Capítulo LXXII

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Estou tomando o meu café da manhã habitual, cereais e iogurte de morango, meu preferido, quando ouço um bater na porta.

Vou até lá e não tem ninguém, a não ser um envelope pardo no chão escrito "Hayes". Franzo o cenho, e levo o envelope para dentro.

- O que é isso?

Tyler surge na cozinha, dando estranhos pulinhos no lugar, enquanto me observa com curiosidade.

- Não sei. – Dou os ombros.

- Que isso, em Megan!– Disse, enfiando a cara na geladeira e como de costume, tomando um gole diretamente na caixa de suco. – Está roubando o coração do seu admirador secreto.

Escorrego o olhar em direção ao meu irmão mais uma vez, fuzilando-o, mas desta me atento aos detalhes. E não consigo evitar de ficar surpreendida percebo que ele estava exercitando.

       Sim, isso mesmo.

Tyler vestia um short preto e uma regata cinza simples, que agora encharcada de suor parecia mais escura do que realmente era.

- Você estava... hãã se exercitando? – Tento não parecer surpresa, quase consigo.

- Sim. – Ele empurrou o cabelo na testa para trás, e estou certa de que respingos de suor voaram para o armário. Eca. – Correndo, na verdade.

       Encara-o por um segundo, ou dois.

- Você está bem?

- Megan, não enche. – Tyler revirou os olhos, e correu em disparada quando o relógio em seu pulso apitou, ignorando o fato de que deixou a caixa de suco aberta em cima da mesa.

Estico meu corpo para expiar pela janela da sala, e através do vidro consigo ver meu irmão correndo em ziguezague no jardim de casa.

Estranho.

Muito estranho.

Minha atenção se volta para o envelope na mesa. Eu não acho que conhecia alguém com uma caligrafia tão bonita assim.

Se bem que Olive Soul era craque em imitar letras, e poderia muito bem imitar essa. No entanto, não existe um motivo normal para que ela misteriosamente deixasse um envelope na entrada da minha casa e não me avisasse.

Além de que, estamos no século XXI, ninguém mais faz isso, quero dizer, existem torpedos e várias redes sociais que fazem o mesmo de uma maneira muito mais rápida.

Olho para o relógio da cozinha.

Céus, são quase dez.

Eu havia prometido para Bárbara que estaria dez horas em ponto no restaurante para ajudar, levando em consideração que teria que sair mais cedo para ir àquela festa na casa do Sr. Hunter, o presidente da NSTA.

Agarro o envelope e o meto na minha bolsa enquanto mastigo o restante do cereal na tigela.

Jogo a tigela na pia já lotada de louças e anoto mentalmente que essa baderna não poderia passar de hoje.

        As coisas estavam quase caindo para fora do balcão de mármore, literalmente. E não seria para menos, afinal, esta era a soma de quase quatro dias sem lavar nem um único copo. Até porque eu estava muito ocupada com a escola, o trabalho e o restaurante, que não sobrara tempo para os serviços domésticos.

E papai não estava aqui para ajudar ou mandar o Tyler fazer, e o meu irmão babaca sofria de um tipo de doença em que acreditava que se ajudasse um pouco a sua mão iria ficar preta e cair.

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