Eu estava exausta, todos estávamos, e mesmo assim tivemos que gravar sete vezes a mesma cena.
Fred Lift, era o daquelas pessoas que não se contentava até que tudo estivesse perfeito. Mas o que realmente me importava era que estava orgulhosa de mim mesma, porque no final eu havia conseguido.
Este era o me primeiro trabalho fora da agência, e a verdade é que fiquei eufórica, um pouco apreensiva também. Tudo aconteceu por uma indicação de William Jarves, e ainda que estivesse relutante, acabei comparecendo à seleção.
Havia várias garotas excelentes, e por esse motivo estava certa que não seria escolhida, no entanto dois dias depois recebi uma ligação dizendo o contrário.
O trabalho não era do meu feitio, mas acabei aceitando principalmente pelo o cachê, mesmo que a ideia do meu pai acabar descobrindo me atormentasse, engoli as minhas inseguranças antes de aceitar e assinar o contrato.
O que ajudou na tomada da minha decisão foi o fato de que o comercial seria exclusivo do canal 87, um canal de variedades. E Bárbara, a gerente do restaurante do papai, explicou que no restaurante assinávamos o pacote básico, e portanto, este canal era bloqueado. Enquanto lá em casa nem Tyler ou papai assistiam a esse canal, então seria quase nula a probabilidade de um deles por acaso assistir.
Depois da gravação do comercial, Carrie (a garota que gravou comigo) me deixou em casa, mas não antes de pegar o meu número para mantermos contato.
Assim que passei pela porta de casa, papai remexeu-se na poltrona, virando a página do jornal que lia atentamente.
Me acomodei no sofá perto dele, e deixei as minhas costas relaxarem no encosto. Eu estava exausta, mais do que em qualquer outro dia desde que comecei a trabalhar na NSTA.
Papai nem se quer parecia ter notado a minha presença, continuava a ler o jornal como se não houvesse amanhã.
- Quer eu faça o jantar hoje? – Pulo de uma ponta do sofá para a outra, me aproximando.
Papai abaixou o jornal e levantou o olhar apenas o suficiente para me espiar de soslaio.
- Não, pode deixar que eu faço. Mas agora estou lendo como você pode ver. – Ele esboça um sorriso irônico – Será que você podia ir um pouquinho mais para lá? Está fazendo sombra.
Me afastei ao mesmo tempo que ele voltou para o jornal. Franzi os meus lábios e fiquei de braços cruzados, um pouco irritada até que alguém abriu a porta de casa.
Tyler carregava duas malas militares preta.
- Espero que isso não seja nada ilegal, Tyler. – Murmurou meu pai, com os olhos grudados em seu jornal. Mas pelo menos a presença de um filho ele morava.
- Não – Respondeu o meu irmão. – São apenas... uh, instrumentos do meu trabalho.
Papai assente, em silêncio.
Quando o meu irmão atravessa por trás do sofá em direção a cozinha, mesmo sem querer sinto um odor horrível.
Direciono um olhar altamente reprovador em sua direção e ao mesmo tempo noto que tanto as roupas de seu corpo quanto as malas que carregava consigo, estavam embarradas de lama e sabe-se lá o que mais.
Tyler fedia uma mistura de carniça e esterco com água não tratada. Uma onda de náusea me atinge assim que o cheiro se espalha por toda a casa, e sou obrigada a prender a respiração o máximo de tempo possível. O que claramente não foi o suficiente para evitar que quase me afogasse no seu fedor no instante em que os meus pulmões ficam sedentos por oxigênio.
- Onde diabos se meteu para estar fedendo tanto assim? – Perguntei, levantando do sofá, mas ficando por ali mesmo. Não tinha coragem para me aproximar.
A minha mão está apertando o meu nariz, e mesmo isso não é o bastante para tirar o cheiro de gambá do meu sistema respiratório.
Tyler abre a porta da geladeira. No segundo seguinte agarra uma lata de suco de interior, e enquanto a abre, lança um revirar de olhos na minha direção.
- É claro que não é da sua conta.
Encaro-o irritada, hesitante sobre o que fazer. Devo continuar tentando algum tipo de diálogo como esse brutamontes ou será que ligo direto para IML se encarregar?
Não conseguia parar de imaginar no que poderia ter dentro daquelas malas. Elas eram grandes o suficiente para caber muitas armas e maços de dinheiro como aqueles que encontrei naquela noite, ou um... corpo.
Será que o trabalho dele que papai não tinha coragem de me contar era esse? Traficante de armas? Ou um assassino? Isso explicaria muita coisa, inclusive os horários esquisitos que Tyler costumava sair para trabalhar.
Meus olhos se deslocam do meu irmão para o papai, me pergunto se ele não estava tendo algum tipo de crise asmática com o cheiro repugnante espalhado por toda a casa.
Mas quando minha atenção chega a ele, bem, acontece que não é exatamente como eu esperava. Ele estava lendo, absorto no jornal como se não houvesse odor algum que tornasse praticamente impossível respirar dentro da nossa casa.
Me aproximei do meu irmão, as malas pretas estavam ao seu redor no chão. Apesar da sua língua estar sempre afiada, desta vez, Tyler parecia verdadeiramente exausto. Seus olhos cansados me acompanharam até que meus pés parassem, entretanto quando cheguei próxima o suficiente dele, acabei vendo algo que eu não queria ter visto.
- O que é isso? – Peguei o seu braço. Sua mão estava manchada de uma tinta vermelha. Parecia sangue, cheirava a sangue. Era sangue. Minha voz tremeu, meu estômago embrulhou. – Isso é...?
Seus olhos se arregalaram tanto quanto os meus quando acompanharam o exato lugar que eu fixava assustada.
- Não é nada. – Ele puxou o braço, e com as malas presas nas mãos, me deixou sozinha com um turbilhão de pensamentos bombardeando dentro de mim.
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Lua Negra
RomanceMegan Hayes é uma colegial como qualquer outra, ao menos era o que pensava. Para concluir o último ano e se ver livre da escola é preciso participar de um estágio obrigatório. Por azar ela acaba sendo enviada a NSTA - uma agencia de talentos. O pro...