Capítulo LXXXII - DAMEN

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              Desde que Olive me ligou me dando a notícia fiquei impaciente. Sondando as horas em meu relógio de pulso excessivamente.

     Eu sabia que não dormiria tão cedo, mas apaguei as luzes para não ter que voltar ao interruptor mais tarde.

     Mesmo sem sono, atravesso a porta em direção a cama. A iluminação que vinha de fora atravessava as persianas horizontais, e era o suficiente para que a luz fosse mantida apagada.

     Amanhã a Megan receberá alta, sei que vai porque Olive me contou. E nem que os céus caiam e o mundo se parta, estarei lá quando ela sair. Estarei lá com o meu coração mais aberto do que jamais esteve. Estarei lá para abraçá-la, e nunca mais permitir que se afaste de mim, não deste jeito.

      Aos poucos os meus pensamentos vão se afastando, divagando. Eu vou adormecendo gradativamente, e pela primeira vez em trinta e poucos dias não preciso de remédio algum para obrigar o meu corpo a dormir.

* * *

      Sento na cama e a primeira coisa que faço é conferir as horas. Três horas e vinte e sete minutos.

      Era cedo, muito cedo para que os primeiros raios do dia despontassem no céu. Ainda assim não me sinto mais capaz de dormir. Já dormi o suficiente, estou ansioso demais para as oito horas da manhã. Eu estou contando os segundos, literalmente.

     Afasto o cabelo dos olhos, e me arrasto até a cozinha. Sirvo água de uma jarra de água sobre a pia quando um barulho na sacada chama a minha atenção. Me aproximo e afasto as cortinas.

     O gato preto da vizinha de cima passava por lá, exatamente como fazia todas as noites. Eu vivi aqui por muitos anos neste condomínio, e nunca soube disso, entretanto, depois de tantas noites em claro acabei descobrindo muita coisa sobre o local em que moro.

      Como por exemplo a senhora do andar de baixo tem o estranho costume de em todas as quintas-feiras voltar para casa depois das duas da manhã com os pés sujos de barro.

     Ou que o filho mais velho do síndico sempre escapa pela saída de incêndio logo após seus pais irem dormir para ficar conversando na calçada com uma garota de cabelos rosa.

     E observando através do vidro, permito-me divagar em pensamentos enquanto a minha mente torna-se tão densa quanto o manto daquela noite...

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