Capítulo XXII

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Eu matei um homem, é o primeiro pensamento que vem a minha cabeça quando abro os olhos naquela manhã, e também foi o último que veio ontem antes de dormir.

Damen puxou o gatilho, mas todos nós o matamos. Tyler, Damen e eu. Todos somos igualmente culpados pela morte de uma pessoa, e isso não é algo que possa ser apagado.

Domingo à noite papai me agarrou no que pode ser descrito como um abraço de urso. Seus olhos castanhos pareciam mais brilhantes desde a última vez que eu os tinha visto. Ele até mesmo havia feito a barba, e sem sombras de dúvida estava usando perfume – coisa que ele não usava desde que mamãe havia morrido.

- Como foi ontem sem papai por perto? – Ele tomou um gole do seu suco e lambeu os lábios antes de dar uma boa olhada ao redor, examinando a casa. – Ao que me aparece vocês não destruíram nadinha desta vez.

Seus olhos ficaram alternando entre mim e Tyler. Enquanto eu encarei o meu prato em cima da mesa, e mantive o meu olhar lá.

- Nenhuma resposta? – Papai terminou de mastigar, largando o garfo.

Percebi que o meu irmão estava ficando agitado. Tyler nunca foi muito bom em fingir, ele tinha um daqueles rostos sinceros, e por isso, vivia magoando-nos frequentemente, dizendo a verdade na lata, doa a quem doer.

Eu também sei que papai surtaria se soubesse a verdade, e por mais que contar o que aconteceu surtisse mais efeitos negativos ao Tyler do que a mim, agora que Damen estava envolvido não poderia expô-lo desta maneira. Não quando ele havia me ajudado a salvar a vida do meu irmão.

O problema da bagunça da casa resolvemos em um dia inteiro de arrumação. Poucas coisas se quebraram, e com sorte, papai não repararia em nenhuma delas.

- Foi tudo bem. – Respondi sucintamente.

Cutuco os ovos mexidos que preparei e me forço a terminar a refeição apesar de ter perdido completamente o apetite.

Não consigo deixar de pensar nos acontecimentos de ontem, e em como o Damen esquivou-se de mim. Não consigo se quer organizar os meus pensamentos, porque em tudo o que consigo pensar agora, é nele.

Em como estava tão deprimida sem ter notícias, em como me sentia culpada pelo o que havia acontecido e imaginando se eu poderia ter feito as coisas de outra forma. Pois agora ele corria o risco de perder não só o emprego, como o sonho da sua vida e tudo isso por minha culpa. Se isso fosse ao público, ele certamente seria pre...

Sacudo a minha cabeça, e ignoro tais pensamentos.

De certa forma meu irmão e eu tínhamos uma dívida com ele. E por mais que Damen me afastasse mais um milhão de vezes, eu jamais poderia deixar nada do que aconteceu naquela noite prejudicá-lo.

Me levanto com dificuldade e solto um longo suspiro. Retiro os pratos da mesa para lavar a louça suja, ao mesmo tempo que tento administrar todo o ódio que sentia pelo maldito estado de desolação em que me encontrava.

Tyler havia me evitado o dia inteiro, e parecia que ninguém além de mim queria conversar sobre o que havia acontecido. Toda tentativa de aproximação, o meu irmão dava um jeito de escapar de mim, então o papai chegou e não pude mais encurrala-lo, não sem que o nosso pai desconfiasse.

* * *

Era tarde da noite, todos na casa já estavam dormindo, logo eu também iria.

Antes de me deitar, estava apenas apagando as luzes e me certificando de que a porta dos fundos estava trancada.

Lua NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora