Capítulo LII

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Queria dizer que não sei muito bem como acabei vindo parar aqui, contudo, eu sabia exatamente o motivo.

William Jarves não disse uma única palavra, mas me encarava com um olhar furioso enquanto estava numa ligação importante.

Eu poderia ter evitando essa conversa, ou ao menos, adiado ao máximo, isso se tivesse tratado de ir trabalhar de uma vez ao invés de ficar mosqueado por este andar.

Tudo começou quando eu e Ollie (que acabou dormindo lá em casa) tomávamos um café da manhã demorado no QG. E quando eu menos esperava, Will passou pela porta como um touro.

A princípio simplesmente olhamos em sua direção, e voltamos a nos alimentar. Porque inicialmente sua presença não significou nada. Talvez ele não estivesse num bom dia, pensei.

A questão era que eu estava perdida demais em meus próprios pensamentos para que isso importasse.

Will não disse nada, nem se mexeu. Apenas ficou me encarando até que eu sozinha me desse conta do porquê ele estava ali.

Engasguei com o último pedaço. Só então entendi porque parecia que tinha levado um coice na cara e em consequência queria me dar um coice na cara também.

- Na. Minha. Sala. – Nunca entendi o real significado de um olhar fulminante... até ver o do meu chefe hoje mais cedo. – Agora.

Não sei se foi para minha sorte ou para o meu azar, mas assim que passamos pela porta do seu escritório, o telefone tocou.

Aparentemente era uma ligação muito importante. Então ele me mandou sentar, praguejando a vida antes de atender. E por mais que respondesse casualmente a pessoa do outro lado da linha, o seu olhar continuava grudado em mim, como se estivesse calculando cada um dos seus passos. Possivelmente ponderando quais as piores maneiras para me despedir.

Engoli em seco, outra vez.

Parecia que havia um caroço preso na minha garganta, um que não descia de maneira alguma. Eu precisava tomar água, talvez. Mas não diria isso ao William, não se quisesse prolongar ao máximo os meus míseros segundos de vida.

Em um determinado momento, por mais que o ar condicionado estivesse no dezessete e todos os pelos do meu braço se arrepiassem de frio, o meu corpo passou a transpirar descontroladamente.

No fundo eu sabia o que era aquilo.

Era nervosismo, puro nervosismo.

Tudo parecia um sinal apocalíptico para mim. O caroço preso na minha garganta, o suor descontrolado que talvez fizesse eu ter que jogar essa blusa fora depois que saísse daqui. Cada maldito detalhe parecia um aviso do que estava por vir, até mesmo uma coceira no dedinho do meu pé me torturava desde que entrei na sal sala.

Quando Jarves bateu o telefone no gancho, engoli em seco e cruzei os meus braços. Eu sabia o que viria agora.

O preço.

Finalmente pagaria por sábado.

O que eu disse ao Sr. Becker não seria barato, mas era um preço do qual estava disposta a pagar. E se pudesse voltar no tempo, faria outra vez, e mais outra depois desta.

Nada no mundo me faria arrepender por ter dito a aquele homem o que ele merecia ter ouvido há muito tempo. Nem mesmo o emprego que eu tanto amava.

- Pelo visto você teve um final de semana agitado. – Sua voz era casual, mas seus olhos expressavam o diverso, acusando-me silenciosamente. – Não é mesmo?

Lua NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora