Capítulo LXVIII

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A primeira coisa que fiz quando cheguei na aula de literatura atrasada, às 7h12min, foi cutucar Willa com a ponta da caneta.

Ela estava sentada na carteira ao lado com a cabeça afundada dentro dos braços, e quando pressiono a caneta, ela pula. Seu estojo vai parar do outro lado da sala. E todos os olhares se voltam para nós, exceto o do Big Bob, que estava tirando a sua soneca costumeira.

- Srta. Sirhan, Srta. Hayes – O Sr. Pascal para a leitura para nos expiar por cima do livro. – Algum problema aí atrás que queiram compartilhar com o restante de nós?

Willa me fuzila com o olhar quando se levanta para pegar o seu estojo.

- Não. – Digo, prontamente. – Pensamos ter visto uma barata.

- Barata? – Uma garota lá da frente parece se desesperar, e um ruído estranho sai de sua garganta. Tento segurar o riso. – Onde?

- Não tem barata nenhuma aqui, Srta. Mitchell. – O professor explica para o grupo de meninas da ala direita da sala que se alvoroçam quando a palavra "barata" é dita pela segunda vez. – Agora podemos, por favor, voltar a leitura. É deveras importante.

O professor volta a ler.

Acredito que ele esteja lendo Odisseia, de Homero. Imagino que deva ser uma leitura interessante, mas independente do quanto me esforço, não existe a menor possibilidade de eu conseguir prestar atenção nas aulas do Sr. Pascal.

Isto porque o nosso querido professor de Literatura, vindo diretamente de Londres para cá, acredita que dar aula literatura é ler todos os livros clássicos que existem.

E por isso, há quase dez meses desde que começou o ano letivo, ele nos tortura lendo sem parar.

Ninguém presta atenção em sua aula.

Mesmo que você goste muito de ler, que é o meu caso, é humanamente impossível. Então alguns alunos dormem, outros mexem no celular, e enquanto isso o nosso professor ilude a si mesmo pensando que está realmente fazendo a diferença no mundo.

Sinceramente, é nestes ensolarados dias da aula de literatura que eu agradeço pelo o meu pai não ter que pagar pela minha escola.

- Willa.

- O que você quer? – Perguntou, com raiva.

Seu olhar fulminante foi suficiente para eu saber que não havia gostado nem um pouco de ser acordada por mim.

Mas como é que vou saber?

Digo, a aula só tinha começado há doze minutos quando entrei. Quem é que consegue ter um sono tão profundo em doze minutos?

- Você viu que Regina hoje sentou com o Travis de novo? – Apontei em direção aos dois.

Regina estava com a mão entrelaçada ao seu bom e velho namorado como se há dois dias atrás não estivesse se esfregando com outro há poucos metros daqui, no refeitório.

Tudo mundo viu quando na segunda-feira os dois estavam trocando saliva num cantinho.

- Será que eles voltaram?

Ela dá os ombros.

- É o que parece.

- Bem, Derek não parece se importar com isso também. – Digo, baixinho. Deslizando a atenção para o garoto sentado na minha frente, ele estava digitando em alguma espécie de blog que tinha. – Você deveria pedir o número dele.

- Eu tenho o número dele, todo mundo tem. – Ela revira os olhos negros.

- Eu sei. – Digo, num sussurro – Mas acho que agora que você realmente deveria tentar. Agora que todo mundo o viu com Regina, meio que ele começou a ter vida sociável. Enquanto eu ia embora ontem ouvi algumas meninas falando que até que ele era bonitinho, e elas podem querer....

- Shh! – Derek vira para trás e me encara com seus grandes olhos caramelos apenas o suficiente para me mandar ficar quieta. – Faça silêncio, por favor.

Olho para Willa, que segura o riso.

- É, Megan. – Ela diz de maneira sarcástica, colocando alguns fios de cabelo para trás da orelha – Faça silêncio, por favor.

E só então é que verdadeiramente reparo na minha amiga. E percebo que não só o cabelo dela estava diferente, mas Willa parecia uma outra pessoa. Ao contrário do cabelo preso que era uma marca registrada, hoje ele está solto, e seus cachos tomam forma, exalando beleza. Seus cílios pareciam maiores do que o normal, e seus lábios estão brilhando.

Quando Willa se vira para frente para escrever alguma coisa no seu caderno tenho a noventa e cinco por cento de certeza que ela está usando algum tipo de brilho labial, os outros cinco por cento pode ser que eu esteja dormindo, e na verdade isso seja um sonho.

Cecília Sirhan jamais se arrumava assim, para ela pessoas que cuidam da aparência são criaturas fúteis que não tem nada a oferecer além de seus corpos, palavras dela, não minhas.

Só o que eu me pergunto é, então porque diabos justamente agora ela decidiu virar uma dessas pessoas?

Lua NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora