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Depois da comida chegar, arrumei em uma bandeja e fui servir. Assim que passe da porta em direção a varanda, vi muitos olhares se voltarem para mim e a maioria ria de mim. Consegui ver a Liara e o Caíque em um canto e, de repente, fiquei com mais vergonha ainda. Eles estavam lindos e arrumados e eu estava suja, cansada e de uniforme. Eles me olharam com pena e raiva do mala.

Ergui a cabeça e andei por entre meus colegas de turma.

-Salgadinhos? -Estendi a bandeja para eles.

-Está linda, hein Anne. -Um garoto falou zoando atraindo algumas risadas.

Fingi não me importar.

Caminhei pelas pessoas oferecendo salgadinhos até a bandeja ficar vazia e então voltei para dentro e coloquei mais salgadinho. Tive que aturar piadinhas à noite toda que só pioraram com o passar do tempo e com o aumento de álcool no cérebro.

-Eu não acredito que o Bernardo fez você usar isso na frente de todo o colégio. -A Liara falou irritada.

Estendi a bandeja para eles.

-Eu não consigo comer nem beber nada de tanta raiva que eu estou. -Ela disse.

Olhei para o Caíque.

-Ah... Eu também não. -Ele parecia enjoado.

-Olha, não quero falar disso, só quero que essa noite acabe. -Era capaz de eu cair no choro se falasse a respeito.

Os dois concordaram.

-Eu estou nauseado de ver como esse povo é nojento.

-A gente falou que essas festas não eram bem frequentadas. -A Liara disse olhado para um garoto bêbado que tentava agarrar uma menina a força. Ela o empurrou na piscina.

Um outro garoto vendo a cena gritou:

-Piscina liberada! -Várias pessoas pularam na piscina de roupa e tudo, sem se importar com o sereno e o vento.

-Eu não achei que seria tão deplorável.

-Agora sabe. -Falei. Vi que o Bernardo me olhava irritado, eu estava conversando e não servindo. -Preciso ir.

Não esperei uma resposta e saí de perto deles, claramente não estavam se divertindo. A Liara só veio por mim, às vezes ela conseguia me livrar de algumas humilhações. Por ser uma das pessoas mais ricas do colégio, alguns a respeitavam. O Caíque veio por ser novo na cidade e queria saber qual era da festa e também veio me dar um pouquinho de apoio. Mas a verdade é que eu não queria nenhum dos dois ali, não queria que me vissem ser humilhada pelo Bernardo e seus amigos... Não queria a pena deles.

A festa continuou rolando e as pessoas ficavam cada vez mais bêbadas, um garoto até vomitou no gramado. Já ia dar uma da manhã e os convidados não pareciam ficar satisfeitos ou cansados, continuavam comendo, dançando e/ou beijando.

Caminhei para a cozinha e vi uma versão bêbada do Bernardo caminhar até mim. Ele me puxou para trás de uma árvore, fazendo a bandeja cair no chão com vários salgadinhos. Se alguém viu a cena não falou nada.

-Me solta, Bernardo. -Ele me segurava pelos dois braços.

-Sabe, eu não sei por que a minha mãe não demite seus pais. -Ele falou enrolado, estava completamente bêbado. -Ela deveria contratar pessoais mais novas e sem filhos. Você e seu irmão vivem aqui de graça. Vocês dois moram na minha casa, usam a minha piscina e em troca de que? Você até que serve de garçonete de vez em quando e é bem divertido tirar sarro da sua cara, mas o seu irmão? Sério aquele menino de dez anos não faz nada para minha família.

-Bernardo... Me deixa ir... -Eu não ia discutir com um bêbado, me recuso a isso.

-A verdade, Anne, é que eu não aguento mais olhar para a sua cara. Você sempre com essa pose de boa menina, que nunca fez nada errado. -Ele passou a mão pelo meu braço e eu senti um arrepio nada agradável. -Você me dá nojo. Saber que você mora tão perto de mim e estuda na minha escola é nojento. Pessoas como você não deveriam viver perto de pessoas como a gente.

Eu já tinha aturado tanto insulto hoje que eu simplesmente não aguentei mais. Infelizmente minha resposta não foi gritar ou xingá-lo, mas sim chorar. Sim, eu chorei na frente do Bernardo. Estava cansada de ser xingada e menosprezada. Finjo não me importar, mas a verdade é que adolescente não quer ser aceito pelos demais? Que adolescente não quer ter um ensino médio agradável sem ser xingado e sem ser motivo de nojo para alguém?

-Ah, para de chorar, querida. -Ele forçou uma voz de compaixão que desse sentimento nada transmitiu. 


Boa noite meus amores, como vocês estão?

Gostaria, como sempre, de saber o que estão achando, então me contem!!!

Beijinhos e até sexta

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora