa semana que vem. Ele perguntou se Tyler estava se comportando, e para a nossa surpresa, estava. Meu irmão não saia mais madrugada sem avisar, ou fazia festas para que pessoas que nem conhecia destruíssem a nossa casa.

Antes de desligar, também me pediu para substituir uma funcionária que havia faltado a semana inteira, e como papai não poderia estar lá para ajudar, eu precisava estar.

Então ao do meio dia eu vim para cá, no restaurante, ajudar no que precisasse. E até o início da noite tudo estava bem calmo, mas depois das dezenove horas as coisas começaram a ficar um pouco mais movimentadas do que o normal.

Bárbara, a gerente que substituía meu pai quando o mesmo não estava, me explicou que todos os sábados e domingos eles ficavam com a casa cheia. Principalmente porque papai teve a ideia genial de fazer uma parceria com um clube de futsal masculino do bairro que treinava há duas quadras daqui. Então todos aqueles que treinassem no clube, e depois viessem jantar, ganhavam desconto.

Admito que nunca tinha visto tanta testosterona reunida tudo em um único lugar, sei que era por causa do clube, porque além de duas mulheres na mesa 10, da Bárbara, de mim e da ajudante do cozinheiro, só havia homens.

A maioria dos eu conhecia, principalmente os que eram moradores antigos no bairro. Havia uma pequena minoria que não me era familiar, mas Bárbara parecia conhecer todos muito bem, chamando pelo primeiro nome cada um deles.

- Oi, Megan – Um dos garotos me chama.

E ao me aproximar percebo que é Romeo.

A minha história com Romeo era engraçada. Lembra aquela vez que a Regina Clark falou que eu me vestia como menino? Bem, por mais triste que seja, era verdade.

Eu tinha treze anos, havia perdido a minha mãe. Papai estava depressivo, e ninguém notou que eu estava na puberdade, e por isso espichava todo mês como se estivesse tomando suplemento – coisa que obviamente eu não fazia.

Demorei um pouco para entender que deveria assumir as rédeas da família, e nesse meio tempo, fiquei largada. Como as minhas roupas do ano passado já não me serviam mais, comecei a usar usava as roupas velhas de Tyler que encontrei no porão.

Eu literalmente me vestia como menino. Além do mais, o meu cabelo era curto, e sei que ter cabelo curto não quero dizer nada. Mas quando você se veste como um garoto, tem como melhor amigo um, joga vídeo games, não tem peito ou bunda como todas as outras garotas da sua idade, cabelo curto significava sim que eu era um garoto para qualquer um que não parasse para reparar.

Então um dia estava jogando bola com Jaime, ele nunca foi muito bom nos esportes, e eu não poderia culpá-lo, já que tinha um cérebro de dar inveja.

Num determinado dia chutei a bola, e ao invés de James rebater, ele se abaixou porque viu uma joaninha ou algo assim no asfalto e ficou com medo que ela fosse morta. Assim a bola seguiu até a cabeça de um garoto que atravessava a rua, eesse era o Romeo.

O garoto era cinco anos mais velho que nós, e quando a bola foi a causa do olho roxo que teve que carregar por quase duas semanas, bem, digamos que ele quis me matar.

Romeo correu em minha direção, atropelando James, a joaninha e quem mais estivesse na frente. Ele ia socar a minha cara. Já tinha me tirado do chão puxando a gola da minha camiseta, seu punho estava posicionado há poucos centímetros do meu rosto, foi então que ele baixou os olhos e viu que eu usava um sutiã de bolinhas.

Lua NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora