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Bati na porta da casa da Flávia e logo ela atendeu, parecia que estava me esperando ansiosa atrás da porta.

-Oi, minha linda! -Ela sorriu ao me ver.

-Oi, Flávia. -Sorri.

Ela parecia mais calma.

-Conseguiu contato com um psicólogo? -Ela abriu espaço para eu poder entrar.

-Mesmo que eu tivesse desistido, foi a primeira coisa que sua mãe disse quando chegou aqui. -Dei uma risada.

-Tal mãe, tal filha. -Ela riu.

-Você pelo menos me deu "oi". -Ri também. -Consegui marcar uma consulta para agora, vou aproveitar que você está aqui e vou lá.

-Vá tranquila! Prometo ficar aqui até você voltar. -Sorri.

-Obrigada. -Ela me deu um beijo na bochecha. -Já me despedi do Bernardo, mas manda um outro beijo para ele.

Concordei. Ela saiu de casa e eu fui até o quarto do Bernardo, no andar de cima.

A porta estava aberta. Dei uma espiada nele antes de entrar.

Ele estava concentrado lendo "Harry Potter e a Ordem da Fênix" e parecia inofensivo, incapaz de ofender ou ser rude com alguém. Durante poucos segundos eu consegui esquecer o que ele tinha feito comigo durante toda a minha infância e adolescência... Esqueci todas as vezes que ele me humilhou na frente dos amigos, me fez de idiota em festas e falou mal de mim...

Durante poucos segundos...

Logo tudo estava de volta a minha mente e eu quis correr para longe dali. Não me importava se ele tinha perdido a memória e agora era um cara legal, isso não apaga tudo que ele fez. Não traz de volta meu computador novinho nem faz com que os babacas dos amigos dele parem de me zoar.

Você não pode ir embora, Anne... Prometeu a Flávia que ficaria até ela voltar... Prometeu que ficaria com o Bernardo por ela...

Merda... Por que eu tenho que ser uma pessoa incapaz de quebrar uma promessa? Por que eu tenho que pensar tanto nos outros?

Respirei fundo afastando os pensamentos e entrei no quarto.

-Essa é nova para mim... -Ele levou um susto e me olhou sem acreditar que eu estava realmente ali... Somos dois... -O Bernardo lendo.

-Você de livre espontânea vontade aqui também é algo bem surpreendente. -Ele fechou o livro e colocou ao seu lado.

-Não é bem livre es... -Se eu vou ter que passar minha tarde aqui, é melhor não ser reclamando de estar aqui... -Pensei que poderíamos ver um filme, algo que você goste, vai que ajuda com a memória...

-É uma ótima ideia, mas como vai saber do que eu gosto? -A porta do armário ao lado da porta do seu quarto tinha vários DVDs e, bom, se está em seu quarto ele deve gostar.

Abri a porta de uma maneira dramática e ele ficou de queixo caído com a quantidade de filme.

-Por que eu tenho tanto DVD se existe tantas plataformas de filmes? -Dei de ombros. -Tudo bem, então... Escolhe um aí.

Passei o olhar rápido por todos os filmes e a maioria era de ação. Não achei que seria um bom momento para ver filme de carro ou de gente apanhando. O único filme que não continha tanto soco e sangue era Harry Potter e foi o que eu escolhi.

-Já que está no quinto livro, podemos ver o primeiro filme. -Ele sorriu com a minha escolha.

-Quer dizer que o primeiro filme que eu vou me lembrar de ter visto vai ser Harry Potter? -Assenti descontraída.

-Até você recuperar sua memória e lembrar que foi Sharkboy e Lavagirl. -Coloquei o DVD no seu videogame e liguei a televisão.

-Como sabe? -O olhei sem entender. -Como sabe o primeiro filme que eu vi?

-Bom... -Para que eu fui abrir a minha boca? Por que tinha que dizer isso? -Antes de entrarmos na escola éramos amigos. -Dei de ombros.

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora