-Se você sabe que precisa das duas para conseguir andar direito, por que veio com uma só? -Ele sentou em uma espreguiçadeira e deu de ombros.
-Estava com pressa para te ver. -Sua resposta me pegou de surpresa e fez com que eu ao invés de escorar as muletas na cadeira, as deixei cair no chão.
O Bernardo riu.
Não dediquei muito tempo pensando na sua resposta, pois isso só serviria para me deixar envergonhada. Sentei em uma espreguiçadeira ao seu lado.
-Você me lembra muito a Liara.
-Acho que só eu mesmo para conseguir ser a pessoa que você mais odeia e que também tem lembra uma das três únicas pessoas que você gosta que não são da sua família. -Ele ficou mesmo intrigado com essa minha frase. Não é a primeira vez que ele volta nela.
-Só você para muitas coisas, Bernardo.
-O que de mim te lembra ela?
-O jeito que você fala as coisas sem deixar a informação ser filtrada pelo cérebro. -Ele me olhou sem entender. -Você fala o que dá na telha. -Ele fez uma expressão de que tinha entendido dessa vez.
-Posso falar outra então? -Ele me olhou. -Aproveitar que você ainda está vermelha. -Ele riu.
Assenti, sentindo minhas bochechas queimarem.
-Eu senti sua falta.
Bom...
O que eu respondo?
Na verdade, antes de pensar no que responder... Eu também senti sua falta?
Minhas tardes ficaram muito vagas. Estudei, brinquei com meu irmão e ainda sobrou bastante tempo para eu fazer nada. Não sei se posso afirmar que senti sua falta, mas também não posso negar que pensei no que ele poderia estar fazendo no horário que deveríamos estar juntos. Isso é sentir falta? Ou é só falta de coisa melhor para ocupar meus pensamentos?
Para minha sorte (e azar de quem queria que eu lhe desse uma resposta) o Cae começou a me chamar loucamente para entrar na piscina com ele.
-Estou indo, meu amor. -Levantei da espreguiçadeira, tirei minha camisa e, então, o meu short. Olhando de rabo de olho para o Bernardo, percebi que ele reparava no meu corpo. Fiquei com vergonha.
Andei a passos largos para a borda da piscina e pulei, afundando na água. Quanto mais rápido entrasse na água, menos tempo ele me olharia. Demorei para voltar a superfície, esperando meu rosto voltar para o branco pálido de sempre sem bochechas rosadas.
Assim que voltei para a superfície, fui até o meu irmão e comecei a jogar água nele. Ele riu e, em seguida, começou a fazer o mesmo comigo. Depois de um tempo ele cansou e nadou até o outro canto, indicando que queria brincar sozinho.
-Por que a Flávia não vem ficar com a gente? -Perguntei nadando até a borda, onde me escorei e o olhei.
-Ela não está. Foi a casa da minha avó.
Arregalei os olhos.
-Sério? -Perguntei empolgada. Será que elas se resolveram? Sei que brigaram por causa do Hugo e não se falam há um bom tempo.
-Eu perguntei sobre minha avó e ela disse que não se falavam por causa do meu pai.
-Sua mãe te falou sobre ele? -Ele negou.
-Falei para minha mãe que ela não deveria ficar brigada com a mãe dela por um cara que não veio para casa quando o filho sofreu um acidente. Ela concordou e foi atrás da minha avó. Se tudo der certo, ela virá jantar aqui hoje.
-Tenho certeza que elas vão se acertar. -Sorri para ele que retribuiu, mas não muito confiante.
-Estou contando com isso.
O resto da minha tarde foi tranquila e eu dividi meu tempo entre brincar com o Cae e conversar sobre livros e filmes com o Bernardo.
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De repente tudo mudou
RomanceAnne é uma menina inteligente, amiga e dedicada que dá duro para conseguir ajudar os pais a cuidar do seu irmão mais novo. Ela, com a sua família, mora na casa da família Soares, onde vive Bernardo, um garoto mimado, sem noção e que não dá valor as...