Capítulo LXXXVII

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- De 0 a 10 quão mal você está? – Willa, que estava do outro lado da linha, perguntou.

Juro que não atendi a ligação porque eu quis, na realidade o meu irmão praticamente me obrigou a isso.

Ele estava cozinhando para nós, papai saiu para resolver algo no restaurante outra vez, e a verdade é que depois que voltamos da nossa pequena viagem, nunca mais conversamos.

Quando não sou eu evitando-o, é ele, acho que nenhum de nós se sente totalmente pronto para encarar o outro. Então é por isso papai vive tendo compromissos quando chego do trabalho.

Sei que boa parte disso é porque não fiquei ressentida com o Hunter como ele queria que eu ficasse. Mas eu estava tão cansada dessas pequenas intrigas, tudo o que queria era me libertar do passado.

Bem, sobre o telefone... Ty estava na cozinha e eu no balcão fazendo a última tarefa de casa do ano, o telefone tocou e ele me mandou atender.

Eu respondi "nem morta", então ele me xingou e enquanto lavava as mãos sujas da nossa janta para poder pegar o telefone de cima da mesa da sala, ele acidentalmente derrubou um pouco do molho fervendo no seu braço enquanto me xingava.

Então me lançou uma fuzilada com os olhos, e eu sabia que se não atendesse aquele telefone nunca mais atenderia nenhum.

Fechei os meus livros, e corri até o telefone.

- Eu não sei. – Refleti um pouco sobre a escala. Nunca fui uma pessoa exagerada, nesse caso não iria dizer um número muito alto – 4.

- Quatro não é um grau tão impossível de se lidar. – Reclama ela, posso ouvir a sua TV ligada quase no último volume. – E você tinha concordado em sair com a gente. Você sabe o quanto Jamie vai ficar triste se não for.

- Eu ainda não acredito que vocês estão mesmo namorando.

- Nem eu. – Willa não pode dizer nada a não ser concordar. Afinal, em um dia eles queriam se matar, no outro estavam completando quase três meses de namoro. – A próxima vez que eu disser que nunca vou fazer alguma coisa, por favor, dê um soco bem na minha cara.

Eu ri, alto.

- Ok.

- Então é isso. Você vai e ponto. – Diz depois de um suspiro animado. – Daqui vinte minutos passamos aí buscar você e a Olive.

- Mas a Olive nem está aq... – Não termino de falar a frase e ouço a campainha tocar. Apresso-me até a porta, não me surpreendo quando vejo Ollie sorrindo. – A quanto tempo você está aí?

- Estava esperando o momento certo para fazer uma entrada dramática. – Ela passa por mim e segue até a sala. – Você sabe o quanto eu amo fazer uma entrada dramática.

- Suponho que seja ela. – Diz Willa, e só então me lembro que ainda estou segurando o telefone contra a minha orelha. – Até mais.

Eu sabia que elas não me deixariam tão fácil assim, mas realmente não esperava que Olive atravessaria a cidade inteira só para garantir que eu fosse. Ok, já devia esperar isso delas. Era exatamente o que minhas amigas fariam.

A questão é não é que não queria sair com elas, eu só não tinha cabeça para isso. Hoje era sábado, e amanhã não seria um domingo qualquer, mas o domingo que convidei o Sr. Hun... ops, o meu avô para vir na minha casa, e sem a permissão do meu pai.

Ele viria amanhã a noite, mais ou menos neste mesmo horário, e eu não fazia ideia de como proceder.

Queria poder ligar para ele, e inventar uma desculpa qualquer. No entanto não poderia fazer isso, primeiro porque não tinha o número dele. Sim, não tinha o número do meu próprio avô. Segundo, se eu fizesse isso ele saberia que na verdade só não queria ter que lidar com isso e bem, eu teria que mentir. E depois de tudo o que aconteceu decidi que daria uma basta de mentiras na minha vida. Não dá para lidar com elas, e já tinha problemas demais para lidar por causa delas.

Lua NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora