Quando cheguei à agência encontrei Savannah na sua sala, rodeada por livros. Ao que parece ela não seguiria a minha ordem e tiraria o mês de folga como havia mandado.
Desde aquela noite, a noite em que a Megan quase morreu, eu não conseguia trabalhar, então não havia porque mantê-la por perto. Savannah precisava de férias, e eu precisava ficar sozinho.
Não cheguei a ficar surpreso quando a vi ali, trabalhando, afinal, eu a conhecia o suficiente para saber que ela faria o trabalho de qualquer jeito, mesmo que não tivesse ali para ajudá-la, mesmo que eu não quisesse saber de nada.
A primeira coisa ao me ver que quis saber foi da Megan, por mais triste que pudesse ser já havia virado um hábito me perguntar sobre ela, o que não tornava menos doloroso.
A segunda foi me dizer que havia cancelado e remarcado todos os meus compromissos desta semana outra vez, pela quarta vez.
Eu realmente não estava em condições para trabalhar, não enquanto não visse Megan em pé outra vez, não enquanto esse vazio em meu peito se alimentasse de toda a luz que um dia já existiu aqui dentro.
Eu não faço a menor ideia do que Savannah dizia as pessoas, de qual desculpa tem usado nestas semanas, mas também não dava a mínima.
Por mim o mundo inteiro poderia explodir se quisesse, não importava. Eu só vim até aqui para pegar meu celular e uns documentos que acabei deixando na minha mesa, documentos sobre a mãe de Megan que procurei na minha última viagem.
Ao passar pela porta da sala, sinto uma dor de cabeça extremamente localizada, algo que tenho sentido frequentemente. Era como se uma agulha perfurasse atrás do meu olho, e ficasse apenas apertando e apertando.
Eu estava perdendo o controle. Mas sabia exatamente o que era isso, o motivo era óbvio. O meu corpo estava entrando em colapso, protestando pelas noites de sono que enforcava por pura angústia.
Vou até o banheiro e lavo bem o rosto.
Por um tempo fico ali de pé, me encarando no espelho, mais precisamente para a pequena cicatriz na minha testa, muito próximo ao coro cabeludo, me recordando de quando isso aconteceu, o último resquício daquela noite...
Ouço alguma falação entre Savannah e uma voz feminina, mas ignoro. Continuo a me olhar no espelho.
E estou muito irritado, porque não vejo absolutamente nada. Não importe quanto eu procure, não importa quantas vezes olhe, ou em quais espelhos. Eu não consigo mudar o fato de que não enxergo mais o meu rosto.
Sou um homem sem face, sem família, sem vida. E agora sem a Megan. Sei que depois de uma grande perda as pessoas mudam, é algo normal. Contudo, não só mudei como também me perdi, estou perdido em algum lugar entre quem deveria ser e quem preciso ser, e agora temo que sem a luz que iluminava a minha vida, sem os sorrisos de tirar o fôlego, ou a voz que me fazia viajar, eu fiquei preso, aprisionado neste vale de trevas que é viver em um mundo em que a Megan não está, não completamente.
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Lua Negra
RomanceMegan Hayes é uma colegial como qualquer outra, ao menos era o que pensava. Para concluir o último ano e se ver livre da escola é preciso participar de um estágio obrigatório. Por azar ela acaba sendo enviada a NSTA - uma agencia de talentos. O pro...