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-Soube que o Bernardo levou um cuspe na cara. -O Caíque disse implicando comigo, mas não consegui rir, ainda estava nervosa querendo saber se ele lembrava ou não disso.

-A Fabiana, depois de muita cachaça, pediu o Giovanne em namoro. -Arregalei os olhos com a fofoca. Todo mundo na escola sabia que ela era apaixonada por ele, mas todo mundo também sabia que ele não namora. Nesse ponto ele é pior que o Bernardo. O Bernardo já namorou algumas vezes, mesmo que namoros curtos, o Giovanne nunca nem tentou. -Ele a humilhou na frente de todo mundo.

-Ele não tem um pingo de consideração? Eles são amigos. -Falei.

Eu não gosto de ninguém daquele grupinho, mas eles entre si se gostam, né? Mas, mesmo assim, o Giovanne foi capaz de humilhar a própria amiga na frente de muita gente.

-O Giovanne só tem um amigo, o Bernardo. -O Caíque disse. Não sabia como ele tinha conhecimento disso, já que estava na cidade a pouco, mas como ele mora com o elemento, não discuti. -É sério... Esse garoto é muito estranho, mas do Bernardo ele realmente gosta. É a única pessoa que ele leva lá em casa e quando o Bernardo fala que vai chamar o resto do bonde ele recusa.

Que estranho...

-Tudo bem, né. -A Liara falou compreendendo aquilo tanto quanto eu.

A Liara contou outras fofocas sobre a festa, até não ter mais nenhuma para contar. Aproveitei que o Cae estava quietinho na areia brincando com os amigos e fui dar um mergulho rápido com os meus.

Não demorei muito dentro da água e logo voltei para a canga, deixando os dois na água. De longe consegui ver os amigos do Bernardo indo em direção ao ponto da praia que o povo da nossa escola costumava ficar, mas ele não estava no meio. Ele adora vir a praia e surfar, achei estranho ele não estar ali. Um calafrio percorreu o meu corpo.

Deitei de barriga para baixo, com o rosto virado para o meu irmão, para tornar mais difícil eu ser reparada. Felizmente, eles passaram direto.

-A Flávia disse para você dar um pulo lá quando chegasse. -Minha mãe disse sorrindo, assim que voltei a sala após tomar um bom banho. Ela sabia que eu estava empolgada por esse pagamento, pois teria dinheiro suficiente para o notebook.

Abri um sorriso enorme e saí de casa correndo.

Bati na porta e o Bernardo que atendeu. Fez uma cara de raiva assim que me viu.

Ele não esqueceu.

-O que quer aqui? -Sua voz foi mais assustadora do que normalmente é.

Perdi a fala por um breve momento, me sentindo culpada por ter lhe chutado.

-Olha, Bernardo... -Eu sei que ele me agride verbalmente quase todos os dias, mas eu não preciso me igualar a ele. -Eu...

Ele fez uma cara de tédio esperando-me falar algo que fizesse sentido.

-Desculpa. -Ele riu.

-Suas desculpas não me servem de nada, sua nojenta. -Ele aproximou seu rosto do meu e praticamente cuspiu as palavras. -Como disse ontem, é melhor tomar cuidado comigo agora. Não vou deixar barato.

-Eu...

-Se sua vida já era um inferno, pense no que ela será agora. Ninguém mexe comigo e fica livre. -Admito que fluiu pelo meu corpo uma vontade enorme de lhe dar um soco, mas eu não faria isso, não sou assim. Não lido com violência.

-Vim falar com a sua mãe. -Tentei não parecer assustada.

-Mãe! -O Bernardo gritou da porta. -A Anne. -Perto da Flávia ele fingia ser um garoto legal, embora eu saiba que ela não cai nessa, sabe o capeta que o filho é.

Ele me deu espaço e eu entrei, encolhida e com medo.

-Oi, meu amor. -A Flávia veio até mim me estendendo os braços para um abraço.

Nos abraçamos.

-Como está o lindo do Cae?

-Lindo? -Ouvi o Bernardo sussurrar. Quis revirar os olhos, mas iria parecer indelicado na frente da Flávia.

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora