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Já eram seis horas da noite e aquele povo não ia embora. E não estava contando as horas porque estava louca para ver o Bernardo, mas sim porque a música absurdamente alta que eles colocaram fez o meu irmão ter uma crise. 

-Eu não sei mais o que fazer, filha! -Meu pai falou desesperado. -Ele não para de chorar e querer bater no próprio rosto. 

Meu pai correu ao meu quarto para me falar. Eu fiquei com o Cae até umas cinco horas e assim que o meu pai chegou pedi para ele assumir, pois precisava estudar, mesmo com aquela música super alta e com uma dor no coração pelo meu irmão. Mandei várias mensagens para o Bernardo pedindo que ele abaixasse o som, mas, pelo visto, ele não estava com o celular. Ou só decidiu ignorar o meu pedido...

Durante a tarde havia alguns momentos em que o Cae se acalmava e brincava com os seus trenzinhos, mas depois se dava conta da altura da música novamente e voltava a se desregular. 

Joguei minha caneta na mesa e levantei da cadeira, muito irritada.

-Quer saber? Eu vou lá! -Saí do meu quarto batendo o pé. 

-Filha, não é uma boa ideia. -Meu pai veio correndo atrás de mim. -A Flávia não está aí.

-E por isso eles não podem ter consciência e abaixar um pouco a música?

-Filha, essa altura de música não atrapalha um neurotípico. -Parei e olhei para o meu pai. -Não acho que o Bernardo saiba que essa altura faz mal para o seu irmão. 

-Ah, não vem me dizer que você também vai passar a defender o Bernardo? 

-Eu não estou defendendo, estou sendo realista. Para e pensa um pouco. 

Respirei fundo e vi que meu pai tinha razão. Eu sempre evito falar do meu irmão com ele, não teria como ele saber.

-Eu vou pedir com carinho. -Sorri e meu pai retribuiu.

-Eu vou ficar com o seu irmão. -Assenti e sai de casa.

A última coisa que eu queria era ter que encarar aquele povo. Espera que eles fossem embora logo e que tudo se acalmaria, mas não era bem o que estava acontecendo. 

A cada passo que eu dava, mais nervosa e irritada ficava. Não havia mais ninguém na piscina. Eles estavam sentados nos bancos que tinham na varanda, conversando. O Bernardo parecia distante e dava alguns sorrisos quando via os outros sorrindo, seus amigos não pareciam notar.

Respirei fundo e cheguei próximo o suficiente para falar, ninguém reparou em mim até aquele momento.

-Boa noite. -Eles me olharam.

-Anne? -O Bernardo falou empolgado, mas eu ignorei seu chamado.

-Será que vocês podem abaixar um pouco a música? Está incomodando o meu irmão.

-Óbvio, desculpa. -O Bernardo falou, mas não era ele quem estava com o controle da música.

-Sério, Bernardo? -A Lavínia falou. -Tudo que te contamos não fez você mudar esse seu jeito simpático com essa daí? 

O Bernardo revirou os olhos, desesperado para sair daquela situação.

-Giovanni, me dá o celular. -O Bernardo pediu, estendendo o braço para ele, mas o amigo não fez menção de lhe passar o aparelho. -Agora, porra! -Arregalei os olhos com a atitude do Bernardo. Desde que ele perdera a memória, não o vi ser grosso nem ficar irritado. Foi como se eu tivesse vendo o Bernardo antigo, mas foi diferente, pois dessa vez ele fazia algo por mim. 

O Giovanni lhe deu o celular, assustado. 

O Bernardo não só abaixou um pouco a música como a tirou. Nesse momento deu bem para ouvir quando o Caetano gritou lá de casa. Foi como um tiro no meu coração, ouvir o sofrimento do meu irmão. 

-Eu quero todo mundo fora. -Ninguém se mexeu. -É serio! Eu quero que todo mundo saia da minha casa agora! - Ele alterou um pouco o tom de voz. -Toma esse celular. -Ele estendeu o celular para que o dono pegasse.

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora