03.

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As três primeiras aulas passaram voando e logo fomos para o intervalo. 

-Vão indo para a fila da cantina que eu vou passar no banheiro. -Falei e eles concordaram.

Segui o caminho até o banheiro, mas, é óbvio que o universo tinha que conspirar, para eu dar de cara com o mala. 

-Seus amigos caíram na real que você não passa de uma pobre fedida e te abandonaram? -Ele parou bem na minha frente. Sério, o que ele ganha sendo tão idiota?

Bufei.

-Vai arrumar alguma coisa para fazer, Bernardo. 

-Eu estou fazendo, insultando você. -Ele riu. 

-Uma coisa construtiva e que não faça o seu cérebro encolher. -Desviei dele e voltei a andar, até ele me segurar pelo braço.

-Ninguém me deixa falando sozinho. 

-Solta o meu braço. -Tentei ficar calma. Odeio quando mandam em mim e fazem coisas ridículas, como segurar o meu braço.

-Se eu fosse você seria mais educada, seus papais podem ser demitidos e vocês podem acabar embaixo da ponte. -Não é a primeira vez que ele me ameaça e sei que não vai ser a última, mas eu nunca vou abaixar a cabeça para ele. Os tempos mudaram e as pessoas estão menos tolerantes a pessoas babacas, bom, nem todos... Mas algumas já se curaram dessa doença que é pagar pau para ricos e bonitos. Hoje em dia caráter e bondade também são levados em conta para alguém ser, no mínimo, interessante. Para mim, o Bernardo só é babaca, rico e de boca fechada consegue ser bonitinho. 

-Seus pais são mais inteligentes e menos sem noção que você. Sabem quem somos e acreditam no nosso caráter, não vão demití-los porque o filho babaca e sem noção pediu. -Pisquei para ele, que por um segundo, ficou sem reação. 

-Bom, se eles não vão ser demitidos é mais legal para mim, tenho mais tempo para infernizar sua vida. -Foi a vez dele piscar e eu revirar os olhos. 

-Solta o meu braço, Bernardo. -Ele não o fez. -Agora. -Falei incisiva e ele soltou.

-Você é cheia de atitude, né? Legal, mas isso não te torna menos patética e insuportável. -Ele colocou as mãos nos bolsos da calça. 

Voltei a caminhar em direção ao banheiro, mas pude ouvir o mala dizer:

-Você não se encaixa aqui e quanto mais rápido perceber isso, melhor vai ser para todo mundo.  

Não posso mentir e dizer que as ofensas do Bernardo não me atingem. Eu fico chateada e um pouco deprimida com elas, ele está sempre jogando na minha cara que eu não sou rica, bonita e que moro na casa dos pais dele. 

Entrei no banheiro, fiz o que tinha que fazer e fui encontrar meus amigos na cantina. A Liara tinha comprado o lanche para mim e eu disse que pagaria o dela amanhã. 

-Ficaram sabendo da festa na casa do Bernardo na sexta? -O Caíque perguntou animado. 

Não tinha como eu não saber disso, afinal eu moro lá e escuto o Bernardo gritando da sua casa, pois é assim que ele fala com os amigos quando está bêbado... Gritando, o que impede, muitas vezes, o meu irmão de dormir. É um saco. 

-Eu com certeza vou estar lá. -A Flávia, mãe do Gael, tinha me oferecido um dinheiro para trabalhar nessa festa como garçonete e como não posso me dar ao luxo de recusar dinheiro eu aceitei. -Trabalhando de garçonete.

-Como? -Expliquei ao Caíque sobre como consegui entrar na escola, onde moro e minha condição financeira. -Meu deus, sinto muito. O Giovanne é horrível, mas pelo pouco que tive contato com aquele povo, o Bernardo consegue ser mil vezes pior.

-Nem me diga. -Revirei os olhos. Só eu sei o que eu passo na mão daquele lá. 

-Dá para a gente não falar deles? Está estragando meu Italiano.

-Italiano? -O Caíque ficou apavorado. -O nome disso é Bauruzinho! 

-Ah, não! Não vão discutir por isso, né? -Questionei, mas já era tarde, os dois estavam brigando.

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora