Capítulo LXXXVI

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     Eu estava jantando quando avisei ao meu pai e para meu irmão que voltaria a NSTA no dia seguinte.

     Ao contrário do que pensei, nenhum deles se opuseram, apenas Tyler perguntou se queria que uma carona amanhã quando ele fosse para delegacia. Eu disse que sim, e voltei a comer silenciosamente.

     Há mais ou menos uma semana, desde que voltei para casa não conversávamos muito sobre o que precisava ser conversado, na verdade, não conversávamos sobre quase nada.

      Papai e eu sempre fomos pessoas muito falantes quando estávamos juntos, mas agora o silêncio nunca foi tão presente. Nossa maior conversa se resumiu a uma manhã em que precisava ir para escola, e uma tempestade repentina impediu que eu saísse assim como o impediu que fosse trabalhar.

      Ficamos sentados no sofá, um de frente para o outro, esperando a ventania diminuir.
Ele me perguntou sobre a minha saúde, eu disse que estava tudo bem, então quis saber quando seria minha próxima consulta. Eu respondi que no dia seguinte, ele assentiu e permaneceu em silêncio até que a chuva diminuísse.

      Hoje foi o primeiro dia em que voltei para a agência. Ollie estava contente que apesar de tudo, decidi voltar. É claro que eu voltaria, o fato de descobrir que tudo o que conheci era uma mentira não mudaria o fato de que aqui era o meu lugar.

      Trabalhei até a tarde normalmente, como nos outros dias em que estive aqui, só que por mais que não pareça, a última vez que estive na NSTA fazia quase dois meses.

      Muitas coisas aconteceram comigo, aqui dentro do meu peito muita coisa mudou, mas por fora o mundo continuava exatamente igual.

      A vida é assim.

       Você está ferido, você está feliz, está apaixonado ou despedaçado, não importa, a vida vai continuar da mesma maneira.

     O tempo não para, mesmo que você pare. O tempo não volta, mesmo que implore. O tempo segue, e se você não o acompanha, acaba ficando para trás também.

       Eu estava no QG quando William Jarves aparece dizendo que o presidente queria falar comigo.

       Ele ficou apreensivo, como sempre ficava quando o chefão queria falar com algum de seus funcionários, começou a tagarelar sem parar sobre como eu deveria me comportar ou agir na frente do seu chefe. Em qualquer outra situação eu também ficaria nervosa, pensaria em mil e uma possibilidades para me chamarem.

      Mas a situação agora é diferente, muita coisa havia mudado mesmo que ninguém ainda de fora da família soubesse. E eu sabia que uma hora ou outra teria que conversar com ele, só não imaginava que teria que ser logo no meu primeiro dia.

* * *

      - A porta está aberta. – A secretária sorriu.

      Engulo em seco, e forço o meu melhor sorriso em sua direção, não podia deixar transparecer nada, ou o quanto encarar aquele homem me afetava.

      Giro a maçaneta e me enfio para dentro antes que mudasse de ideia e corresse para o mais longe dali, para o mais longe dele.

      Hunter estava virado para a enorme janela de vidro exatamente como estava na primeira vez em que o vi, mas de certa forma essa era a primeira vez que o via também, não como presidente da NSTA, mas como o pai de minha mãe... o meu avô.

      Lembro que quando eu era criança sempre quis ter avós, tive uma professora que apesar de não ter nem cinquenta anos tinha os cabelos grisalhos, e como eu não tinha muita noção de idade naquela época, a achava bem velha, e para mim esse fato somado ao que a adorava, era o suficiente para ela ser uma avó.

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