Capítulo XLVI

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           O cheiro familiar da lanchonete da escola juntamente com a xícara de chá que aquecia as minhas mãos aos poucos me tranquilizava

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O cheiro familiar da lanchonete da escola juntamente com a xícara de chá que aquecia as minhas mãos aos poucos me tranquilizava. Em minutos, a professora Muertes me encontraria para contar o feedback que a NSTA mandou após eu ter concluído os meus dois meses de estágio obrigatório.

A verdade é que eu estava desesperada para saber, e ao mesmo tempo que pensava que trabalhara bem, algumas lembranças não muito boas surgiam em minha cabeça, me apavorando.

      Como na vez em que esbarrei sem querer na chefe do departamento de marketing, que fez questão de reclamar para Will em pessoa, e quando percebeu que ele não faria nada a respeito porque não se passou de um acidente, fez uma espécie de "boletim" informando o meu comportamento a alguns chefões do topo.

       Por sorte, eu não era a primeira que aquela mulher se estressava por motivos fúteis, então ninguém quis parar para ouvi-la.

       No fim, a única consequência disso tudo foi que quando ocorria festa no departamento de Marketing, eu passava bem longe, mesmo que somente nas comemorações deles tivesse aquele delicioso bolo de groselha que não havia em nenhum outro lugar e eu amava.

      De qualquer forma, também tive momentos bons, muito bons. Eu só não sabia como reagiria quando ouvisse o feedback. Não sei se estava preparada para isso, para ser criticada.

      Ninguém precisa vir até aqui me dizer que críticas devem ser encaradas como uma oportunidade de aperfeiçoamento. Acredite, eu mais do que ninguém sei disso. Entretanto, não conseguia encará-las como algo positivo, simplesmente não conseguia.

      Na vida real, quando você dá o seu melhor, críticas são como rasteiras repentinas.

      Prendo a respiração quando avisto a Sra. Muertes com uma pasta embaixo do braço. Ela fecha o guarda-chuva e percorre os olhos pela lanchonete.

       Eu aceno quando demora para me ver.

       Seu semblante não diz muito sobre o que eu poderia esperar, e isso faz com que o meu estômago embrulhe, mesmo que soubesse que ela sempre tinha aquela mesma expressão. Nunca dava para saber quando estava feliz ou triste, se daria uma bronca ou um elogio.

       A Sra. Muertes assentiu de leve, e em seguida, caminhou até o guarda-volumes.

       Desvio o olhar para a janela ao meu lado, a chuva lá fora só parecia crescer e crescer. E se continuasse assim, eu não fazia ideia de como iria chegar ao trabalho. Quero dizer, chegar, eu chegaria, só não tão seca quanto deveria.

       Prendo a atenção quando alguns alunos corajosos correm contra a tempestade, na tentativa de chegar ao estacionamento. Outras garotas ainda esperavam na parte segura, rezando para que a chuva parasse logo e não fossem obrigadas a estragar seus cabelos ou maquiagem.

       A maioria dos que estudavam comigo, já haviam ido embora. Os dois terceiros ano da escola foram liberados mais cedo para que pudéssemos tirar fotos da turma pelo campus para a formatura que se aproximava.

      O que ninguém contava era com esse clima para lá de louco, porque assim que saímos da sala, o sol brilhava como nunca, e tínhamos um dia perfeitamente quente. Então, em poucos minutos, nuvens carregadas escureceram todo o céu. Quase não deu tempo de encontrar abrigo antes que gotas grossas começassem a despencar do céu sem piedade.

      Eu estava tão perdida em meus pensamentos que não percebo quando exatamente a Sra. Muertes se aproximou. Só quando jogou os seus pertences sobre a mesa, e pulei da cadeira em susto, é que a noto.

      - Podemos? – Perguntou, puxando uma cadeira para se sentar.

      - Claro.

      Então ela abriu a pasta e mostrou cada um dos apontamentos. Naqueles longos e tensos 15 minutos, porque suspeito que não demorou muito mais do que isso, o meu coração não fez um único ruído, ficou quietinho, ouvindo atentamente cada palavra.

      - Megan – Seus lábios dizem o meu nome em um tom decisivo. – Preciso dizer...

       Minha visão se ajusta em seu rosto em total atenção, ao passo que seus olhos verdes me fitam da mesma forma.

      - Não importa o que você faça, desde que dê o seu melhor. – Então ela sorriu.

      Acredito que este fora o sorriso mais sincero que ela já havia me dado nos últimos dez anos em que passamos juntas, e aquela, foi a primeira vez que respirei normalmente nos últimos quinze minutos.

     Mas foi o que a professora disse em seguida que mudou completamente o meu dia, e talvez todos aqueles subsequentes a ele.

      - Eu não poderia estar mais orgulhosa.

      E de repente, nada mais importava. Eu não sou um fracasso, pensei. E pensando nisso, sorrio.

       Eu não sou um fracasso.

Lua NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora